O que está acontecendo com as redes de Fast Food?
0R$ 19,90. Este era o preço de um combo de fast food há pouco mais de 10 anos. Hoje, o mesmo combo beira os R$ 40. Demora para ficar pronto, às vezes chega frio e se for por aplicativo ainda tem a taxa de entrega. O que antes era uma opção rápida e barata virou uma frustração cara e demorada. Mas como que o fast food, símbolo da comida acessível, ficou tão caro? e porque até as maiores redes do mundo estão perdendo clientes. A história por trás dessa crise é bem maior do que parece. Durante muito tempo, o fast food foi a escolha óbvia para quem estava sem tempo ou com pouco dinheiro. Não exigia esforço nem paciência, era só apontar, pagar, comer e ir embora. Redes como McDonald’s, Burger King, Subway e KFC cresceram com essa proposta. Comida rápida, acessível e padronizada. Não importa onde você estivesse, São Paulo, Tóquio ou Nova York, um Big Mac era um Big Mac. E isso funcionou por décadas. Por muito tempo, as empresas de fast food foram consideradas como imunes à recessão econômica, porque mesmo quando o dinheiro tá curto, as pessoas ainda precisam comer. E o fast food era uma das opções mais baratas disponível. No Brasil, o sucesso coincidiu com o crescimento da classe C. Nos anos 2000, mais brasileiros começaram a comer fora. As praças de alimentação dos shoppings viraram ponto de encontro. Mas essa era tá ficando para trás. A crise começou devagar, mas hoje é visível. O combo que antes era acessível agora pesa no orçamento. E o motivo principal é bem simples. Tudo ficou mais caro. Carne bovina, frango, queijo, batata, trigo, óleo. Todos os ingredientes tiveram aumento de preço, principalmente por causa da inflação e dos custos logísticos. E o reflexo vai além da comida. Energia elétrica, gás, refrigeração, equipamentos industriais, tudo ficou mais caro. E tem também o aluguel. A maioria dessas redes opera em shoppings ou pontos comerciais caros. Com a alta dos juros e da inflação imobiliária, os contratos de aluguel ficaram ainda mais pesados e aí a conta não fecha. As redes reagiram como sempre reagem, repassando o custo pro consumidor. E o resultado é esse que a gente vê hoje, um combo comum chegando a custar R$ 40. Para uma pessoa que ganha um salário mínimo, isso já representa quase 3% do que ela recebe no mês. Mas além do preço, a experiência piorou. Fila no balcão, pedido errado, batata murcha, demora na entrega. O que antes era sinônimo de agilidade virou uma dor de cabeça. O fast food também perdeu aquilo que tornava ele útil, a praticidade. A reclamação das empresas é que nunca foi tão difícil achar gente para contratar e que no geral a dedicação da equipe é baixa, porque as pessoas simplesmente não valorizam mais esse tipo de emprego. Há quem diga que isso é um reflexo da economia dos aplicativos. Quem antes trabalharia em uma franquia do McDonald’s para ganhar um salário mínimo? Agora tem mais opções. Fazer entregas do iFood, ser motorista de Uber, entre outros aplicativos. Para muita gente, isso é mais atrativo do que ficar na cozinha do McDonald’s fritando batatinha e tendo que dar satisfação pro chefe. Claro, a solução óbvia pras redes de fast food seria aumentar o salário dos funcionários. E algumas empresas estão basicamente sendo forçadas a fazer isso, mas aí para pagar o aumento nos salários, elas têm que escolher entre aumentar os preços ainda mais ou cortar as margens de lucro que já estão ficando apertadas. Muitas dessas empresas já estão investindo em cozinhas automatizadas para tentar reduzir o número de funcionários e o gasto com salários. Mas essa tecnologia ainda não chegou no ponto de substituir completamente as pessoas. Outro fator é que durante a pandemia, o brasileiro foi forçado a redescobrir a cozinha. Cozinhar em casa voltou a ser rotina e muita gente percebeu que é mais barato, mais saudável e muitas vezes mais gostoso. Com um pouco de organização, dá para montar uma marmita por menos da metade do preço de um combo de fast food. Hoje, muita gente prefere levar comida de casa pro trabalho, não só por questão de saúde, mas também de custo benefício. Nos bastidores, as redes estão sentindo o impacto. Nos Estados Unidos, o McDonald’s registrou a maior queda de vendas desde a pandemia. Isso num cenário onde essas redes, em teoria deveriam crescer, porque em tempos de crise, o consumidor costuma buscar opções mais baratas. No Brasil, o movimento é parecido. O setor de alimentação fora do lar cresceu menos que a inflação nos últimos anos. Na prática, isso significa retração. Enquanto isso, as vendas de comida pronta de supermercado estão crescendo e as marmitas caseiras também. Redes menores e regionais que oferecem comida com gosto mais caseiro e preço mais em conta estão encontrando espaço no mercado. E ainda tem mais um fator prejudicando as redes de fast food, os aplicativos de entrega de comida. A verdade é que muitas lojas de fast food estão se tornando cada vez mais centros de distribuição para aplicativos de delivery. Ifood, Happ, Uberits. Eles mudaram a lógica da alimentação fora de casa e criaram um novo problema. As redes de fast food ficaram reféns dessas plataformas. Se elas saem dos aplicativos, perdem visibilidade e vendem menos. Se continuam, precisam dividir uma fatia do lucro com os aplicativos. Enfim, a crise atual do fast food não é o fim do setor, mas é o fim de uma era em que ele era a opção óbvia. Hoje ele precisa competir de verdade, precisa entregar mais, cobrar menos, melhorar o serviço e reconquistar a confiança do consumidor. A concorrência não é só outros restaurantes. Hoje ele concorre com a comida do mercado, com o restaurante Selfice, com a marmita da dona Maria. E quem não se adaptar vai perder espaço com o tempo. Agora dá uma olhada nesse outro vídeo aqui, onde eu mostro algumas das técnicas mais questionáveis que as empresas usam para fazer a gente pagar mais por menos sem perceber. Desde o lanche do fast food até o shampoo na prateleira do mercado.







