Por Dentro da Coreia do Norte: O Que Acontece Longe das Câmeras Oficiais

0
Share
Copy the link

[Música] Esse vídeo é a única gravação feita com drones num mundo da Coreia do Norte, filmada por um turista. Surpresos, os moradores do país mais fechado do planeta olham para o céu e tentam entender o que é que está voando. É o primeiro drone particular que conseguiu chegar aqui e isso já é um sinal claro. Os tempos mudaram para esse país e o segredo dessa nação tão isolada está prestes a ser revelado. [Música] Isso é um canal e é local. Por décadas, a Coreia do Norte foi um país cheio de mistérios. Ninguém de fora sabe de fato como vivem as pessoas aqui, nem quais são os seus costumes e suas tradições. Nem mesmo diplomatas ou funcionários de empresas estrangeiras têm acesso livre. Na verdade, até bem pouco tempo, tudo que tínhamos era só a propaganda do governo. Só mostravam o que queriam que a gente visse. Fortes invictos para Coreia. Nossa força nacional. E claro, também existem materiais no sentido contrário, com a mesma qualidade ruim, mas com outra narrativa, mostrando, por exemplo, os dissidentes sendo jogados direto no inferno. [Música] Quando Kim John Wandou matar o próprio tio, ele reuniu toda sua liderança, colocou o homem no meio de um campo de tiro, pegou uma metralhadora e o executou bem ali e depois jogou o corpo para os cachorros. Aqui, quando você entra no país, precisa arrancar o rótulo das bebidas. Jeans proibido, cigarro americano também proibido e até cachorro quente é proibido. Se você se divorcia, pode ser mandado para um campo de trabalho forçado. As prateleiras vazias, nem os itens mais básicos você encontra. Carro nas ruas, quase nenhum. E para completar, o governo constrói cidades cenográficas sem nenhum morador. Resumindo, para uns a Coreia do Norte é um paraíso comunista. Para outros é tipo viver em Mordor. Mas hoje a gente vai tentar descobrir como esse país é. E aí, ficou curioso? Então vem comigo. [Aplausos] [Música] Bom, pessoal, eu tô indo pra Coreia do Norte. Faz muito tempo que eu venho me preparando para essa viagem. Eu já conversei com quem já esteve lá, com quem já morou lá, trabalhou lá. com gente que trabalhou paraa Coreia do Norte e com quem passou a vida inteira estudando nesse país. Algumas dessas conversas vocês verão nos episódios que estão vindo aí, claro, se eles me deixarem entrar. E nenhuma dessas pessoas conseguiu me dizer o que exatamente me espera na Coreia do Norte. Eu não tenho quase nada de informação, nem sei direito que roupa vou levar. Falam que não pode usar jeans lá. Então, por via das dúvidas, eu tô levando uma calça de algodão normal, tô levando meu notebook e também o de sempre. O que eu uso para poder gravar? Quatro câmeras pequenas. Por que quatro? Para pegar vários ângulos. E pode ser que só me permitam entrar com uma das câmeras e, claro, prender as outras. E o importante é conseguir filmar alguma coisa. Se der certo, vocês verão uma Coreia do Norte como nunca antes. Vamos. [Música] Minha viagem começa num ônibus saído de Vlad Vostoque rumo à fronteira. No caminho, mando minha última mensagem pra família e fecho todas as minhas contas, porque os guardas podem levar meu celular. As placas já começam a aparecer em coreano. Desliguem o celular. Ali está o nosso trem paraa Coreia do Norte. Como podem ver, nós já estamos dentro do vagão. É um trem pequeno que só faz esse trecho entre a Rússia e a Coreia do Norte, de Cassã até o lado norte-coreano. Me deram esse compartimento, mas nem precisava porque a viagem dura só uns 10, 15 minutos no máximo. Mas o vagão parece sempre preparado para uma viagem bem longa. Colocaram travesseiro, colchão, cobertor. Olha só que bonitinho. É. Eu curti. O maquinista levou um pote de quinti, arroz cozido e bastante água. E claro, uma tonelada de cebola. No lugar do guardanapo, papel higiênico. Pronto, nós acabamos de sair da Rússia. Aquela lá no fundo é a China. E aqui é onde começa a a Coreia do Norte. Ali dá para ver a estrutura de uma ponte que tentaram construir ligando a Rússia à Coreia do Norte. Prometem essa obra já faz anos, mas por enquanto ficou só no papel. E assim cruzamos acerca de arame farpado. Então estamos oficialmente em outro mundo. Logo de cara, uma coisa chama atenção. A quantidade enorme de soldados andando pelos campos. normal numa fronteira, mas nenhum deles está armado. Aquele ali tá carregando uma maca, outro tá com uma P no lugar de fuzil, mais um segura uma sacola. Esses soldados não estão aqui para lutar, estão aqui para trabalhar na roça. A Coreia do Norte tem o maior exército proporcional do mundo, 1 milhão de soldados para 26 milhões de habitantes. Isso significa que 4% da população está nas Forças Armadas e o serviço militar aqui dura 10 anos. Mas nem sempre é serviço de combate. Muitos vão pra universidade e isso também conta como serviço. Durante minha viagem, vi soldados em tudo quanto é lugar, mas a maioria trabalhando em obras públicas. No começo eu não entendia porque só alguns tinham a pá na mão. Logo eu ia descobrir. [Música] Por fim, o trem chega. Durante a viagem, recebemos uns cartões de imigração. Precisa preencher tudinho, detalhe por detalhe, com tudo que tá trazendo. Anotei tudo, celular, microfone, baterias, até o pen drive. [Aplausos] O problema é que o papel não foi feito para quem viaja com tanto equipamento assim. Não tem espaço para escrever tudo que eu trouxe. E para ser bem sincero, eu tô tenso. Tô levando muita câmera e eu não faço a menor ideia de como os guardas vão reagir. Nós chegamos, né? Eu acho que não. Ah, eu achei que já dava para descer. Ainda não. Foi aí que eu percebi uma coisa estranha. Um dos caras do nosso grupo tava usando um broche do Partido Comunista da Coreia do Noito. Ele entrou com a gente lá em Vlad Vostot, mas ficou o caminho inteiro escondendo o broche debaixo do casaco. Agora eu tô tentando lembrar se eu falei besteira no caminho. Aquele ali é o camarada K. É o camarada K. Chamamos de camarada. E daí minha ficha caiu com esse monte de câmera. Vai ser bem difícil me deixarem entrar na Coreia do Norte. Agora sim a gente desce. É, bora. Legal. Obrigado. A rada tá terminando de preencher. Ainda falta umas coisinhas aqui e eu já tô me preparando para quem sabe voltar para casa. Olha ali que tem alguns rostos conhecidos. E essa é a sua autorização. Pode acenar, por favor? Claro, tem uma caneta aí. Poderia pegar a mala paraa desinfecção? Ah, desculpa. Você tem uma caneta para me emprestar? Eu tenho que assinar tudo isso aqui. Oi. Ai. Não, não, não precisa. Obrigado. Pode deixar que eu pego. Obrigado. Tudo bem. Um agente da alfândega ajuda a colocar