O que está ACONTECENDO na Espanha que está ASSUSTANDO os Espanhóis e Estrangeiros | Realidade Brutal
0Ao longo de 2024, aproximadamente 94 milhões de turistas visitaram a Espanha. Esse volume colocou o país em segundo lugar no ranking mundial de visitantes, atrás apenas da França, que recebeu 100 milhões de turistas no mesmo período. Mais do que consolidar a Espanha como um dos destinos mais procurados do mundo, a chegada de tantos visitantes movimentou a economia. Apenas em 2024, os turistas deixaram 126 bilhões de euros no país. Esse dinheiro ajudou a manter em funcionamento milhares de hotéis, restaurantes e pontos turísticos. Além disso, mais de 2,5 milhões de pessoas tiveram seus empregos garantidos no setor. Diante de indicadores tão positivos, qualquer um imaginaria que os espanhóis estivessem comemorando. Mas o que se viu em várias cidades do país foi exatamente o contrário. Em 2024, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra o turismo. Em cidades como Barcelona, Málaga e Tenerife, manifestantes carregavam faixas que literalmente mandavam os turistas voltarem para suas casas. Somente na cidade de Palma, um dos principais destinos turísticos do país, mais de 20.000 pessoas participaram dos atos ocorridos durante o verão do ano passado. Por mais que possa parecer contraditório ver um país protestando contra o setor que mais gera empregos e receitas, existe uma boa explicação. Para acomodar tantos turistas, milhares de apartamentos deixaram de ser alugados para moradores e passaram a atender apenas estrangeiros. Com isso, os preços dispararam e alugar uma casa ou um apartamento se tornou um desafio cada vez maior para os espanhóis. Quem ainda consegue pagar um aluguel precisa destinar uma parte cada vez maior do orçamento para moradias cada vez menores. Outros não têm essa opção e a cada dia que passa, mais pessoas são obrigadas a alugar quartos na casa de desconhecidos. E em casos mais extremos, muitas pessoas estão convertendo motor homes e trailers de acampamento em moradias. Mas será que o turismo é o único culpado pela falta de residências na Espanha? Como o país chegou nessa situação extrema e quais são as possíveis soluções para o problema? Se você quiser saber as respostas, é só assistir esse vídeo, porque hoje vamos ampliar nosso conhecimento global sobre a crise de moradias na [Música] Espanha. Em 2023, mais de 330.000 1 residentes da Espanha tomaram a importante decisão de casar e começar uma família. Somente naquele ano foram celebrados 165.658 matrimônios no país. Isso significa que a maioria desses casais vão precisar de uma casa para começarem a vida juntos. E é aí que começam os problemas das moradias na Espanha. Isso porque no mesmo período foram construídas apenas 89.320 novas moradias dentro do território espanhol. Somente considerando o número de casamentos e de casas entregues, o país já ficaria com déficit de mais de 76.000 unidades, mas a situação é ainda pior. Nessa matemática, ainda é preciso incluir os milhares de imigrantes que chegam todos os anos ao país, os divórcios que levam um dos membros do casal e procurar uma nova residência, casais que decidem morar juntos sem oficializar a união e outros casos que podem ser considerados como a formação de um novo lar. Na soma, segundo o jornal El País, em 2023 se formaram 265.000 novos lares, o que eleva o déficit anual de moradias da 76.000 que calculamos para 175.680. Na prática, isso quer dizer que para cada três novos lares que se formam no país, as construtoras conseguem entregar apenas uma nova casa. Como já é de se esperar, em situações onde a demanda é maior do que a oferta, os preços sobem e foi exatamente isso que aconteceu. Entre os anos de 2015 e 2023, o preço dos imóveis na Espanha subiram 47%. Se para quem quer comprar ficou complicado, para quem precisa alugar ficou ainda pior. No mesmo período, a locação de imóveis subiu cerca de 58%. Para piorar o cenário, a renda média dos espanhóis subiu apenas 35% nesse intervalo de 8 anos. Nesse cenário, milhares de cidadãos precisaram se adaptar, principalmente os mais jovens. Por ser a faixa da população com menores salários, muitos jovens tiveram que adiar os planos de saírem das casas dos pais. Segundo o jornal 20 Minutos, sete de cada 10 jovens espanhóis que trabalham ainda vivem com os pais. Em comparação com outros países da Europa, a Espanha atualmente é um dos países com a idade de emancipação mais alta do continente. Para se ter uma ideia, na Suécia, a idade média em que os filhos deixam a casa dos pais é de 19 anos, enquanto na Espanha esse passo só é dado aos 30 anos. Na prática, 66% dos espanhóis, com idade entre 18 e 34 anos, ainda moram com os pais, o