ParaNorman NUNCA Foi Só Uma ANIMAÇÃO INFANTIL…
0Paranorman. Para muita gente, essa palavra não significa absolutamente nada. Você pode nem saber sobre o que esse vídeo se trata, mas para uma galera que tá vendo e principalmente para mim, ela significa muita coisa. Que a animação é um estilo muito subestimado na indústria cinematográfica. A gente não precisa nem falar, porque para muita gente isso daqui é um filme e isso daqui é, sei lá, tacapu. Mas dentro desse universo gigantesco de estilos de animações, um deles é um pouco mais respeitado. Com certeza o Stop Motion se destaca da maioria. Um filme gravado frame a frame com bonecos reais é impressionantemente complicado de se fazer e até por isso não existem tantos deles assim no mundo. Só de falar em stop motion, muita gente já vai se lembrar de clássicos como Coraline ou Noiva Cadáver. Filmes realmente muito bons, mas um deles me marcou muito desde a infância e geralmente é o esquecido no churrasco entre essa galera, o que me impressiona bastante pela quantidade de qualidades que esse filme tem. Eu acredito que para Norman, mesmo sendo um filme infantil, tem seu máximo potencial alcançado depois que você assiste com um pouco mais de maturidade para entender a profundidade do que para mim é um filme muito melhor do que você lembra. Norman é um garoto solitário e por algum motivo apaixonado por zumbis. Ele mora numa casa junto da sua família, composta por clássicos estereótipos que todo mundo já viu alguma vez na vida. Ele tem uma mãe amorosa e acolhedora, um pai que só resmunga o dia inteiro, uma irmã mais velha implicante e uma avó que morreu. Mas eu tô contando com ela aqui justamente porque o Norman é um pouco diferente dos outros garotos. Ele nasceu com a capacidade de conversar com espíritos de gente já falecida. Durante todo o filme, ele é tratado como diferente em qualquer ambiente que seja por conta dessa habilidade. Em casa, a família acha que ele é um anormal. Na escola, todo mundo conhece ele como um esquisitão dos fantasmas. Só de assistir esses primeiros 10 minutinhos, você já entende a exaustão constante que persegue o garoto todos os dias. Essa se torna a ideia principal da parte dramática durante todo o filme, como as pessoas enxergam essa habilidade. Já que embora o longa seja facilmente encaixado em gêneros, tipo aventura, comédia e terror, o drama com certeza é essencial para tornar essa história única. Seu pai e sua irmã o humilham constantemente, desejando que ele fosse um garoto normal. Será que você não pode ser que nem os meninos da sua idade e montar uma tenda no quintal ou fazer carpintaria? A mãe do Norman, por outro lado, embora tente acolher e entender o ponto de vista do garoto, convenhamos que não é fácil comprar essa ideia. Ela acredita que isso faz parte de uma fase de luto pela perda da avó, que isso não passa de algo momentâneo. E assim, a gente sabe que o Norman realmente vê gente morta, logo ela tá errada. Só que mesmo assim a ideia dela é muito mais coerente do que simplesmente humilhar o moleque a troco de nada. Norman se sente muito deprimidos, aquele é constantemente excluído e perseguido pelos famosos bules na escola. Mas em um momento de fragilidade, ele conhece um garoto bem esquisitinho chamado Neil. Embora muito diferentes em vários aspectos, né? O Norman sendo esse introvertido e raivoso com a sociedade, enquanto Neil é super extrovertido e autoastral, os dois dividem essa mesma dor de perseguição na escola. O Norman, por ser o maluco dos fantasmas e o N só porque ele é gordo mesmo. Eles têm uma visão de mundo bem diferente e até filosófica quando se trata dessa rotina. Neil acredita que não existe forma de combater esse tipo de gente. Ele aceita porque isso é inevitável. Ele também fala que se o Norman tivesse oportunidade, se ele fosse mais forte, ele provavelmente também faria bullying, porque essa é a lei de poder. Já o Norman é mais caladão, ele não fala muito sobre, mas só pelas atitudes a