O MODUS OPERANDI DAS ORGANIZAÇÕES DENTRO DAS FAVELAS – RODRIGO PIMENTEL E JOEL PAVIOTTI
0Eh, é muito louco isso aí. A gente tem um apagão de dados sobre isso, né? Brasil. Sim, temos apagão porque é invisível isso, né? Isso é invisível. O, o, o bandido quer território, território, território, né? Vender com é um plus e que normalmente ele tá até terceirizando. Ele chama equipe, ó, coloca tua aí e me dá um dinheirinho aí disso aí. Isso. Ele é rende da boca. Mas o que ele quer é território, porque território ele vende o que ele quiser. Ele vende mercadoria roubada, ele vende cigarro, ele coloca o sinal de de internet que ele quiser, ele coloca o bujão de gás, o preço que ele quer. Então o território hoje e aí porque por isso que eu falei contigo lá na sala de estar sobre barricadas. A barricada é não é só para evitar a ação policial. A barricada começou no Rio de Janeiro, mas hoje ela já tem em algumas capitais do Nordeste. Salvador já tem Florianópolis, já tem algumas barricadas e o bicho tá pegando lá em cima da Catalina também. Diz a barricada é o bandido dizendo pro morador: “Daqui para trás é tudo meu. Você tá no meu feudo”. Fisicamente, né? E e eu escutei uma pesquisadora, até pedi pro Joel dar uma lida na no trabalho dela de doutorado. Comecei já, viu? É, é ela, ela é uma pesquisadora, cara, que ela nasceu, ela é doutora em em em sociologia, antropologia, e ela nasceu numa favela do Comando Vermelho. Então, ela é cria, ela tem muito mais legitimidade do que eu e que o próprio Joel para falar do assunto. E ela diz que aquele aquele aquelas barricadas pequenininhas que o morador levanta o ferro para tirar o carro é extremamente humilhante, mas é pro morador entender que aquele território não é dele, né? Aqui quem manda su Porque tem barricadas gigantes Uhum que são de trilhos, né? Onde nem o blindado caveirão passa, ele ele é obstaculado. E tem a barricada pequenininha e tem barricada em periferia onde a polícia não atua. Ou seja, a barricada não é para evitar a ação policial, é para dizer pro morador: “Você é meu é meu vassalo, né? Eh, você eu posso tomar o teu dinheiro do do IPTU, do aluguel”. A dinâmica é tão difícil de entender. Eu eu conversei com um morador de um bairro do Rio de Janeiro, da zona oeste, que um bairro de milícia, tá? A milícia simplesmente eh não deixa a companhia de luz ir lá fazer a medição do relógio. Falando, esses dias atrás os cara mandou uma mensagem para mim com o negócio. Os cara fez uma assembleia de um condomínio. Eu te vi, eu vi que os cara pôs em assembleia para pagar 1200 conos pros tras do movimento para poder voltar à luz a energia. Então você tá pagando pr os caras não cortar energia. Ó, o público de vocês acredito que boa parte é de investimento, né? Eles gostam, mas não, mas eles gostam desse assunto também. Mas vamos falar de uma questão econômica, né? Igual o olha só a fase. Eu acho que é interessante isso a gente colocar porque é pouco falado, mas tem que ser mais falado. Pó não é todo mundo que usa, certo? Internet usa sim, todo mundo. Então concorda comigo que se o cara fizer uma conta assim, se eu vender internet, que é só se apostar dos cabos, eu vou ganhar mais dinheiro do que vender pó no varejo. Mais facilidade, né? polícia enche menos o saco, não deixa o cara entrar aqui, etc. É um roubo de energia, é um roubo de fios que é muito mais fácil de você controlar, certo? Bota lá o CVNET, certo? Certo? Agora, e isso vai movimentando uma economia informal dentro dos lugares que t esses territórios dominados, que chega o momento e que você não consegue controlar mais, porque a economia ela já tá funcionando de modo sistemático com várias atividades plurais, que é um exemplo pesado disso daí que a a já estou, a polícia já tá investigando, o Ministério Público é uma investigação do Ministério Público do Ceará com o Rio de Janeiro. Manoi, que fita. A favela da Rocinha fica do lado São Conrado, na zona sul. Tocatilá é um problemão absurdo. Pimentel sabe disso. 77.000 habitantes. Que que o Johnny Bravo, que é o principal chefe de lá, tá fazendo? Construindo apartamentos, Arbnbs do crime, resortes, para alocar chefes do crime de outros estados. Então, o que que ele ofereceu pros caras? Ele ofereceu várias mansões para chefes do Comando Vermelho do Ceará, que vieram para cá e trabalhavam de home office mandando matar os outros. Então o cara tava aqui, ele falava: “Mata o cara aí, joga futebol com a cabeça dele que eu quero ver, tal”. E ele tinha a mansão que o cara ficava do Ceará e um prédio pros seguranças dos caras. Era R$ 100.000 por semana para você ficar dentro desse prédio. A polícia do Ceará descobriu porque um prefeito tava fazendo, um candidato a prefeito tava com envolvimento lá. Os caras fizeram uma investigação lá, vieram para cá, a polícia foi pegar os caras, mano, saiu umas 150 pessoas caminhando assim com mochila, gentitor