O segredo por trás do barulho esquisito dos Mundiais de Clubes antigos (a famosa COPA TOYOTA)

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Como qualquer pessoa que mora no Rio de Janeiro, eu me tornei um especialista em barulhos urbanos que perturbam a ordem social. [ __ ] é o glorioso, [ __ ] O carro do ferro, velho. Então, quando essa postagem apareceu para mim, eu sabia que tinha uma história a ser contada. Se você já viu qualquer vídeo de melhores momentos de jogos antigos do Mundial de Clubes, aquele que acontecia no Japão e era patrocinado pela Toyota, você já ouviu esse barulho? Partiu. Olha a chance. Olha o gol. Tocou Nunit. Gol! Driblou de novo, preparou ainda a bola com o Renato no fundo, vai cruzar na Bomba. Gol! Bom lance Miller. Bom lance. Olha o gol! Gol! Parece ar! Passando por um cano no volume absurdo. Frequentemente essa dúvida surge na internet. Que barulho é esse? Eu precisava descobrir, esse vídeo é sobre isso. Existem duas correntes de pensamento para tentar descobrir. A primeira diz que é um ruído eletrônico causado pela transmissão do jogo no Brasil. A segunda que é o barulho real do estádio mesmo. Só tem um caminho óbvio para começar essa investigação. A festa da uva de Caxias do Sul de 1972. Durante a última festa da uva, efetuou-se a primeira transmissão de TV a cores para todo o Brasil. O presidente da República e Comitiva chegam ao palanque para o desfile de carros alegóricos. Foi um marco na história da televisão brasileira e o começo da utilização de um sistema de cores analógico chamado Pau M. Eu não vou entrar nos detalhes de eletrônica, até porque eu sou só um jornalista ruim com números, mas o importante é saber que nem todo mundo usa o mesmo sistema. Uma das explicações para esse barulho é que ele seria um ruído que surgiu na conversão das imagens geradas pela televisão japonesa para que elas pudessem ser transmitidas no Brasil. É por isso que elas estariam só nas imagens que vinham do Japão. É normal que esse tipo de coisa geregído, principalmente nas TVs da época, até porque não era só o sistema de cores que era diferente, tem todo um lance de frequência que eu não vou saber te explicar direito. Teve gente que levantou a hipótese de ser um som gerado pela transmissão via satélite, então vale procurar imagens de outros esportes para comparar. Essas aqui são do GP do Japão de 1989 na transmissão da Globo. Bate no capacete. Aoná no Brasil. A gente até ouve um som chato no fundo, as posições dos pilotos no grid de largada, mas ele é diferente dos jogos de futebol. Talvez esse ruído eletrônico exista e se misture com outra coisa para gerar o barulho que a gente tá procurando. Sensações incríveis, desafios inigualáveis, games antológicos. Salve. Sabe que quando o Timote vem aqui, ele não fica jogando Super Nintendo não. Bobão. Bobão é Nintendo ou nada. Se você tem mais ou menos a minha idade, existem grandes chances de você ter tido um Super Nintendo. E se você teve um Super Nintendo, você com certeza jogou o International Superstar Soccer com alguma das versões piratas dele, como o Brasileiro 96 e ohohoc. [Aplausos] Agora ouve o que acontece quando um jogo começa de novo. Esse aqui é um outro jogo de Super Nintendo menos conhecido, o J League Soccer Prime Go. [Música] Os desenvolvedores de jogos se deram ao trabalho de inserir esse barulho num videogame. Isso significa que ele era parte importante de como os japoneses entendiam que devia ser o som de um estádio de futebol. Gol! Em 1993, o futebol japonês decidiu se profissionalizar. Foi o ano que surgiu a J League, o primeiro campeonato que era 100% profissional. O futebol já existia por lá, mas os clubes representavam empresas tipo Toyota, Itachi e Mitsubishi, que eram mistos entre profissionais e amadores. Eu assisti trechos de dezenas de jogos antigos do Japão antes e depois da criação da liga. Esse aqui é o primeiro jogo da J League em 1993. [Aplausos] [Música] E esse aqui foi o primeiro hat trick da história da J League, marcado por um tal de Zico do Kashima Antlers. Essas imagens deixam uma coisa clara pra gente. Não é só no mundial que a gente ouve aquele barulho. Ele tá em praticamente todos os vídeos de futebol do Japão. Pelo menos até 1994, quando ele vai ficando mais raro até desaparecer. [Aplausos] Isso elimina a possibilidade do barulho ter surgido apenas nas transmissões japonesas que vinham pro Brasil, mas gera outra dúvida. Alguma coisa aconteceu nessa data. Antes de mistério, eu preciso fazer