O outro CÉREBRO escondido no seu CORPO

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Você chega em casa do seu trabalho 
em uma sexta-feira à noite. Você abre a geladeira, olha as 
comidas, mas decide pedir um lanche. Você toma o seu banho e, quando sai, vê um 
convite para ir a uma festa com alguns amigos. Depois de pensar muito pouco, você 
decide fingir que não viu o convite. Você pega o seu lanche, senta em frente à TV, coloca alguma série e tenta prestar 
atenção em meio à sua ansiedade. Será que você deveria ter ido na festa? Por que você escolheu pedir esse lanche gorduroso? Golfinho é diminutivo do quê? Você sente que, pelas últimas horas, em meio ao 
cansaço, você não estava no controle de si mesmo. Talvez um conjunto de bilhões de micro-organismos 
dentro do seu corpo manipularam o seu cérebro de forma sútil, pra você evitar seus 
amigos e pedir comida gordurosa. O seu corpo tem um cérebro 
escondido em meio ao seu intestino. E você nem sabe que ele existe. Essa é a sua microbiota. E ela pode mudar mais do que você imagina. Se você quer saber a verdade, siga o Coelho Branco. A sua microbiota são os trilhões de 
microorganismos que habitam o seu corpo, mas que não são você e que não tem o seu DNA. E esses seres são vírus, bactérias e até 
fungos que habitam todas as partes do seu corpo, que vão da sua pele até o seu intestino. E a ideia por um tempo era 
que toda essa microbiota vivia em harmonia com o nosso organismo. Mas a verdade pode ser mais complicada. Talvez os trilhões de seres da sua microbiota tenham um papel crucial em como você pensa, o que você deseja e o que você faz na sua vida. A microbiota é quase um outro cérebro 
escondido dentro do seu corpo, mas não um segundo cérebro, porque esse apelido já foi 
atribuído ao sistema nervoso entérico. Então o microbiota 
é tipo o terceiro cérebro. Mas então seriam esses micro-organismos 
os verdadeiros donos do mundo? Mas antes de entender a verdade, você precisa 
entender que a microbiota coloniza várias partes do nosso corpo e não está em só um lugar. Tem algumas partes que são mais famosas, como a 
microbiota intestinal. Mas a microbiota inteira é todo tipo de bactéria, levedura e vírus no seu 
corpo. Imagine que o seu corpo é como uma cidade, as suas células são as pessoas e a 
microbiota são os animais que também habitam a cidade. A microbiota do 
intestino está sendo muito estudada há anos pela ciência e ela tem algumas 
coisas bem peculiares. Uma delas é que cada pessoa pode ter uma 
microbiota única e exclusiva, quase como se fosse uma 
impressão digital microbiana. A sua microbiota pode ser diferente da minha e a de uma pessoa na África pode ser 
diferente de alguém na Itália. E isso acontece porque o que nós comemos, onde nós vivemos e até os nossos genes 
influenciam o que compõe a microbiota. Mas por que o intestino é tão 
importante nessa história? Só antes, deixa eu te contar como 
transformar sua carreira em 2025. Por que a microbiota do intestino não só 
digere comida, como também produz vitaminas, regula o sistema imune e 
conversa com o seu cérebro? É, essa parte me pega um 
pouquinho. Parece mentira, mas existe uma via de mão dupla entre o intestino 
e o cérebro, chamada de eixo intestino-cérebro. Vamos começar por preferências alimentares. E faz sentido que o seu intestino esteja 
envolvido em decidir o que você gosta de comer. Por exemplo, você já se perguntou 
por que algumas pessoas adoram doces, enquanto outras preferem salgados? Ou por que você odeia brócolis, mas o seu amigo 
ama? A resposta pode estar na sua microbiota. Desde que nascemos, somos programados 
para gostar de sabores doces e salgados. O que é uma estratégia evolutiva para garantir 
que a gente coma alimentos calóricos e nutritivos? O gosto amargo, que muitas vezes nós associamos 
a algo ruim, é um alerta para evitar substâncias potencialmente tóxicas, mas 
a gente não ouve isso e bebe café como se fosse água. Mas conforme 
nós crescemos, as nossas experiências alimentares vão moldando as nossas preferências. 