de tudo. Então, o crime ele tá oferecendo resorts para você trabalhar em home office. Ele tá falando, tem imagem disso na nas redes sociais, porque o o era uma operação do BOPE com a Polícia Civil, com o Ministério Público de Janeiro, com a polícia civil do Ceará que veio apoiar. Eh, porque o governador do Ceará, o Elumano do PT, ele descobriu óbvio, eu só consigo combater o crime no meu estado se eu for o Rio de Janeiro prender essas lideranças, porque as mortes no Ceará, as as ordens partiam do Rio de Janeiro, né? Então, o Elmano deve ter ligado possivelmente pro Cláudio Castro, ó, me ajuda aí. Possivelmente essas ligações acontecem via Ministério Público Estaduais e via polícias civis que estão muito integradas. Aí a operação foi lançada na Rocinha e muita gente criticou o fato do BOP não ter eh cercado e matado esses bandidos. Ele fala 150, mas os colegas do BOP disseram para mim até talvez 300, né? Nossa. E era uma área de mata atlântica lá em cima da rocinha que tinha uma equipe do BOP infiltrada na mata com fuzis de sniper e tal, mas se o BOP tentasse alguma coisa ia morrer muita gente, ia ser uma tragédia no Rio de Janeiro. Que bom que você tem essa essa essa que bom que o BOP também teve essa lucidez. Eles iam descer ali pel aquelas ruas de São Conrado, iam invadir hotéis, talvez não sei o que ia acontecer. Iam sequestrar um monte de carro na rua ia morrer também. Um monte de policial também ia morrer policial. Mas o colega do BOP fez uma avaliação. Olha, não dá não. E e aí a imagem foi, acho que foi exibida na Rede Globo. E muita gente, por que que a polícia não fez nada? As mesmas pessoas que criticam a polícia quando faz, por que que não fez? Sabe porque não dava para fazer? Senão vai sair morte para todo lado. Vai ser imprensa também, né? Vocês lembram quando teve aquela, não sei, no começo dos anos 2000 que o exército subiu os morros e a gente viu um monte de a Globo filmou helicóptero vindo bandido 2010, né? 2011, né? 2010 os bandidos fugindo. E teve uma uma cena muito assim que foi muito divulgada que acho que era até uma Hilux, mas era uma caminhonete, os bandidos correndo tal, a caminhonete saindo, cara, o helicóptero vivo, era da vila Cruzeiro para pro complexo da alemão. Então, e aí falaram: “Pô, mas por que que a polícia não sentou o dedo ali? Matou todo mundo?” Só que aí tem a questão da imprensa e não é tão simples fazer isso. Ele tinha uma dificuldade. Eu fui lá nesse local 250 vezes. Eu fui, eu fui muito louco isso. Inclusive, o livro do Eduardo, do Rogério Greco. Acho que do Eduardo Betini também. Sim, do Betini também. Do Betini também. E e e do Monteirinho também, que é um policial também que escreveu sobre esse assunto. Esse esse Agora, o que o que é muito doido que tu não sabe, eh, lembra dessas imagens? O tiro caía. Você via alguns tiros caindo, né? Uhum. Tinha uma equipe do BOPE do outro lado do vale. O fuzil 762, quando você atira para cima, o projétil faz uma parábola. É. Então tinha um policiais do BOPE numa que ela chama de jogar o tiro, né? Exato. Tinha uns policiais do BOPE vendo televisão aqui e coordenando o tiro pela televisão porque o Globocop tava sobrevoando. O Globocope tinha uma câmera muito poderosa, tava muito longe o Globocop. Mas se o helicóptero da polícia, era o Adones, o piloto à época, tentasse realizar um sobrevoo ali naqueles bandidos, o helicóptero seria batido. Você imaginar ali 200 fuzis atirando num num esquilo, né, que era o helicóptero da polícia, a aeronave ia abaixo. Então assim, ali não tinha capacidade bélica da polícia para agir naquele momento ali. Essa imagem eu tava ao vivo no RJPV. Ah, eu fiquei, eu fiquei ao vivo nesse dia. Eu entrei no jornal às 2as da da 10 da manhã, saí eh, no outro dia, fiquei 17 horas ao vivo. Uma c foi uma cobertura jornalística do Brasil. Eu conversei com gente que tava fugindo, tava lá fugindo. Conversei com essas, é, conversei com pessoas que estavam lá fugindo fugindo e esse cara falou: “Meu amigo, quando o estado chega e resolve fazer mesmo é tanque em cima de negócio, passando por cima de tudo, você bota a barricada, derruba aquela barricada como se fosse papelão e tal”. Ali é a força do estado se fez presente. É, mas tu imagina o desespero, ó. Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, aliado ao governo federal, que era que era a transição de Lula para Dilma, né? Beltreme no auge. É, Beltreme no auge. As olimpíadas chegando. Se a gente não resolvesse aquela [ __ ] a gente tava sinalizando ao mundo que não tinha menor condição de fazer uma olimpíada no Rio de Janeiro. Então, a decisão foi muito rápida. Eh, a Marinha do Brasil emprestou os blindados. Aqueles blindados não eram do exército brasileiro, da Marinha, né? Da Marinha. E e o BOP invadiu a gente, eu tava ao vivo aplaudindo porque eu pensei assim, dessa vez a gente resolve a [ __ ] do problema do Rio de Janeiro.