que também é um número maior do que em outros países, como a França, onde o percentual é de 45%, e a Alemanha, onde 31% ainda não saíram do ninho. E os poucos que se aventuram a sair da casa dos pais precisam estar preparados. Uma outra reportagem do El País mostra que os jovens precisam gastar 94% dos seus salários em aluguel, caso queiram morar sozinhos. E comprar uma casa ou apartamento parece um sonho cada vez mais distante. Um estudo do Banco da Espanha mostra que em 1987, por exemplo, uma família precisava investir o equivalente ao ingresso de 3 anos para comprar uma casa. Hoje são necessários mais de 8 anos. O aluguel, como vimos também, teve uma disparada de preços e alugar apenas um quarto tem sido cada vez mais a opção escolhida. Já para famílias, onde morar com parentes ou alugar apenas um quarto não é uma opção, o único caminho é aumentar a fatia do orçamento destinada ao pagamento do aluguel. Um levantamento feito pelo El País aponta que cerca de 34% das famílias dedicam até 40% de seus ganhos com moradia, um valor muito acima do recomendado. Em alguns casos, a situação é ainda mais extrema, como Palma, nas ilhas Baleares, por exemplo, onde muitos moradores, mesmo com trabalho, estão se vendo obrigados a viverem em motor homes e trailer de acampamento. Mas como a Espanha chegou nessa situação crítica? Se hoje o turismo é a principal fonte de receitas da Espanha, há duas décadas a realidade era outra. No começo dos anos 2000, a construção civil era o motor da economia espanhola e o país vivia um verdadeiro boom no setor imobiliário. Ano após ano, o número de novas moradias entregues aumentava e encontrar um imóvel para comprar não era um problema. Em 2005, por exemplo, foram entregues quase 600.000 1 novas unidades, enquanto menos de 420.000 novos lares foram formados. Com juros baixos e acesso fácil ao crédito, a construção continuou acelerando e no ano seguinte o setor bateu um novo recorde com 658.000 novas moradias. A cada ano, quase 200.000 1 imóveis a mais do que o necessário eram construídos e o mercado parecia longe de qualquer crise. Mas como na teoria do efeito borboleta, onde o simples bater de asas de um inseto em um canto do mundo pode desencadear um furacão em outro, eventos aparentemente distantes estavam prestes a mudar o rumo do setor imobiliário espanhol. No dia 9 de agosto de 2007, o Banco Francês BNP Paribas suspendeu as operações de três fundos de investimento ligados ao setor imobiliário dos Estados Unidos. Para muitos economistas, esse foi o marco inicial da crise financeira global que estouraria no ano seguinte. Quando a bolha imobiliária americana explodiu, a recessão se espalhou pelo mundo e a Espanha foi um dos países mais afetados. Em 2008, as obras pararam e os anos seguintes foram marcados por demissões em massa e falências de construtoras. O ponto mais baixo veio em 2016, quando foram entregues apenas 44.000 novas unidades, um número mais de 15 vezes menor do que o registrado no auge do setor. Porém, os efeitos dessa paralisação não foram sentidos de imediato. Com o desemprego elevado e o crédito escasso, menos pessoas compravam imóveis. Ao mesmo tempo, os casamentos diminuíram e a chegada de imigrantes caiu drasticamente. Com menos gente buscando moradia, a falta de novas construções não chamou atenção por alguns anos. Mas à medida que a Espanha saía da crise econômica, por volta de 2018, começava a entrar na crise das moradias. Foi nesse momento que uma batida de asas de borboleta que havia ocorrido na Califórnia em 2017 começou a se transformar em um furacão no setor imobiliário espanhol. Neste ano, dois anfitriões em São Francisco tiveram a ideia de alugar um espaço em sua casa para três hóspedes. O que parecia apenas uma forma criativa de ganhar dinheiro extraoria o início do Airbnb, que mudou para sempre o setor de hospedagem. Embora esse acontecimento não tenha provocado o mesmo efeito imediato que a crise de 2008 na Espanha, ele é considerado um dos grandes responsáveis pela falta de moradia que os espanhóis enfrentam hoje. Na medida em que a construção se afundava com a crise, o turismo começou a ganhar espaço e se tornar o grande protagonista da retomada econômica do país. A partir de 2009, a chegada de turistas aumentou de maneira consistente e abriu oportunidades para vários negócios. Entre eles, o recém- criado aluguel por aplicativo desenvolvido pelo Airbnb. Milhares de proprietários passaram a enxergar nessa modalidade uma oportunidade de ganhos maiores, sem a necessidade de deixar o imóvel ocupado 100% do tempo por um único inquilino. Em altas temporadas ou durante grandes eventos, o aluguel de apenas alguns dias podem gerar o equivalente a um