as malas numa máquina gigante de desinfecção. Parece moderna, mas em vez daquelas bandejas de plástico, é tudo caixa de papelão. E claro, nada cabe direito, mas o guarda consegue dar um jeito. Ah, já tá indo, já tá indo. Fica tranquila. Agora é a minha vez de colocar as coisas na caixa vermelha. Já pode, galera. Eu tô com o meu coração disparado. Será que vão me deixar entrar? Será que não? Tem chance de não rolar. Prontinho, galera. Estamos oficialmente na Coreia do Norte. Estamos no ônibus. Acho que vão levar a gente pro hotel. [Música] Passar pela imigração foi até fácil demais. Ninguém perguntou absolutamente nada sobre a quantidade de câmeras que eu trouxe. Primeira parada, vamos conhecer a casa da amizade entre Coreia do Norte e Rússia. E assim, desde o começo, eu sabia que queria fugir um pouco desse roteiro padrão. Primeiro descobrir o que de fato o povo daqui come. Porque, claro, iam me levar para restaurante de turista, mas eu queria comida de rua da vida real aqui. Segundo, queria visitar um mercado de verdade, mas já sabia. Só iam me levar naquelas lojinhas de turista para comprar souvenir. E terceiro, andar num transporte local, sabe? Não nesses ônibus de excursão que leva a gente para tudo quanto é canto. E se desse conhecer alguém daqui, entrar na casa de um norte coreano. Só que claro, isso é proibidíssimo. Eu sabia que os guias iam fazer de tudo para me impedir. E olha, não eram poucos, não. Lembra aquele cara da insígnia? Agora ele nem esconde mais. anda com ela no peito de boa. Além dele, tinham três mulheres acompanhando a gente. E lá na frente, aquele cara que eu apelidei de camarada major, tudo para cuidar de 10 turistas. Uma das guias ficou gravando tudo, cada passo que nós dávamos, querido. Sim, sim. É um privilégio estar aqui. Com certeza. Esse país é maravilhoso. São ótimas nesse país. Eu esperava controle, claro, mas não nesse nível e com uma câmera ainda. Aposto que esse vídeo vai parar em algum centro onde um monte de gente fica assistindo e analisando cada coisa que nós fazemos. [Música] Na Casa da Amizade Rússia Coreia mostraram fotos dos líderes e pediram para deixarmos uma mensagem num livro de visitas. Olha só que legal. Esse é o livro de visitas da Casa da Amizade. Que legal. Tem muita assinatura aqui. Muita gente já passou por aqui. Eu posso dar uma olhada? Olha só isso. Com respeito ao povo da República Popular Democrática da Coreia, até escreveram em coreano. Aqui tá escrito agradecimentos em coreano também. E olha só o que diz aqui. Isso é maravilhoso. Ah, aqui são as traduções. É isso. Tá sempre assim, em russo e em coreano. Tipo aqui, Coreia e Rússia. Amizade para sempre. Agora eu entendi. É isso mesmo. A gente escreve aqui e depois eles traduzem tudo. Que legal. Eu vou deixar o meu recado. Bom, deixa um espacinho embaixo, tá? Ah, muito obrigado pela recepção calorosa. E na mesma hora, os guias já começaram a traduzir tudo o que a gente escrevia. Tudo isso para garantir que ninguém colocasse nada que fosse fora do contexto. Aquele cara da insígnia também deixou uma mensagem. Tá vendo essas plaquinhas aqui em cima? Elas mostram as datas que algum líder visitou esse lugar para reunião ou para negociar alguma coisa. Vimos essas placas em vários prédios por onde passaram os trens king, os líderes daqui em épocas diferentes e logo de cara já explicaram como a gente tem que se referir a eles. O fundador é o Kim e o Sun, mas se você falar só assim, um norte-coreano vai te corrigir. Aqui eles dizem grande líder, camarada Kung. Depois ele passou o poder para o filho King John Will, que virou o grande líder. E hoje o atual é King John 1, que aqui é chamado de O grande Marechal. E qualquer coisa relacionada a eles automaticamente vira objeto de culto. Isso não é de hoje, não. É coisa de décadas. Nessa cena, por exemplo, depois da morte do King John Will, as mulheres choravam do lado da escada rolante porque um dia o grande líder desceu por aquela escada. Os retratos dos dois primeiros líderes são obrigatórios. Tem que ter em todo apartamento, prédio do governo, escritório, estação de metrô, em todo lugar. E até hoje o retrato do King um só tá em um lugar, na Universidade Central da capital. Essa aqui é a única foto dele assim. Aqui os retratos são praticamente sagrados. Todo dia a primeira coisa que qualquer norte coreano faz é limpar os quadros. E detalhe, tem um pano específico para isso, que não pode ser usado para mais nada, porque pode aparecer uma inspeção e se estiver sujo, já sabe. Uma imagem limpa, como a pureza da nossa terra. [Música] Durante a estadia de vocês, vocês vão conhecer o nosso país, a nossa política, a nossa economia e a nossa cultura. Assim que começa o passeio, você percebe uma coisa. Tem muita gente trabalhando. A maioria no campo, lavrando combo, usando arado de madeira. E olha só, até tem umas máquinas, mas são da época soviética. Me falaram que isso vai mudar. [Música] [Aplausos] Até transporte de mercadoria às vezes é no boi, em um tronco ou nas costas. E olha o terreno cheio de buraco desnivelado, pesadíssimo. Desculpa, galera, eu tô tentando filmar do jeito que dá, mas tá bem difícil. O asfalto simplesmente acaba. E no meio desse caminho todo esburacado, olha lá um monte de gente tentando consertar na mão na força bruta. Outra coisa me chocou, boa parte da costa da Coreia do Norte tá cercada com arame farpado. Isso aqui é é uma cerca. É, é uma cerca, sim. Eu achei que aqui já fosse a fronteira. É arame farpado praticamente na praia inteira. Sim. Deixaram a gente descer do ônibus para ver o mar. Olha só que vista linda dessa costa. A praia é enorme, ela é super bonita, mas tá completamente vazia e o motivo tá bem na cara. É a cerca ali que não deixa ninguém entrar nem sair. Ali na frente tem até uma base militar. O soldado tá patrulhando a beira da praia, por isso não tem ninguém curtindo aqui. Mas fala sério, é linda demais. Se olhar no mapa de satélite, verá quase toda a costa da Coreia do Norte cercada de ponta a ponta. As pessoas não podem ir pra praia. Existem somente uns trechos liberados, tipo na região do balneário de Wan e mais uns dois pontos ali para cima. Para quem quer sair pro mar, pescar, por exemplo, tem que seguir um protocolo especial. Até no kier na cidade tem segurança militar. Acho que tem duas meninas lá na praia e parece que o soldado tá mandando elas saírem. Não acho que vai acontecer nada com elas, mas sinceramente eu nem sei direito quais são as regras. A gente só pode vir até aqui. Não dá para passar até aqui. Dá para ir até aquele galho ali, pelo menos tem um militar aqui só para garantir que ninguém fuja pelo mar. Olha