Por exemplo, eu aprendi a amar sushi, mas eu não suporto melancia. Nem todos 
sentimos os sabores da mesma forma. Existe uma grande variação individual 
na percepção do paladar, o que pode influenciar diretamente os nossos hábitos 
alimentares. Parte disso é genético, mas uma outra parte é microbiota. A nossa língua tem 
receptores para os cinco sabores que conhecemos. E os alimentos, por outro lado, têm substâncias 
como açúcares, minerais e ácidos que atuam como mensageiros químicos. Quando esses mensageiros se ligam aos receptores 
da língua, surge a experiência do sabor. Só que esses mesmos receptores 
da língua também podem estar no intestino e eles ajudam a controlar 
funções como o apetite e a digestão. E as bactérias da microbiota do nosso intestino 
produzem e liberam substâncias que podem se ligar nesses receptores e, fazendo 
isso, elas influenciam essas funções. Colocando isso de outra forma, as bactérias 
que habitam o seu intestino podem influenciar o seu processo digestivo de uma forma 
bem parecida com a comida que você come, ou seja, elas podem influenciar o 
seu paladar. E aqui vai um exemplo Anorexia nervosa é um transtorno alimentar 
caracterizado por baixo peso corporal, restrição da ingestão de alimentos, medo de ganhar peso, distorção 
de imagem corporal e aumento da atividade física. Em um estudo 
com mulheres com e sem anorexia os autores observaram muitas diferenças na 
composição bacteriana e nos componentes virais na microbiota entre quem tinha e quem não tinha 
anorexia. Quando os cientistas transplantaram a microbiota das mulheres com anorexia em 
camundongos, eles começaram a ganhar peso mais devagar e até expressaram os genes que 
suprimem o apetite. E você talvez até já tenha ouvido falar da ideia de 
transplante de microbiota, por um nome um pouco menos legal e menos 
chique, que é o transplante de fezes. A associação vem do fato de que nós estamos 
pegando o micro-organismo do intestino saudável e colocando essa microbiota 
saudável em um outro intestino, o que às vezes leva à associação 
com fezes, o que é um exagero. Mas o que não é um exagero é o 
quão impressionantes os resultados são. Mudanças de comportamento 
devido a mudanças na microbiota, sem nenhum tipo de intervenção direta no cérebro ou órgãos que normalmente 
associamos ao comportamento. E também existe uma conexão entre microbiota e 
algumas doenças metabólicas, como por exemplo, obesidade. Pessoas com obesidade tendem a ter 
uma microbiota desequilibrada, com mais bactérias que promovem inflamação e resistência à 
insulina, que é um fator de risco para diabetes. A complexidade da microbiota intestinal tem 
sido usada como um fator preditivo da saúde metabólica do hospedeiro. No caso, você. Consumir muito açúcar ou gordura pode reduzir 
a sensibilidade do corpo a esses nutrientes, afetando a inflamação e aumentam mais ainda a resistência 
à insulina, agravando o diabetes. Depois de uma cirurgia bariátrica, a 
microbiota muda rapidamente, geralmente em questão de semanas, devido à 
combinação de nova dieta, uso de antibióticos e alterações no sistema digestivo. Então, se o exemplo da anorexia indica que a 
microbiota pode afetar o seu comportamento, esses tratamentos para obesidade sugerem que 
o nosso comportamento pode mudar a microbiota. Só um alerta importante aqui. Distúrbios alimentares são complexos e não 
podem ser explicados apenas por alterações à microbiota. É uma via de mão dupla. Hábitos mais saudáveis podem 
melhorar nossa microbiota e essa mudança pode ajudar a manter 
esses hábitos saudáveis, enquanto comportamentos de risco podem ser reforçados pelas 
alterações que eles causam nos micro-organismos que habitam o seu corpo. Agora que você sabe o 
suficiente, eu posso finalmente te mostrar uma das verdades mais profundas. Se você quiser saber a 
verdade, deixe o seu like, se inscreva e assista deve ter ficado claro que a sua microbiota 
influenciou a sua decisão de pedir aquele lanche na sexta noite. Mas ainda 
mais chocante é que talvez a sua microbiota tenha feito você recusar o convite pra sair com seus amigos, e daí tenha causado 
em parte a ansiedade que você sentiu por tomar essa decisão. É sério! Os seus micróbios intestinais 
talvez não gostem dos seus amigos. Uau! Até eles! Existem correlações chocantes entre microbiota e comportamento 
social em inúmeros animais. E nós somos animais, pelo menos ainda hoje. Por exemplo, a microbiota 