dois agradecimentos. Primeiro, ao pessoal da página Jleague Insider Brasil no Twitter, que faz uma cobertura espetacular do futebol japonês, e é o jornalista especializado Thiago Bom Tempo. Foram eles que me colocaram no caminho certo. Passeando por canais de futebol do YouTube do Japão, eu achei esse vídeo do Futeball underground. Eu não entendo nada de japonês, mas duas palavras eu consegui pegar do que eles estão falando. Ti horn. Isso não é japonês, me parece inglês e significa corneta de torcida. Parece que a chave tá aqui. Com a ajuda de algumas ferramentas digitais, a gente consegue entender mais ou menos o que eles estão falando. O vídeo fala justamente da nostalgia envolvida nos barulhos antigos que os japoneses faziam e ouviam nos estádios, de como essa tal corneta era insuportável e de como ela caiu em desuso depois de 1994. A gente consegue ver uma foto dela numa edição da revista Placar que fala justamente sobre a profissionalização do futebol japonês. Caras pintadas, buzinas ensurdecedoras e gritos familiares de olê olê olê olê são facilmente ouvidos. Eu usei uma ferramenta extremamente sofisticada para entrar em contato com o dono desse canal, o jornalista Koit Yoshiwa. E ele me ajudou com informações fundamentais. Para coincidir com a Copa Toyota, uma agência de publicidade, a Denu distribuiu cornetas de torcida aos espectadores na tentativa de aumentar a empolgação pelo futebol, que não era muito popular na época. Desde então, os japoneses pensam erroneamente que torcer em jogos de futebol significa usar cornetas. Para corrigir esse erro, o grupo de torcedores do Uraaua Reds, Crazy Calls, foi o primeiro a rejeitar o uso de cornetas de torcida. Como o barulho das cornetas de torcida também era uma questão social, suas ações foram amplamente divulgadas e elogiadas. Não há dúvida sobre isso, porque eu era o chefe da Crazy Calls. Uma questão social. Parece uma coisa forte de se falar dessas cornetinhas, mas é verdade. Em junho de 1993, os moradores do entorno do Estádio Nacional de Tóquio escreveram solicitando o fim da venda de cornetas no estádio e a implantação de guardas de segurança na área circundante. Em 19 de agosto de 93, a J Leeag anunciou oficialmente o fim das vendas das cornetas dentro dos estádios, começando com a partida entre Verde Kawazak e Nagoia. De acordo com uma pesquisa feita por Yoshi Takarrashi da escola de pós-graduação da Universidade de Tóquio, realizada em 18 de setembro de 1993, 11% dos espectadores carregavam cornetas de torcida. Uma pesquisa realizada no mesmo estádio, um ano depois descobriu que quase não havia gente carregando essas cornetas. Tudo isso resolveu a minha dúvida, mas me deixou ainda mais curioso. Será que uma pequena corneta pode fazer um estrago a ponto de criar distúrbios sociais? Para entender exatamente o quão insuportável isso era, eu só tinha uma solução. Eu naveguei em sites japoneses até encontrar isso aqui numa versão oriental do Enjo. Ela demorou, foi taxada, mas chegou. Essa é uma corneta original da J League de 1993 do Verde Kawazak. Chegou a grande hora de testar. Agora imagina 10.000 pessoas fazendo isso ao mesmo tempo. Capta esse som com equipamento japoneses dos anos 80, converte esse áudio para enviar para uma televisão brasileira e você tem esse belíssimo som que ficou eternizado nos antigos títulos mundiais dos clubes brasileiros. Flamengo, Flamengo, campeão mundial interclubes do Japão, pode comemorar no Brasil. Esse vídeo é tão diferente dos outros que eu até esqueci de gravar aquela parte final em que eu sempre falo para você me seguir nas minhas redes sociais e digo que se eu editei certo, o meu arro está aparecendo na tela. Eu tô editando o vídeo nesse momento, foi quando eu percebi que eu não tinha gravado. Então com certeza entrará certo. Me segue lá que me ajuda bastante. Eu deixo também sempre um vídeo separado, né, o último vídeo que eu postei para que você entre lá e continue aqui me ajudando. O já tá separado aí no cantinho da tela e ele conta é uma história que o Ronaldo contou. É uma investigação sobre uma história contada pelo Ronaldo em um podcast que eu tenho certeza que você ouviu. Ficou muito legal. Eu não tô mostrando a minha cara porque eu tô com uma conjuntiv. Então eu prefiro que vocês fiquem com este rosto do que com o que está comigo nesse momento. Beleza? Continue aí. O canal vai voltar com tudo agora, hein? Então tamo junto. Fica aí. Valeu,

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