lá, aquela é a cidade e em algum lugar daquela costa tá o nosso hotel. Colocaram a gente num lugar isolado onde não tem para onde ir. Se você não for de carro, não chega na cidade de jeito nenhum. Quando entramos na cidade de Raçon, a primeira coisa que chamou atenção foi a ausência de propaganda comercial. Só tem cartaz e slogan de propaganda estatal. [Aplausos] Essa é a capital da zona comercial de Rom. E para mim, a coisa mais curiosa daqui é que, diferente do resto da Coreia do Norte, é que aqui eles aceitam moeda estrangeira. Você consegue pagar em Yan, dólar, libra, tudo na boa. Eles são bem abertos quanto a isso. Na real, turista nem paga com moeda local. Bom, vem comigo que eu vou tentar conhecer pelo menos um pouco mais de como funciona aqui. Bem, ali estão pendurando um cartaz de propaganda. Olha só a cena. Um trabalha, dois seguram a escada e mais quatro ficam só olhando. E aquele de roupa preta, certeza que é alguém do partido. Dá para perceber na hora. E isso não é coincidência, não. Aqui é assim mesmo. Três seguram, dois fiscalizam e sempre tem um do partido supervisionando. A lógica é dividir a responsabilidade, porque se der ruim ninguém sair leso. Nesse momento eu entendi porque lá no campo somente alguns soldados estavam com a pá. [Música] Tem outra coisa, os únicos pedestres que tem prioridade no trânsito são os militares. E olha, tem muito mais carros na Coreia do Norte do que falam por aí. Essa história de não tem carro é coisa dos anos 1990. E a primeira vez que eu ouvi falar sobre a Coreia do Norte foi em 2000. Uns vizinhos nossos tinham ido para lá a trabalho e mandaram os vídeos que para mim eram bem chocantes. Esta era a Pinongyang no ano 2000. Quase que não tinha carro. Ninguém na rua parecia um feriado eterno. As estradas completamente vazias. Nenhum carro, quase nenhuma pessoa na rua. A cidade, sei lá, parecia abandonada. E até hoje tem lugar que não deixam nem tirar foto direito. Isso. O problema é que podem pegar a sua câmera, mas o pior é que podem te prender também. Aí ferrou. Mas hoje a coisa mudou. Tem bem mais carro rodando. Até trânsito às vezes rola em Pinon. Mas aqui em Razon ainda não tem táxi oficial. Apesar disso, olha quantos táxis passando. E cara, eu decidi, vou tentar entrar num desses. Custe o que custar. Nas cidades daqui realmente tem poucos carros. Isso é verdade, mas não é que não tenha nenhum, não passa um ou outro de vez em quando. A maioria dos carros vem da China, mas eu também vi alguns Randver, Mercedes, Land Cruiser, tudo meio antiguinho, mas olha só, tá tudo rodando. Ah, e claro, bicicleta para todo lado. Tem das normais, mas também tem muita bicicleta elétrica. Aqui ter uma bike elétrica é sinal de que a pessoa tá bem de grana. E por isso que a rua parece vazia de carro, mas de bicicleta tá cheia. Outra coisa que chama atenção são essas câmeras de trânsito. Isso indica que tem bastante movimento. Sim. E olha só, pessoal, tem um policial que tá atrás de mim com um radar de velocidade. Vai que ele mutar alguém. A regra aqui é simples. Dirija devagar. 40 40 40 por hora. E já tomou multa por excesso de velocidade? Não, o motorista é exemplar. Aqui todo mundo anda na linha. Hum. Podem gravar, podem tirar foto. Essa parte tá totalmente liberada. Muito rápido, eu percebi que a minha ideia de curtir o rolê que eu gosto não batia muito bem com a ideia dos organizadores. [Música] Nós chegamos a um banco para trocar o nosso dinheiro. Como eu falei, Raçon é uma zona econômica bem especial. Aqui rola qualquer moeda, mas a que mais circula aqui é o Yan. Só que o banco estava fechado. São 5:30, mas o banco fecha às 4:30. Mas pasmem, galera. Eles prometeram abrir o banco só pra gente. Mano, é a primeira vez que eu vejo isso. Pelo menos vai dar para comprar alguma coisa, finalmente. E não é que abriram mesmo? E não é que abriram? Estamos dentro do banco. Eu não sei se pode filmar. Ah, será que eu filmo ou não? Deixa eu ver a cotação. [Música] E tá tudo traduzido pro inglês. Isso porque aqui é uma zona internacional. Até financiamento eles oferecem. Tem moradores trocando dinheiro também. É, parece que eles estão meio constrangidos tudo porque tá cheio de turista olhando e do nada chegou uma galera aqui no banco e eu não sei quem são, considerando que o banco tava fechado e só abriram pra gente. Mas eu acho que eles aproveitaram que abriram e vieram. E olha só, muita gente fala que na Coreia do Norte tem cena armada, tem coisas encenadas para turistas verem. Tem jornalista que jura que os caras constróem bairros inteiros só para fazer propaganda e que as casas na real estão todas vazias. Sendo bem sincero, eu não vi e nem me deparei com nada disso durante toda a viagem pela Coreia do Norte. A ideia de que um país pobre construiria dezenas de prédios só para blogueiro filmar parece, no mínimo, absurda. Aliás, nem quiseram trocar nosso dinheiro por onoreanos. Falaram para pagar só em moeda estrangeira. Na prática, é bem melhor pagar em Yan. Todo mundo faz isso aqui. Até os coreanos. Até vocês. Sim. Confesso que eu queria muito conseguir uns mais como lembrança, porque de qualquer jeito não deixam a gente usá-los para pagar. Até agora não entendi o porquê. E aí veio outra surpresa, um cartão de banco da Coreia do Norte, tipo um cartão de crédito, Visa, master, mais local. Eu já tinha ouvido falar disso, mas achava que era a lenda. E aí eu perguntei: “No dia a dia vocês usam cartão?” Não entendi. Eu estou falando desses cartões de crédito. Cartão de verdade. O quê? Porque ali na nossa cara uma mulher entregou um cartão para uma pessoa. Claro. Sim. Depois de muita conversa, parece que demos sorte. Bom, agora vamos descobrir o que é, afinal um cartão bancário da Coreia do Norte. Até esse momento, eu sinceramente não acreditava que ia rolar. Conseguir um cartão de banco já é um processo demorado em qualquer lugar. Para um estrangeiro, então pode levar semanas. Aqui eu achava impossível. Então quer dizer que deram pra gente o cartão de crédito? Aham, sim. Vamos ver. Um dos caras que tava com a gente desde a Rússia mandava muito bem no coreano e no espanhol também. Sem sotaque nenhum. Ele resolveu tudo pra gente. Ficamos ali hipnotizados, olhando pra atendente, contando o dinheiro. Ela foi só montando pilhas de dinheiro na nossa frente. O dinheiro daqui é muito desvalorizado. E aí, conseguimos o cartão? Claro que sim. Que coisa maluca. Nunca imaginei ter um cartão bancário daqui da Coreia do Norte. Tô chocado que seja verdade. Eu só queria entender quanto tempo leva para um norte-coreano conseguir isso que a gente tá conseguindo agora. Eu tô falando sério, pessoal. Eu tô muito