sabe com quem você convive. Pessoas que convivem muito, como casais ou amigos 
próximos, tendem a ter microbiotas parecidas. Compartilhar refeições, beijos, 
que até mesmo se for na bochecha, e ainda compartilhar o mesmo ambiente pode 
unir os micro-organismos. É isso que mostra um estudo realizado com pessoas 
que vivem em 18 vilas isoladas, em que as interações nem são muito íntimas e 
as pessoas têm exposição mínima a alimentos processados e antibióticos, que são dois 
fatores que podem alterar bastante a composição da microbiota. Os resultados mostram que casais e 
indivíduos que vivem na mesma casa, compartilham até 13,9% das cepas 
microbianas nos seus intestinos. Mas mesmo as pessoas que não compartilham o 
mesmo teto, mas costumam passar tempo livres juntas, compartilham 10%. Mas não só as pessoas que você 
convive mudam a sua microbiota. Talvez a sua microbiota 
mude com quem você convive. Pesquisas recentes com peixe e zebra revelaram 
que a microbiota desempenha um papel importante no comportamento social. A composição da microbiota no 
intestino manifesta traços como timidez ou sociabilidade entre os peixes. A falta de uma microbiota saudável na infância dos peixes fazia eles ficarem 
menos sociáveis na vida adulta. Redução de comportamentos sociais usuais 
devido à falta de uma microbiota saudável também foi observado em ratos 
que receberam antibióticos. E não só isso! Filhos desses ratos, 
imunizados contra sua própria microbiota, também mostravam redução em comportamento 
social e microbiota alterada, mesmo sem passarem pelo mesmo processo. Ratos sem microbiotas queriam ver 
outros ratos com menos frequência, e em alguns casos esse desvio de comportamento 
podia ser corrigido com um transplante de microbiota Ou seja, até mesmo as suas 
decisões sociais talvez sejam, em parte, consequência da microbiota vivendo no seu corpo Esses micróbios talvez afetam suas emoções 
e até o seu sistema nervoso diretamente Em ratos já foi demonstrado que a microbiota 
pode modular a ativação de neurônios em áreas do cérebro associadas a respostas de 
estresse e comportamento social, além de aumentar níveis de hormônios como o corticosterona, 
um hormônio também associado ao estresse. O que experimentos com outros animais indicam 
é que a sua microbiota pode afetar como você pensa sobre comida, sobre relações 
sociais e até quais emoções você sente. Hoje eu tô me sentindo meio hambúrguer. Mas aqui é bom lembrar que esses experimentos também indicam que a sua relação com a 
sua microbiota é uma via de mão dupla. Hábitos mais saudáveis podem 
melhorar a nossa microbiota. E essa mudança pode ajudar a 
manter esses hábitos saudáveis. Enquanto comportamentos de risco podem ser 
reforçados pelas alterações que eles causam nos micro-organismos que habitam o seu corpo. Mas mais do que simplesmente 
direcionar escolhas pessoais, entender melhor essa conexão entre como 
a sua microbiota pensa e como você se comporta pode abrir portas para 
tratamentos inovadores e menos invasivos para várias condições. Desde problemas 
alimentares, metabólicos ou quem sabe até psicológicos. Em 2019, um estudo em 
Oxford mediu melhoras leves e moderadas em sintomas de depressão após um tratamento 
com probióticos contendo 14 bactérias. Além disso, em estudos mais amplos, a 
presença de certas bactérias na microbiota estava associada com melhor qualidade de vida, a microbiota servindo como um indicador de saúde. E isso tudo sugere a possibilidade de uma 
dimensão psicobiótica o comportamento humano, na qual os organismos que estão em você, mas não são você, têm um papel importante 
em como você pensa e na sua saúde como um todo. Os mais diversos micro-organismos que habitam o 
seu corpo parecem ter uma influência inesperada sobre as decisões que você toma, ou até 
como você se comporta, e talvez até sobre o que você pensa. A diversidade de sinais químicos gerados pela 
microbiota pode mudar desde o que você gosta de comer até quais neurônios no seu cérebro 
tem mais ou menos chances de disparar em momentos importantes da sua vida. 
Talvez toda essa microbiota não seja exatamente um outro cérebro escondido, 
mas o seu cérebro com certeza não seria o mesmo sem a sua microbiota. Muito 
obrigado e não esqueça de se inscrever. E eu estou falando obviamente com 
a sua microbiota. Até a próxima!

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