gente já dá uma concluída que ele provavelmente pensa o contrário de tudo isso. Durante esse Papo Cabeça, ele segue andando pela rua tranquilamente. Que isso? Um mendigo? Não, não. É só o tio do Norman. Um cara que ficou completamente maluco por também compartilhar da capacidade de enxergar gente morta. Ele aparece aqui para falar com o sobrinho sobre algumas visões que o Norman vem tendo há um tempo e que com certeza isso envolve a maldição da bruxa. O Norman fica meio recioso em falar com esse cara, até porque ele sempre é aconselhado a manter distância, mas agora tanto faz, porque o tio conta que o Norman vai ser o sucessor para impedir que essa maldição aconteça. Só que antes dele terminar de falar, o N espanta o velho maluco e manda ele de volta para casa. Ele chega em casa, pega um livro e morre. Opa, pera aí que eu acho que não, não, ele ele morre mesmo. Então, agora sim, só o Norman pode parar a maldição sem ajuda de ninguém. Basicamente, uma pessoa que tem uma conexão única com o mundo dos espíritos, no caso antigamente era o tio e agora o Norman. Uma vez por ano, em um dia específico, tem que ir ao túmulo da bruxa e ler o conto da Bela Adormecida para que o espírito dessa entidade também adormeça e não queira se vingar até o ano que vem. Então o Norman vai até onde ele acha que é o local no dia correto e na hora dele concluir a leitura do conto, o Alvin, que é um dos caras que fazem bullying na escola, tava pistolaço com ele e chega do nada já roubando o livro, bem no momento que o dia estava acabando. Então agora de vez a bruxa tá acordada. Isso desencadeia uma série de coisas paranormais, incluindo a ressurreição de sete mortos vivos que estão ali para atormentar essa turminha do barulho. Quem se junta para ajudar o Norman e o Alvin são o Nil, a irmã chata para do Norman e o novo personagem, que no caso é o irmão do Nil, servindo para seu estereótipo de jovem atleta que só se preocupa com o corpo. E spoiler, ele é disparado um dos melhores personagens. Meu amor, eu sinto muito, vai ficar tudo bem. Nós vamos resolver essa parada juntos, tá? Aqui o filme coloca em cheque essa parte de terror clássico que ele tem. Bruxas, zumbis, fantasmas e um grupo de adolescentes salvando a cidade. Tudo bem naquela dinâmica Scoobydo. Isso tudo é intencional, até porque a cultura pop é muito bem representada por aqui. Durante o filme aparecem diversas referências a filmes clássicos, tipo sexta-feira 13 e sexto sentido. E assim dá para ver que os caras estavam colocando carinho para fazer um visual marcante pras criaturas que aparecem. Tanto que na época de produção foi pedido para que eles dessem uma amenizada no design, porque tanto os zumbis quanto toda essa estética mais sombria poderia afastar um pouco o público infantil do filme, mas aparentemente eles cagaram e ainda bem porque isso daqui ficou muito bom e muito memorável. Eu lembro certinho de cada um dos zumbis, mesmo tendo assistido esse filme há mais de, sei lá, 10 anos atrás. Uma coisa que eu ainda não expliquei, mas vai ser importante pra continuação da história é basicamente como funciona a lógica da morte nesse filme. Resumindo, se você morreu de um jeito repentino ou tem alguma pendência que não foi cumprida em vida, você se torna um espírito. E se você morreu de causas naturais ou concluiu essa pendência depois de morto, você pode, enfim, descansar eternamente. A única exceção essa lógica aparece bem no comecinho, quando uma professora explica que na fundação da cidade essa mesma bruxa foi morta por parte da população. Sete pessoas abençoadas que buscavam trazer a pureza pro local foram amaldiçoadas pelo espírito vingativo da bruxa. E agora quando ela despertasse, eles se tornariam mortos vivos. Mas as coisas nem sempre são como parecem. A gente começa a entender melhor quando em certo momento o Norman é atingido por um raio lançado pela bruxa. Quando isso acontece, ele tem uma visão parecida com as que ele estava tendo anteriormente, só