impactado com isso. Logo chamaram um de nós para ser o primeiro da fila. Tá aí na mão. Um cartão bancário, 100% notoreano. Depositamos 25 em cada cartão. E para falar a real, ninguém nem usou. Repara na mesa, tá cheia de cartão. A moça agora precisa garantir que cada cartão esteja com 251 ans, que ah, que a gente acabou de entregar em dinheiro. Agora, pessoal, a gente vai sair daqui com um cartão de Banco Norte coreano, que nem sei se isso me coloca em uma sanção internacional. Será que é uma conta de verdade ou só é um cartão pré-pago que só pode gastar aqui dentro? Sinceramente, eu não faço ideia, então é só esperar. É sério, de verdade, eu não sei se fica registrado no sistema internacional ou se é só uma parada interna, mas pensando bem, eu acho que nem chega a ser uma conta. Não pediram nenhum documento, passaporte e ninguém assinou contrato. Deve ser então só um cartão pré-pago. Pouco depois, recebo o meu dinheiro trocadinho. Prontinho, galera. Dinheiro na mão. Isso foi bem interessante. E o cartão aqui também não tem nome, só tem números. E um detalhe, nem tem número no verso. Olha só. E aqui tem cerca de 25 ans aqui tá o valor da cotação em um 11 local. E com esse carinha aqui eu pago as coisas dentro da Coreia do Norte. Só mais tarde percebi que tem uma parte do cartão que tá coberta com um marcador. O que será que estão escondendo ali? Comenta e diz o que acha. [Música] Galera, olha só que curioso aqui. Queria muito mostrar isso para vocês. Como funciona a logística? Ali é um mercado. Olha o tamanho dele. Ali tem vários prédios onde moram pessoas. Tem lojas, táxis, gente para todo lado. Duas mulheres acabaram de chegar no mercado de táxi, mas a gente não pode entrar. Já avisaram que não podemos ir para lugar nenhum. É, eu tô vendo uma placa ali que deve ser o que vendem nessa loja, não é isso? Imaginei. Nossos guias nem deixam a gente se aproximar de mercado, nem de barraquinhas, de nada. Mas de noite eu consegui escapar e cheguei num mercadinho no meio da rua. Pessoal, isso é uma pera coreana. Quanto custa? Custa o kilo. Nossa, tudo isso? Ah, não, não é caro não. Ah, que que é isso? E quem acha que isso aqui é coisa feita só para turista, tá enganado. Olha aí, é morador fazendo compra. Só que eles não querem que a gente veja isso. O guia ficou muito bravo porque eu me afastei do grupo e ainda foi explicar para a vendedora que nós não deveríamos estar ali. Vamos voltar para o ônibus. E sinceramente não entendo porque não deixam a gente comprar num lugar assim. Será que dá para pegar duas, por favor? Melancia, melão, abacaxi, melhor até tomate mel. E aqui tá escrito melancia coreana. É isso. Tá certo. Isso mesmo. Bom, galera, nós somos os únicos estrangeiros perto dessa barraquinha. Ela fica bem na praça central. E olha que interessante, a gente nem faz ideia de onde nosso ônibus está. E pegar um táxi para ir até o hotel, esquece. Só quem mora aqui pode pegar táxi. Turista aqui não pode pegar táxi. De verdade, eu não consigo entender o porquê dessa regra. Olha só, tem um telão ali. Ele transmite um programa para quem tá aqui na praça. Tem gente que vem para cá só para assistir TV. Olha ali atrás tem uma mãe e tem um filho. Eles estão assistindo. Dá para ver as janelas de alguns prédios que estão com as luzes acesas. Na verdade, reparando, são várias luzes acesas. Ah, tem gente morando ali de verdade. Seria bem esquisito se fizessem isso só pra turista ver. Não tem esse papo. Não faz sentido. Mas eu confesso que é bem estranho andar por uma cidade com tão poucos carros. E esse silêncio é bem bizarro, na verdade. Pareceria uma cidade abandonada, não fossem as bicicletas e os táxis. No dia seguinte rolou uma conversa bem desconfortável com os guias. Por favor, eu preciso que você apague aquele vídeo. Sério? Qual o problema de filmar uma barraca de frutas? A gente só comprou e comeu depois. Foi só isso que nós fizemos. Qual o problema? Isso não é bom. Se eu postar esse vídeo, aquela vendedora pode ser punida de alguma maneira, ela pode sofrer alguma coisa? Não sei. Eu não posso dizer. Nossa guia recebia ligação o tempo todo de alguém lá de cima. ficou tão nervosa que voltou várias vezes pedindo para eu apagar o vídeo. Fecharão a barraca dela por causa disso? É que nunca ninguém filmou um cidadão daqui assim no trabalho, na vida real. Isso não é permitido. Tanto que aquela senhora como eu podemos ficar em graves problemas e isso me preocupa muito. Tá, mas se preocupa com o quê? Você sabe, né? Você pode me explicar o que pode acontecer com aquela senhora? Ah, é que você não vai dizer nada. Tá bom, tá bom, tudo bem. Eu não quero que ninguém tenha problemas, tá bom? Ordens são ordens, não é? Então, isso foi ordem dos seus chefes? Foram os seus chefes que mandaram fazer isso? Sim. Ah, foram seus chefes, sim. Mas a mulher não ficou incomodada, foi super gentil. Não pode. Tá, tá bom, eu vou apagar. Resumo da história, eu tive que apagar o vídeo. Quem entende sabe que o vídeo apagado é fácil de recuperar depois. E para ser sincero, eu não vi nenhum sinal de medo na vendedora enquanto eu gravava. A interação foi super tranquila, até simpática. Nervos ficaram os guias que exigiram que eu apagasse. As pessoas aqui não estão acostumadas a isso. Nunca aconteceu isso antes. Nunca. É a primeira vez que um estrangeiro simplesmente compra uma fruta e filma. Eu fui o primeiro. Fugi do protocolo. Mas eu tenho que falar que as frutas delas são incríveis, principalmente as peras. Suculentas, docinhas, são sensacionais. Pode falar o que quiser da Coreia do Norte, mas de frutas eles entendem. Eu me diverti muito. É. E sobre o vídeo, tá? Tá, eu já tô apagando. No fim eles pediram para eu apagar tudo só porque a gente comprou uma fruta na barraca. Que absurdo, né? Ainda mais num lugar onde tem tanta, mas tanta barraquinha, tanta lojinha vendendo de tudo. O problema é que 99% dos mitos sobre a Coreia do Norte surgem justamente porque a gente não pode conversar com os locais e aí todo mundo volta para casa achando que aqui não tem comida, que não tem mercado, que não tem vida, que não existe nada. Fiquei tão curioso que resolvi me arriscar e ir até um mercado de verdade. Não posso contar como gravei essas imagens, mas elas estão aí. Aproveitem. Olha essa parte do aç. Assim que perceberam que eu era russo, começaram a me chamar. Camarada, camarada. Ela queria me vender carne de cordeiro. Fui andando até a parte de verduras. E pessoal, é sério, eu tava tremendo por dentro, mesmo parecendo um mercado super normal, cebola, alho, batata, tempero, mas se alguém descobre que eu tava filmando, nem quero imaginar o que poderia acontecer. Cada