mês inteiro de locação no sistema convencional. Segundo o Banco da Espanha, existem atualmente 350.000 1 vivendas dedicadas ao aluguel temporário em plataformas como Airbnb e Booking.com. Nas maiores cidades do país, Madrid ou Barcelona, já existem mais apartamentos à disposição no Airbnb do que na plataforma idealista, a maior do país para aluguel convencional. Essa redução na oferta elevou os preços tanto para a compra quanto para a locação, o que tem tornado as moradias cada dia mais inacessíveis a uma parcela da população. Mas esse não é o único fator. Os programas habitacionais sempre tiveram um papel fundamental para garantir que a população tivesse acesso à moradia na Espanha. Entre eles, um dos mais importantes é o de moradias de proteção oficial, um modelo que ajudou milhares de famílias a comprarem imóveis por preços reduzidos. Nessa modalidade, o governo não constrói diretamente as moradias, mas oferece incentivos e crédito facilitado para que as construtoras vendam as unidades por valores abaixo do mercado. Comoartida, os compradores precisam seguir algumas regras, como não revender o imóvel durante um certo período e não utilizá-lo para a locação. Durante décadas, esse sistema ajudou a equilibrar o mercado imobiliário, garantindo que uma parte significativa das novas unidades fosse destinada a população de baixa renda. Mas ao longo dos anos, os investimentos nesse setor foram diminuindo e a quantidade de moradias protegidas encolheu. Os números mostram bem essa transformação. Em 1985, de um total de 114.000 novas moradias construídas, 65% eram vivendas de proteção oficial. Isso significa que mais de 74.000 residências foram vendidas com condições especiais. Nos anos seguintes, mesmo com aumento no número de novas unidades, as habitações protegidas perderam espaço. No período de auge da construção civil, esse tipo de moradia passou a representar menos de 10% das que eram construídas. O problema se agravou ainda mais depois da crise de 2008. Com a recessão, os cortes de investimentos e a queda no interesse das construtoras, a quantidade de moradias sociais despencou. Ainda que atualmente cerca de 10% das novas unidades sejam de proteção social, em números reais a quantidade é muito pequena. Se a compra de imóveis subsidiados se tornou mais difícil, o aluguel social, que poderia ser uma alternativa para muitas famílias, também não consegue atender a demanda. Na teoria, esse modelo funciona de maneira semelhante às moradias protegidas. O governo concede incentivos para que as construtoras disponibilizem imóveis para aluguel com preços reduzidos. Na prática, porém, a quantidade de moradias nesse sistema é extremamente baixa. Atualmente, apenas 2,5% das moradias do país fazem parte do programa de aluguel social, o número bem abaixo da média da União Europeia, que é de 9,3%. Se compararmos com países como França e Reino Unido, onde esse percentual ultrapassa os 17%, fica evidente que a Espanha está muito atrás quando o assunto é habitação acessível. Agora vamos adicionar mais um elemento à equação que levou a Espanha a uma das suas piores crises de moradia. Até aqui já vimos que menos residências estão sendo entregues, que muitas das existentes foram destinadas ao aluguel temporário, que os programas de moradias sociais foram reduzidos e que o número de novos lares aumentou. Mas ainda há um fator que precisa ser considerado, a compra de imóveis por estrangeiros. Com o clima ameno, belas paisagens e um custo de vida relativamente mais acessível do que em países do norte da Europa, a Espanha sempre foi um destino atrativo para cidadãos de economias mais fortes. Além de escolherem o país para passar temporadas, muitos desses estrangeiros tomam a decisão de comprar uma residência fixa e nos últimos anos essa tendência só aumentou. Antes da crise de 2008, os estrangeiros eram responsáveis por cerca de 3% das transações imobiliárias no país. Mas desde então esse número cresceu de maneira significativa. Atualmente, 10% dos imóveis vendidos na Espanha são adquiridos por pessoas de outros países, sendo que em algumas regiões turísticas, como Alicante, Málaga e as ilhas Baleares, esse percentual ultrapassa os 25%. Segundo dados do jornal El País, os britânicos lideram essa lista e são responsáveis por 8,37% das compras feitas por estrangeiros. Em seguida, estão os alemães, que representam 6,98% das transações. Além deles, cidadãos de outras nacionalidades também contribuem para o aumento da demanda, o que faz com que os preços dos imóveis subam ainda mais. Se por um lado a entrada de capital estrangeiro aquece a economia, por outro torna a moradia cada vez mais inacessível para os moradores locais. E com isso