que dessa vez foi um pouco diferente. Ele é levado ao dia da execução da bruxa, descobrindo que os zumbis até então vítimas dessa entidade, na verdade eram um juiz e suas testemunhas. Testemunhas de que Agatha Prendergaix estava praticando feitiçaria e por isso ela é condenada à execução por enforcamento. E o seu crime foi revelar que consegue se comunicar com os mortos. Quando a gente olha pra Ágatha, descobrimos que, na verdade, a tão temível bruxa da cidade era só uma criança. Pesado. Norman acorda dessa visão e descobre que, na verdade, os zumbis não estavam querendo comer a cabeça de todo mundo. Eles só queriam dizer o quanto se arrependem pelo que fizeram, dizendo que essa atitude baseada no medo criou a maior pendência deles em vida. Eles clamam para que o Norman lesse o conto e acabasse com a maldição mais uma vez, para que eles pudessem adormecer pelo menos até o próximo ano. Só que agora o Norman entende que essa história é contada simplesmente para fazer uma criança, assim como ele, reprimir a sua raiva por mais um ano. Então, ao invés de adiar cada vez mais o sentimento da menina, a melhor forma seria conversar cara a cara com a Ágatha. Aqui nesse finalzinho entra um papo muito interessante onde o Norman taca na cara da bruxa a hipocrisia que ela comete, já que a forma dela lidar com a injustiça de pessoas que erraram no passado e machucaram inocentes, incluindo ela, é atormentando a vida de civis que não tem nada a ver com a dor que lhe foi causada. Essa sede de vingança em cima do passado faz com que ela nunca realmente descansasse em paz. Enquanto a maldição continuar, ela nunca será verdadeiramente livre. Em vida, ela sofreu na mão de pessoas ignorantes, mas com certeza, até mesmo naquela época alguém era bom e realmente a amava. As coisas ficam mais tranquilas. Ele consegue convencer a Agatha e numa cena linda, ela finalmente consegue descansar em paz nos ombros do Norman, enfim se libertando da maldição, assim como os zumbis que foram perdoados pelas crueldades que cometeram com a menina. A cidade toda comemora, novos amigos aparecem e o Norman finalmente se sente menos sozinho. Tá, pera aí, pera aí, vamos com calma. No meu canal, eu já fiz vídeos sobre o que para mim é um vilão perfeito ou um filme que tenha um visual perfeito. A palavra perfeição tá atrelada a diversos conteúdos que eu já fiz por aqui. Então, depois de toda essa jornada, não custa perguntar. Para mim, para Norman é um filme perfeito? Não, aqui a gente não pode deixar a Nostalgia falar mais alto, porque para mim, infelizmente, esse filme carece sim de algumas coisas que poderiam ser melhores. A trilha sonora, por exemplo, mesmo que combine bastante com a aventura que tá rolando na hora, infelizmente ela não é nem um pouco memorável. Isso inclusive fica até estranho tendo em vista aqueles visuais maravilhosos que eu tinha comentado agora h pouco. Em diversos momentos, a história também é meio parada. Os próprios dramas familiares às vezes se estendem muito mais do que o necessário, mas por outro lado, meu Deus, como esse filme tem qualidades. O processo de produção dessa belezura levou cerca de 3 anos para ser concluído. Semfell e Chris Butler foram as mentes responsáveis por dirigirem esse longa e suas maiores inspirações na parte mais aventuresca da jornada foram ingunes e caça fantasmas. Mas diferente desses filmes, embora Paranorman tem uma carcaça de conteúdo infantil, ele não dispensa diálogos, analogias e piadas. bem mais adultas do que você veria normalmente. Que que você tá assistindo? Sexy violência. Hook. Uma atitude também corajosa aconteceu na escolha de personagens que, se vocês forem perceber, no fim, basicamente não existe um vilão a ser odiado. Geralmente em filmes com o maior público sendo infantil, é colocado um personagem que represente o bem e um vilão que represente o mal. Além de ser um padrão mais fácil de ser contado, isso auxilia uma pessoa informação a entender o que ela pode