vez que alguém me chamava, eu travava. Camarada, repara só, praticamente toda a barraca tem um QR code. Aqui todo mundo paga assim. Aquele cartão do banco que eu peguei e quase não serve. Só dá para sacar dinheiro com ele. Então eu segui pra sessão de peixe. Olha esses camarões vendem só no atacado. E esses caracóis gigantes vivos. Logo ao lado tem Vieiras e grilos topo. Um tipo de grilo do Extremo Oriente que dizem ter um sabor bem especial. A qualidade do vídeo não tá boa, mas cara, eu tinha que esconder muito bem a câmera. O que importa é mostrar isso para vocês. Ali tem cabeça e miúdos de pato. Um cara tá consertando um fogareiro a gás. Cobri os vostes, mas olha, são todas vendedoras. Muitas usam colete vermelho ou azul. Parece que é um uniforme. E olha, o mercado é muito organizado. E os preços todos em Ian. Vou mostrar uns exemplos. Peixe empanado 2 o kg. Salmão 30 y esse carangueijão aqui 25. Somente moradores compram isso. Olha esse cardápio de um restaurante local. Pelo preço dá para ver que é coisa de local. Turista nem paga em um OM aqui. Um peixe frito com legumes 45.000. Menos de R$ 28. Uma bacia de frutos do mar misturado com carne, 70.000. Dá menos de R$ 45. Perto do mercado tem lojinha de brinquedo barato, fruta, verdura e umas bebidas que eu nunca tinha visto na vida. Aliás, Coca-Cola nem sinal, não tem, mas tem um monte de refrigerante parecido. Custa entre 7 e 10, tipo de 5 a R$ 8. Os snacks tudo local, cada pacotinho é mais ou menos R$ 5. E claro, a prateleheira de bebidas alcoólicas. Não sou o primeiro a filmar o mercado aqui. Tem imagens disso de uns 5 anos atrás. Pastel, carne, peixe, verdura, comida de rua. Aliás, a feira acontece muitas vezes na praça principal da vila. Por exemplo, os ovos aqui custam 800 a dúzia, menos de R$ 1. Nesses mercados todos compram. Gente comum, soldado e até umas fashionistas. Olha como essas meninas estão arrumadas para vir aqui. Depois falamos disso. [Música] Inclusive, só de olhar as roupas, principalmente o fato de ninguém usar jeans azul, dá para ter certeza. Isso aqui é a Coreia do Norte. Na real, o que se vende no mercado é bem parecido com o que se vê no resto da Ásia e os preços invejáveis. Não entendo de verdade porque eles não deixam turista entrar nesses mercados, se é por conta de umas brigas ou porque às vezes rolam os estresses. Temos vídeos para mostrar. E os vendedores se exaltam. [Música] Isso acontece em qualquer mercado. Se alguém acha que o mercado parece feio ou bagunçado, pode ter certeza. Se eu tivesse filmado direito sem câmera escondida, todo mundo veria um mercado super decente, cheio de comida boa. É sério, não entendo porque preciso filmar todas essas delícias escondido, se não tô fazendo nada de errado. Para falar a verdade, eu preferiria mil vezes comprar um caranguejo aqui por 251 anos e pedir para prepararem para mim no restaurante do que comer aquela comida padrão, bonitinha, feita para turista. [Música] Bom, galera, esse é o caminho de hoje. A missão é subir essa montanha até o topo. Queria poder muito filmar essas paisagens com o drone, mas até os drones pequenininhos de hobby são proibidos aqui. As únicas imagens que existem das montanhas do norte são de vídeos de propaganda com uma qualidade péssima e uma trilha sonora ainda pior. [Música] Mas o país é lindíssimo, cheio de montanhas e pouco explorado por turistas por motivos óbvios. E olha, a gente tá subindo aqui também para ver os famosos textos esculpidos nas árvores. O grande líder camarada esteve nesta montanha em 22 de junho de 1945. Já adianto, não dá para aprender história nessas excursões. A versão deles dos fatos é bem diferente da realidade. Mas eu estava bem curioso para ver de perto essas árvores com inscrições que na real foram o primeiro tipo de propaganda local. Kin Yunsun, avô do líder atual, foi indicado pelos soviéticos para comandar o norte da península coreana depois da guerra. E olha, ele segurou o poder tão bem que ficou quase meio século no comando e ainda passou o país para o filho. Grande parte desse poder se mantém na base da criação de mitos. E o primeiro desses mitos são as chamadas árvores revolucionárias. [Aplausos] São troncos com inscrições onde os guerrilheiros juravam lealdade ao Kim Unum. Mas detalhe, esses troncos começaram a aparecer só uns 20 anos depois da guerra. Primeiro aqui no norte e depois começaram a aparecer por todo canto. Dá para chegar pertinho e ver as inscrições. Olha só, elas começaram a aparecer em selos, cartões postais e até em museus. E o mais curioso, tem árvore com inscrição datada de 1942 ou 1943. Então, escreveram isto em 1942 ou 43, só que não celebram somente o King e o Sun. Falam também do filho dele, King John Will, que na época tinha acabado de nascer. Se isso não é visão de futuro, eu não sei o que é. E não para por aí. Eles também fazem inscrições gigantes nas pedras cavadas metros para dentro. E para quê? para poderem ser vistas até do espaço e para nunca sumirem. Talvez daqui a milhares de anos nossos descendentes olhem para essas inscrições e tentem entender nossa civilização, igual fazemos hoje, olhando para ruínas de povos antigos. [Música] Me responde uma coisa. Quando você acorda, como é o seu dia? O pessoal quer saber. Você pode contar um pouco pra gente rapidinho? [Música] Acorda. E a primeira coisa é limpar os retratos dos líderes, né? É isso. Todo dia tem que limpar, não é? [Música] Isso você tem que fazer todos os dias pela manhã. Ah, tem que limpar todos os dias. Como é? Tem que limpar todos os dias. Não pode esquecer nenhum. Todos os dias. Todos os dias. Todo dia. Entendi. É, é bem a cara da Coreia do Norte de nunca se casar, não é? Sempre firme, forte e disposta. Não, na verdade não é bem assim. Não, eu entendi. M aqui a gente nem fala sobre isso. Não se fala sobre isso por aqui. Aliás, não é só isso que eles não gostam. Também odeiam quando chamam o país de Coreia do Norte. E pelo visto, Ken John um abandonou de vez a ideia de reunificar as Coreias. Antes eles diziam que o sul fazia parte do mesmo país, só que estava temporariamente separado. Tanto que em Pinyan tinha um arco da reunificação. Só que em 2024 Ken John 1 mandou destruir sem nem avisar ninguém. Tá aqui onde ele ficava no mapa. E olha como ele ficou agora. Sumiu. Lembra aquele pedaço do meu cartão de banco que estava coberto com o marcador? Pois é, era o desenho da península coreana unificada. Agora não se fala mais nisso. Em todos os mapas do país, o sul simplesmente não existe mais. E dá para ver que fizeram as pressas, porque em alguns lugares a tinta tá meio falhada. Dá para enxergar o que tinha antes por baixo. Nunca anunciaram oficialmente essa mudança, mas todo mundo sabe. Isso rolou em janeiro de 2024. [Música] Aqui um telejornal do dia 15 de janeiro. K John 1 abraçando crianças. Palmas, mais palmas. E aí gritam, pulam, choram. Palmas de novo. E claro, foguete subindo, explosões, festa. Felicidade total. Aí no final, previsão do tempo e no mapa a península está inteira. Coreia do Norte e do Sul juntas. [Aplausos] No dia seguinte, outro jornal. De novo, Kingon um feliz, mais palmas, mais gritos e foguetes de novo. Explosão, festa. Só que dessa vez, na previsão do tempo, o sul da Península sumiu. Pela primeira vez em 70 anos. A Coreia do Sul não aparece mais no mapa. E assim todo mundo descobriu que o país tinha mudado de política. 