fechamos a equação com os principais elementos que estão levando a Espanha a passar pelo problema mais grave, segundo alguns especialistas. Mas será que esse problema tem solução? Qualquer solução para a crise de moradia na Espanha passa necessariamente pelo governo. É ele quem tem o poder de criar regras, regular o mercado imobiliário e incentivar a construção de novas moradias. Mas se há um consenso sobre a importância do governo nesse processo, as soluções para o problema estão longe de serem unanimidade. Atualmente, o país é governado pelo Partido Socialista Operário Espanhol, o PSOE, que está no poder desde 2018. Para resolver a crise habitacional, o partido aposta em uma maior intervenção no mercado imobiliário, buscando equilibrar a oferta e os preços. Entre as principais medidas defendidas pelo governo está a ampliação do controle sobre os aluguéis, estabelecendo um limite máximo para os valores cobrados em algumas regiões. Além disso, o PSOE propõe o incentivo para que mais proprietários disponibilizem seus imóveis para a locação a longo prazo. Quem cobrar um aluguel dentro do índice de preços de referência poderá ter isenção total no imposto de renda sobre o valor recebido. Outra proposta do partido é restringir ainda mais o aluguel por temporada, como os oferecidos em plataformas como Airbnb, equiparando sua tributação a dos hotéis. Mas enquanto o governo defende mais regulação, a oposição segue outro caminho. O Partido Popular, principal força opositora ao PSOE, acredita que a melhor solução não é o controle de preços, mas sim o estímulo ao setor privado para aumentar a oferta de moradias. Para isso, propõe a redução de impostos sobre a compra de imóveis, principalmente para jovens e famílias de baixa renda, além da liberação de terrenos públicos para construção de novas habitações. Outra medida defendida pelo PP é a desburocratização do setor. O partido quer acelerar a liberação de licenças para novas construções, facilitando a vida de construtoras e incorporadoras, e, com isso, ampliando o número de imóveis disponíveis no mercado. a falta de consenso. Se os políticos espanhóis quiserem um exemplo de como enfrentar a crise de moradia, podem olhar para Viena, na Áustria. A capital austríaca é referência mundial quando o assunto é habitação acessível, resultado de um modelo que vem sendo aprimorado há décadas. Desde o início do século XX, Viena adota políticas públicas que garantem moradias de qualidade a preços acessíveis para uma ampla parcela da população. O governo mantém um forte controle sobre o mercado imobiliário e investe constantemente na construção e manutenção de habitações sociais. Atualmente, cerca de 60% dos moradores da cidade vivem em imóveis subsidiados. Uma proporção que não encontra paralelo em quase nenhum outro lugar do mundo. O segredo do sucesso vienense está na intervenção direta do governo. Em vez de depender apenas da iniciativa privada, a prefeitura constrói e administra um grande número de moradias, garantindo que o preço dos aluguéis permaneça acessível. Além disso, a cidade estabelece parcerias com empresas e cooperativas para ampliar a oferta de habitação social, criando um sistema misto, onde tanto o setor público quanto o privado tem um papel fundamental na regulação do mercado. Outro ponto essencial do modelo austríaco é que os investimentos no setor não são tratados como gastos, mas sim como uma política de longo prazo. A receita gerada pelos aluguéis das moradias sociais é reinvestida na construção de novos empreendimentos e na manutenção dos já existentes, garantindo que o programa seja sustentável e eficiente ao longo do tempo. Enquanto em muitos países a moradia social é tratada como uma solução emergencial, em Viena ela faz parte de uma política habitacional de longo prazo, voltada para garantir que a população tenha acesso a moradias a preços acessíveis. O modelo austríaco é frequentemente citado como um dos mais eficientes da Europa e sua estruturação ao longo de décadas permitiu minimizar os problemas enfrentados em outros países como a Espanha. No entanto, cada país possui desafios e contextos diferentes e a aplicação de um sistema semelhante dependeria de uma série de fatores. Resta saber se a Espanha seguirá esse caminho ou buscará outras soluções para enfrentar sua crise de moradia. E enquanto os preços dos imóveis disparam na Espanha, algumas cidades da Itália vão na contramão e oferecem casas por apenas 1 €. Mas será que realmente é bom negócio? Quais são as armadilhas por trás dessa oferta tentadora? É isso que eu te conto nesse vídeo que está aparecendo na sua tela. É só clicar e já nos vemos lá. Muito obrigado por assistir até aqui.