ou não se basear na vida. Normalmente esse contraste entre o que é bom e ruim existe para ensinar lições importantes aos pequenos, além de vender boneco para Mas aqui, quem seria o vilão? Os zumbis, mesmo com uma aparência ameaçadora, só queriam se desculpar pela ignorância que cometeram em um tempo diferente. A bruxa não passava de uma criança confusa que só precisava de um ombro amigo para que ela pudesse descansar em paz. Tanto o pai quanto o Alvin, embora tivessem esse preconceito pela forma que o menino age, no final das contas, eles estavam ali quando Norman precisou de ajuda. Nem tudo é 100% certo ou 100% errado. Nem todo mundo é sempre bom, mas isso não significa que essas pessoas sejam ruins. Essa para mim é uma forma de crítica incrível que funciona tanto para crianças quanto para adultos. Porque querendo ou não, a vida real é assim. Claro, não com base em uma pessoa que vê gente morta, mas as diversas analogias que podem ser traçadas com o protagonista. No jornal The Guardian, o Butler cita como Paranorman tem como objetivo mostrar como pessoas podem ser intolerantes baseadas na ignorância ao que não entendem. E isso em nenhum momento precisa ser referente a fantasmas. Ses e vídeos aqui do YouTube falam como Paranorman representa muito bem, através de um tom leve, esse preconceito enraizado na sociedade, que pode afetar muito a vida de uma criança. A gente pode falar de uma pessoa que deseja seguir uma profissão e é reprovada pela família. E no caso, a coisa que eu mais notei de cara foi uma alusão muito grande à homossexualidade. Quando eu acabei o filme, a primeira coisa que eu fiz foi pesquisar sobre e realmente existem vários PDFs e matérias dedicadas a falar exclusivamente desse tópico. E é legal falar que existe uma cena em que a irmã do Norman fica dando em cima do irmão do Neil lá, o gostosão. Aí quando ela chama ele para sair, ele fala: “Olha só, você vai adorar o meu namorado. Ele se amarra nesses filmes de menininha”. Uma piada engraçada e muito bem encaixada, mas que se você for pesquisar sobre, vai descobrir que, na verdade, essa bobeirinha foi simplesmente a primeira vez em que um personagem é assumidamente gay em uma animação infantil. Os personagens, mesmo sendo genéricos, funcionam muito bem e entregam muitas lições valiosas a respeito de amor, serenidade, maturidade e mudanças. Um filme muito bonito que gerou uma bilheteria bacana lá em 2013. Ele chegou até a ser indicado ao Oscar desse ano. Infelizmente acabou perdendo pra valente e depois ele sumiu. Aqui mora a parte triste de tudo isso. Infelizmente com o tempo esse filme acabou sendo esquecido por muita gente. OK, ele não é perfeito, mas eu sinceramente não vejo nada que impeça ele embater de frente com os outros filmes vangloriados da Laica Studio. Inclusive, eu nem falei, mas se você não sabe, a Laica criou tanto Paranorman quanto outros stop motions que você deve conhecer, tipo Coralini e Cubo. É muito triste ver que todas as animações do estúdio, por exemplo, tem uma coleção de bonequinho funco, tipo esses aqui, enquanto só Paranorman foi deixado de lado, ou que enquanto o jogo de Coralini se parece com isso, o de Paranorman é essa merda aí. Isso pode ter acontecido por diversos motivos. Talvez os pais tivessem achado um pouco pesado demais. Talvez ele tenha sido ofuscado pela competição entre filmes de animação muito bons dessa mesma época. Ou talvez as pessoas só não tivessem gostado tanto assim. Não vai ser um vídeo do YouTube que vai popularizar essa obra? Claro que não. Mas se por acaso eu fiz você gostar um pouco mais de um filme que na minha infância foi muito importante e continua sendo impactante até atualmente, acho que por hoje meu trabalho já tá feito. Muito obrigado por ter assistido o vídeo até aqui, cara. Não esquece de deixar esse likezão. Já desceu a tela para deixar o like? Aproveita e se inscreve nesse canal para ajudar a gente, paizão. 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