비는 [Música] 길로 [Música] Bom, todos os nossos trajetos eram feitos só de ônibus, mesmo se fosse para atravessar só a rua. Tipo, agora nós saímos do restaurante, atravessamos e fomos parar no parque que estava literalmente do outro lado da rua. Mas a gente não pode ir a pé. A gente só pode andar de ônibus com eles. Andar a pé aqui nem pensar. Chegamos e na entrada medem a temperatura, igual fizeram em alguns restaurantes. E pela primeira vez podíamos andar perto os dos moradores locais. Parece um parque comum. Tem crianças dirigindo carrinhos elétricos. E olha só que legal a placa dos carrinhos são da União Europeia. As crianças brincam, andam de carrinhos, de patins, comem algodão doce e o mais curioso, elas brincam entre elas e com os pais, conversam, se divertem de verdade. Ninguém fica no celular, nem em chat. Aliás, até tem bastante celular por aqui. Sim. E depois eu vou mostrar como funciona, o que tem nesses aparelhos. A Coreia do Norte pode até ser um país fechado e sancionado por muitos outros, mas a dependência de celular continua firme, pelo menos fora desse parque. Não faço ideia que aplicativos usam, mas parece que ficam bem distraídos. Dei uma volta no parque e confesso que de começo achei que não ia rolar nenhuma interação. O pessoal me olhava desconfiado, mas eu percebi então que eu tava viajando. Sem falar muito, negociei com a moça da barraca de tiro. Só na mímica. Eu quero isso. É isso aí, galera. Bora atirar. Eu nem vou fingir que eu sou bom nisso. Eu não sou. Diferente desse cara aqui que acerta tudo. Ele é brabo. Parabéns. Sinceramente, eu não sei o por eu falei isso com ele em inglês. Eu nem sei se ele me entendeu, mas bora lá tirar. A minha intenção, na verdade, era ver como o pessoal ia reagir. Olha só esse cara aqui com uma mão só atirando, que nem cowboy. [Aplausos] Primeiro chegaram as crianças. Vamos ver se você consegue acertar. Muito bem. [Música] As balas que nós usamos aqui são tipo um plástico. E agora os adultos começaram a se juntar. Ah, próxima. Ah, o cara que atirava com uma mão só paga e vai embora. E sim, pagou eman. Isso. Isso foi pura sorte. Essa é a primeira vez que eu tô atirando na vida. [Música] Obrigado. Muito bem. Ah, tudo certo. Querem tentar? Vai, pode tentar. Tranquilo. Você quer tentar? Tenta. Tenta. No começo ninguém queria, mas assim que um dos meninos se animou, um homem deu um passo à frente. Ó, profissional. Ó. Mandou muito bem. Parabéns. Parabéns. Mandou bem. Parabéns. Depois as crianças tomaram coragem. Ah, foi bem, foi bem. Mandou bem. Perceberam que um dos garotos estava frustrado? A dona do stand de tiro ajudou ele e ele acalmou. Todo mundo ficou em silêncio, como se aquilo não fosse mais uma brincadeira, e sim algo sério. Boa. Muito bem. Perfeito. Sensacional. Parabéns. Não esperava essa atenção toda com crianças que nem me conheciam, mas da Coreia parece que isso é bem comum. Acertei. Acertei a mira. Também não imaginava que fossem tão sérios. Nem nas competições com armas de brinquedo. As crianças levavam isso muito a sério. Em nenhuma viagem vi tanto orgulho e tanta disciplina como aqui. Quando eles erravam um alvo, ficavam bravos mesmo. Tentei animá-los. Perfeito. Muito bom. Nosso motorista também foi lá atirar. Vai lá, quero só ver. E claramente é um franco atirador. Mas me pediram também para apagar esse vídeo. [Música] Valeu pessoal, obrigado. Tchau. Durante a viagem percebi várias vezes como qualquer brincadeira vira questão de honra. Aqui estão nos ensinando a preparar pratos típicos da culinária coreana. Isso estará em outro episódio só sobre comida, mas pro doce preparamos em homem. Para isso, precisamos esmagar o arroz com martelos até virarem uma massa. Tem sempre que tá molhando o martelo para ele para ele não grudar. Mas quando começamos, parecia que o chefe coreano tentava bater mais forte, melhor do que eu. Toda a vez eles entraram frenesi cada vez mais forte. Eu fico só observando. Ser forte e resiliente e nunca desistir faz parte da educação patriótica na Coreia do Norte e principalmente nunca desistir na frente de um estrangeiro. Tanto que nossos guias ficaram visivelmente desconfortáveis quando alguém do grupo quis oferecer doces para crianças. Parecia que eles viam aquilo como um gesto de pena desnecessário. E sim, teve fome na Coreia do Norte nos anos 1990. Isso já faz quase 30 anos. Só que por algum motivo muita gente acha que até aqui não tem comida. Mas pensar isso é como achar que em Moscou tem urso andando na rua com garrafa de vodica, que na Escandinávia tem mulher barbada, que em Nova York todo mundo é cowboy e que no Japão só tem samurai. Na prática, não é um país rico, mas definitivamente não é um país passando fome. A memória da fome é tão forte que qualquer pedacinho de terra, por melhor que seja, é usado para plantar. [Música] Na verdade, não tem muita coisa que chame atenção nas cidades daqui, mas essa paisagem realmente me impressiona. Não tem 1 m qu terra livre, é um vilarejo, mas tudo, absolutamente tudo, é cultivado. Cada pedacinho de terra que eu vejo aqui está arado e com algo plantado. Isso é incrível. Mesmo usando tudo ao máximo, ainda falta área agrícola no país. As imagens de satélite, ano após ano mostram claramente como eles tentam expandir a produção, especialmente depois de 2011, quando King John assumiu o poder. O país é basicamente montanhoso. Mais de 80% do território é montanha e isso dificulta muito a agricultura. Nem o campo de testes de mísseis escapa. Tem horta até lá. E nas cidades perto dos prédios há hortas e pequenas plantações. Muita gente vive em casas bem parecidas, todas térrias. Tem alguns modelos diferentes, criados em épocas diferentes. Bom, galera, agora deixaram a gente caminhar um pouco pela rua. Eu confesso que eu fiquei com medo de que fossem expulsar a gente. Olha só como são essas casas. Tem pátio interno bem cuidado. Tem horta dentro. Uma das paredes é pintada. As janelas são de vidro duplo, de boa qualidade. O telhado parece novo, mas uma casa como pátio e ele é inteiro de horta. Dá até para ver cebola crescendo ali do lado. A cerca interna, aquela que ninguém vê, é de madeira e é bem feita. Não tá torta e nem caída. E não tem lixo jogado em lugar nenhum. A porta interna é de plástico transparente. Por dentro não tem luxo, mas está tudo muito limpo. Na sala, como sempre, os retratos dos líderes. Tem o modelo antigo com eles sérios e o novo com ele sorrindo. Tem também um slogan revolucionário sobre a porta. E o detalhe, a TV fica coberta com um paninho. Eles cozinham em fogão a lenha com brasa. A água vem de um poço levada numa bacia grande como essa, mas nas casas mais novas já tem encanamento. Aqui dormem em camas, mas me disseram que muitos coreanos e outros povos asiáticos gostam de dormir no chão, no fut. No canto da sala pendurado tem um uniforme militar prontinho para uso, como se estivesse esperando. Ali onde tá aquela pessoa, tem uma pilha de carvão estocado pra cozinha e pro frio. E claro, logo depois vieram me pedir para apagar todo o vídeo. [Música] O que chama muito a atenção aqui é como tudo é muito limpo. Dá uma olhada só no chão, nos arbustos, nas áreas comuns. Tudo, absolutamente tudo tá bem limpo, tá bem cuidado, podado, tá organizado. As plantas ainda não estão verdinhas porque é começo da primavera, mas daqui a pouco isso tudo aqui vai ficar muito lindo, tudo com muito verde. Não tem um papel jogado e cada lâmpada, cada poste, tudo funciona. Bom, pessoal, isso daqui é uma lixeira que em cima tem um cinzeiro, tá inteira, tá impecável. Eu só vi uma pessoa aqui apagando o cigarro e depois jogando no lixo. De verdade, me impressiona como esse lugar é limpo e a mentalidade dos norte-coreanos com a limpeza, com a organização ao redor, tudo parece tão, tão certinho, tão organizado e é muito agradável até visualmente dá um bem-estar. Até as pedras decorativas estão pintadas. [Música] A gente já tá saindo do parque e indo pela estrada e eu reparo nesses postes baixinhos. Olha como estão bem pintados. Normalmente seriam de metal, mas enferrujariam se ficassem expostos assim. E tem uma placa de velocidade. E isso em cada esquina. E esse espaço pintado é para parada de emergência. Todos esses, todos esses postes estão pintados com detalhes, com faixas. E sabe o mais louco, pessoal? Não tem lixo na estrada, nenhuma garrafa, não tem nenhum papel, nenhum saquinho, nada. De verdade, é impressionante o quanto isso aqui é limpo. Olha só o que eu falei. Tem mais desses postes aqui e tá tudo no padrão. E essa limpeza chama mais atenção ainda quando você cruza a fronteira e vai pra Rússia. Aí o cenário muda. A estrada tá cheia de buraco, largada, não tem nem sinal de obra. As casas estão tortas, cheias de mato, os quintais abandonados. Temos que reconhecer isso nos norte-coreanos. E o mais surreal, tudo isso eles fizeram na mão, quase sem nenhuma máquina. Eles não só cavaram os campos, como construíram prédios enormes. As poucas gruas que eu vi são velhas e olha, são poucas mesmo. Vi também mulheres amarrando uma carga numa corda, subindo ela na base do tranco. O vídeo eles pediram para eu apagar, mas eu consegui salvar a foto. Aqui as pessoas trabalham em dupla. Um segura pá e o outro puxa com uma corda, sem trator, sem escavadeira, sem nada. Agora imagina o trabalho que é carregar toneladas de tijolos até o 20º andar. Não tem grua, não tem trator, não tem nenhuma máquina de obra na Coreia do Norte. Tudo por causa das sanções. Nossos governos proibiram de vender qualquer coisa que tenha metal, então, sem máquina pesada, sem combustível, sem gás, sem petróleo. E ainda cancelaram todas as transferências bancárias. Isso significa que eles só podem comprar as coisas no dinheiro vivo ou em criptomoeda. E pasmem, até monumento eles proibiram de vender pro país. Sim, tem uma cláusula só para isso. É tipo uma trollagem diplomática. Depois eu conto essa história dos monumentos. E sim, a Coreia não pode nem comprar adubo e por isso os campos são fertilizados com dejetos humanos. E não é mentira dos desertores, não. Eles realmente recolhem nisso para enriquecer o solo. Você tem que doar o seu próprio Fabi pro governo. E se você não bater a meta, você pode ter muitos problemas. E já aconteceu de muita gente ter que roubar dejetos dos seus vizinhos. Eu não sei nem se isso é roubo, cara. Mas tá aí. Esse é o processo de doação de biomaterial pro bem da pátria. Dá até para ver da janela, mas juro que eu não vejo motivo para rir disso, porque somos nós que colocamos esse povo nessa situação. Foi nossa política que fez eles ficarem assim. E rir disso é no mínimo uma coisa muito baixa, não tem graça. [Música] Quando eu tava sozinho, sem ninguém me olhando, eu tentava achar alguma coisa chocante aqui na Coreia do Norte. Pessoal, daqui eu consigo ver um pouco da vida comum dos coreanos. Olha só, eu tô no banheiro e é verdade. Olha só. Eu tô do banheiro e dá para ver que as casas são simples. Dá para ver que alguém cortou até uma janela no telhado. Tem criança voltando da escola. E repara como tudo é simples, mas tudo super limpo. Não tem uma parede quebrada, não tem pichação, não tem lixo jogado, tem banco na porta de casa, até o meio fio é pintado. E olha, chega até um carro. Pessoal, enquanto eu tô filmando, escutem, não acredito. Tem uma pessoa falando no telefone aqui na cabine, retirar? Sim, claro. É muito curioso ouvir isso hoje à noite pela janela do banheiro. Nunca pensei viver isso. Sim, eu na Coreia do Norte ouvindo alguém dentro do banheiro, mas infelizmente não me deixaram chegar mais perto dessas casas. Não entendo porquê. Eu tenho certeza que se eu chegasse eles iam me chamar para tomar um chá, comer alguma coisa e bater um papo. Sempre que me deixavam falar com pessoas comuns, eu aproveitava, falava, dava um oi. Olha, comprei essa raiz de jein 100. Bora provar isso aqui? Ah, eu posso comer ela direto assim? Aí na farmácia eu decidi passar a câmera pra vendedora, só para ver qual ia ser a reação dela. Segura para mim, por favor. Segura. E mesmo toda hora olhando pros nossos guias, parece que ela não ficou com medo de receber uma câmera de um desconhecido. Na real, eu tenho a impressão que ela até curtiu bastante. Hum, hum, hum. Ela tem um gostinho meio doce, sabe? É tipo uma balinha durinha. Hum, hum. Delícia. Aí veio outra vendedora e se animou e ficou olhando também. Ah, e a farmácia parece uma farmácia normal. Olha aqui, olha, pessoas locais. Sim, sim. É isso mesmo. A galera tá comprando. Tem gente que acha que tudo aqui é encenação, mas vendo o quanto eles são obsecados por limpeza e ordem, é pouco provável que eles botem figurante aqui todo dia só para fingir. Olha essa mulher de casaco azul, claramente incomodada com a minha câmera. Não parece tatuando não. E o Jinsen de fato faz bem pra saúde. É, sinceramente, o que eu levo daqui é a certeza de que os norte-coreanos não são tão diferentes da gente, não. Contam um monte de história de terror sobre eles, mas no fundo são pessoas normais como a gente. Lembra daquele cara que tava com a gente no grupo com aquele crachá? Eu achei que ele era do serviço secreto, lembram? Pois então, não era não. O cara só gosta de vir aqui para relaxar, simples assim. E na real ele se escondia da câmera porque tava com vergonha de assumir isso. Eu até consegui entrevistar ele, mas a câmera que eu tô segurando aqui, a memória dela foi censurada. Por quê? Porque eu usei para gravar umas mulheres trabalhando na obra. Lembram? A real é essa. A gente tem medo deles e eles têm medo da gente. Essa é a real. Talvez, na verdade, eles estejam apenas se protegendo. E como vamos julgá-los com tantas sanções? Mas olha, esse aqui é o país mais diferente de todos que eu já fui. Certamente é uma experiência única. E quantas vezes você veio para cá? Eu acho que eu já vim esse ano umas quatro vezes, mais ou menos. Quatro vezes? Umas quatro. Só esse ano? Sim, só nesse ano. Depois de quatro dias gravando, veio o maior desafio, sair do país com todo esse material. Porque acreditem, fingir que eu não sou blogueiro já não estava colando, viu? Você é um blogueiro. Agora pode falar o que você quiser. Fala um oi. Olá. E eu entendi que na fronteira eles podiam simplesmente confiscar tudo. Na revista pedem para todo mundo entregar o celular, notebook e desbloquear. Te fizeram entregar também? Sério? Que absurdo. Levam tudo, celular, câmera, cartão de memória, pen drive, tudo. E três turistas do nosso grupo, mesmo filmando somente coisinha boba, demoraram muito. Olha eles aí pedindo pra Rada desbloquear o telefone e entregar a câmera. Eu até tinha um plano para esconder os arquivos, mas não fazia ideia se ia dar certo ou não. Pronto, estão aqui todas as minhas coisas. Eu não faço ideia de quanto isso vai demorar. O resto da galera saiu antes de mim. Tá liberada? Sim. Depois da inspeção, me deram pen drive com o vídeo que um dos nossos colegas gravou durante toda a viagem. Paguei 2001 por esse material. É, me deram esse pen drive e ele vinha com um selo especial. Ah, o que que é? É um selo tipo um lacre para deixar claro que não foi aberto. Esse selo só poderia ser rompido depois de cruzar a fronteira. E formalmente esse era o único vídeo que eu podia levar. [Música] [Aplausos] [Música] [Aplausos] [Música] Mas na prática ninguém confiscou nada da gente, nem apagaram nada na fronteira. É, foi bem mais rápido do que eu esperava, cara. Foi até tranquilo. A rada foi a última a cruzar. Ficaram mais tempo com ela do que qualquer outra pessoa e daí colocaram a gente no mesmo vagão que viemos para cá. Bom, agora é só esperar o trem partir e a gente cruza a fronteira. E eu ainda tenho todo o material. Só que o trem ficou parado ali e eu comecei a ficar meio tenso pensando, será que estão organizando mais uma inspeção? Será que vão confiscar tudo agora? Aquele ali é um trem russo, então eu acho que tá na hora da gente ir. E pronto, agora estamos em movimento. As paisagens da Coreia do Norte ficaram para trás. A fronteira acabou. Saí da Coreia do Norte, galera. Ah, e é um sentimento meio doido. De um lado, eu tô sentindo um alívio enorme, porque agora eu posso usar a internet de novo, gravar o que eu quiser, ir para onde eu quiser, escolher o restaurante que eu quiser em Vladiv Vostoque e ninguém vai me dizer o que eu posso ou não filmar. Ah, acabaram os nervos, acabou o medo, acabou tudo. Mas por outro lado, essa com certeza foi a visita mais surreal de toda a minha vida. Eu nunca vi nada parecido. Para ser sincero, eu não esperava ver um país desse jeito. Eu nem esperava conseguir filmar tudo que eu filmei. E claro, infelizmente teve muita coisa que eu não consegui mostrar. Mas essa não vai ser a minha última viagem pra Coreia do Norte. Não vai. Daqui uns dias, se eu conseguir o visto, eu volto para Pinyang. Então, já se inscreve aí, ativa o sininho para você não perder nada. Isso foi só um aquecimento, só o preâmbulo, porque vem mais coisa aí. A verdadeira aventura na Coreia do Norte ainda está vindo. No próximo episódio vou contar para vocês quanto ganha um trabalhador comum lá. Falar de salário na Coreia do Norte não é nada fácil, viu? Quem são os donos do dinheiro na Coreia do Norte? Bom, galera, nos últimos 10, 15 anos, surgiu uma classe de gente rica por lá e eles são conhecidos como Dom Ju. E claro, quanto dinheiro tem o líder da Coreia do Norte? Bora ver a coleção de carros dele, as roupas de grife, as mansões e pela primeira vez vou mostrar o iate dele e também os túneis que ligam os bunkers secretos subterrâneos. Vamos dar um rolê por Pinhan o mais longe possível. Olha lá o prédio soltando fumaça. Vou mergulhar na cultura deles. E ainda não completei todos os desafios. Falta provar a comida de rua. Será que dá para ir até lá? Porque, cara, até um kiosque na Coreia é praticamente uma operação especial. Bom, eu tô tentando pegar um táxi norte-coreano. Bora ver se eu consigo entrar. Essa risada quer dizer que não dá, né? [Música] Bom, galera, acabamos de chegar num lugar que é bem curioso. É uma fábrica de alimentos que também é uma destilaria. Só que não tinha um funcionário sequer na fábrica. Será que isso funciona ou tá largado há muito tempo? [Música] Sem dúvida, é a visita mais estranha da minha vida. Mas quer saber? Em vez de ficar olhando destilaria, bora provar. Estas aqui são as instruções dessa vodica. Traduzindo, diz assim: “Beber esta vodica ajuda a aliviar o estresse. Eh, melhora bastante os sintomas de uma digestão, inflamação no intestino grosso e no delgado, netriste, insuficiência cardíaca, asia, hipertensão e neuroastenia. Resumindo, essa vódica serve para tudo. Se você tem problema cardíaco, se é homem de meia idade, essa voddica melhora o funcionamento de todos os órgãos. No geral faz bem pra saúde, hein? Eu vou tomar. E tem uma surpresa para vocês. Eu mesmo compus as músicas desse episódio e tô planejando lançar como um álbum separado. E para fechar, a nossa versão russa de uma das músicas mais populares da Coreia do Norte, porque afinal a gente não tem inveja de ninguém. [Música] Дорогой, ты наш навсегда. Ждём сердечный привет тебе. [Música] Не советуем никому. [Música] [Aplausos] [Música]

Comments

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *