Por que a FIAÇÃO ELÉTRICA no Brasil é um CAOS? Documentário Completo
0Essa é uma foto de uma rua de um bairro periférico de Madrid, a capital da Espanha. E essa é uma foto de uma rua de um bairro da periferia de São Paulo. Seria possível passar um bom tempo analisando as duas imagens e encontrando diferenças, como a qualidade do asfalto, a arquitetura e vários outros aspectos. Mas a diferença mais gritante entre as duas imagens está no alto, mais precisamente nos fios de energia ou na falta dele. Enquanto no Brasil o cenário urbano de muitas cidades é dominado por um emaranhado de fios, em grande parte da Europa e muitas outras grandes cidades do mundo, é completamente diferente. Há muitos anos, cidades como Paris, Madrid ou Nova York decidiram eliminar os postes e enterrar toda, ou pelo menos a maior parte da fiação utilizada para a distribuição de energia e outros serviços, como telefonia e internet. Essa decisão transformou completamente a paisagem urbana dessas metrópoles, criando um ambiente mais limpo, organizado e seguro para seus habitantes. Mas por que o Brasil ainda não seguiu esse mesmo caminho? Quais são os empecílios para o Brasil trocar os postes por fiação subterrânea? E será que essa mudança é apenas estética? Se você quiser saber as respostas, é só assistir esse vídeo, porque hoje vamos ampliar nosso conhecimento global sobre a distribuição de energia no Brasil. O tempo entre apertar o interruptor e ver a luz acender é praticamente zero, mas ele esconde todo o caminho percorrido pela energia até chegar nas nossas casas. Desde a usina onde é gerada até a tomada, a energia pode percorrer facilmente mais de 1000 km. A maior parte desse trajeto é feita através das linhas de transmissão, que são aquelas torres altas com vários fios que geralmente vemos nas estradas. Essas linhas de alta tensão levam a energia das usinas até as substações, onde a tensão é reduzida e enviada para as cidades. É aí que os problemas começam. Nas áreas urbanas, os postes passam a ser divididos entre os fios de energia e os cabos de outros serviços. Inicialmente eles foram criados só para a rede elétrica, mas com o tempo passaram a carregar também fios de telefone, TV a cabo, internet e fibra ótica. E são justamente esses outros serviços que criam cenas como as que vemos em muitas cidades brasileiras. Enquanto a energia é distribuída por uma única empresa em cada região, os outros serviços são oferecidos por diversas companhias e cada uma coloca o seu próprio cabo. O problema fica ainda pior quando os fios antigos não são removidos. Muitas empresas simplesmente instalam os novos por cima dos velhos, criando uma verdadeira teia de fios que já não servem para nada. Para piorar, existem empresas clandestinas que instalam seus cabos nos postes, sem nenhuma autorização ou controle. E embora esse cenário seja pior em grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, ele se repete no país inteiro. Segundo dados divulgados pela revista Isto é, menos de 1% da malha elétrica brasileira está abaixo do nível do solo. Fora do Brasil, em várias cidades do mundo, encontrar fios pelas ruas é cada vez mais raro. Nova York, por exemplo, começou a enterrar a fiação a partir de 1888, depois que uma forte nevasca atingiu a cidade. Hoje, 86% da fiação de Nova York fica embaixo do solo e, segundo a empresa que administra o serviço, são mais de 150.000 km de fios enterrados. Paris também é outra cidade que leva mais de 100 anos desenvolvendo uma rede de cabos subterrânea. A cidade luz começou seus projetos em 1910. e há pelo menos 60 anos tem toda sua fiação no subsolo. Segundo a BBC. Ainda que atrasada com relação a essas duas cidades, Londres também está correndo para enterrar os fios da cidade. Em 2020, a capital inglesa assinou um contrato de 1 bilhão de libras para remover os postes e fios da região sul da cidade. Até mesmo cidades de países que possuem mais semelhanças com o Brasil, como é o caso de Buenos Aires, estão avançando nessa área. A fiação aérea do centro da cidade foi removida em 1950 e desde 2005 existe uma lei proibindo a instalação de novas fiações de energia, telecomunicações e internet. Além dessas, várias outras cidades, como a própria Madrid, já mencionada no começo do vídeo, já eliminaram do cenário urbano os postes e os fios pendurados. Mas por que o Brasil insiste nesse modelo? Para o Brasil dar um salto e seguir o exemplo de todas essas cidades, será preciso muito mais do que vontade. Segundo estimativas, construir um quilômetro de rede elétrica subterrânea pode custar entre quatro e oito vezes o valor de uma rede aérea, convertendo em números, enquanto 1 quilômetro de rede convencional, compostes e cabos suspensos custa cerca de R$ 100.000, o mesmo trecho com cabos subterrâneos pode chegar a R$ 840.000. Em alguns casos, essa diferença é ainda maior. A Celesque, distribuidora de energia de Santa Catarina, informou em 2015 que uma rede aérea custava cerca de R$ 150.000 por quilôm, enquanto a subterrânea podia ultrapassar R$ 1.700.000. Grande parte dessa diferença vem dos materiais utilizados e da complexidade do sistema. Cabos aéreos são simples, expostos ao vento, com pouco isolamento, porque o próprio ar funciona como isolante natural. Já os cabos subterrâneos precisam de várias camadas de proteção. Eles são revestidos com materiais resistentes à umidade, a pressão do solo, ao calor gerado pela passagem da corrente elétrica e a corrosão. Além disso, esses cabos não têm dissipação térmica eficiente, por isso precisam suportar temperaturas mais elevadas sem comprometer a segurança da rede. E não é só isso. Uma rede subterrânea exige o uso de transformadores encapsulados, dutos de polietileno de alta densidade, caixas de passagem de concreto, conectores blindados, protetores reforçados e câmaras subterrâneas. Todos esses equipamentos precisam operar por longos períodos em ambientes fechados, com pouca ventilação e alto grau de umidade. Eles são mais duráveis, mas também muito mais caros. Com todos esses fatores somados, o custo de implantar uma rede subterrânea acaba sendo um dos maiores desafios técnicos e financeiros enfrentados pelas cidades que pretendem abandonar o modelo com fios expostos. Mas os altos custos são apenas a ponta do iceberg. Por trás da questão financeira, existe a pesada engrenagem da burocracia brasileira, que envolve diferentes esferas de poder e um emaranhado de competências que nem sempre se entendem. O caso mais emblemático dessa batalha acontece em São Paulo e se arrasta h quase duas décadas. Em 2005, a prefeitura da capital paulista sancionou a lei 14.023, 103, que obrigava as concessionárias de energia elétrica, telefonia e TV a cabo a enterrarem 250 km de cabos por ano. O tempo determinava que os custos seriam de responsabilidade das empresas, sem repasse para os consumidores. A medida previa transformar progressivamente a fiação da cidade. Se tivesse sido implementada como planejado, São Paulo teria hoje mais de 2.000 km de redes enterradas e poderia estar mais próxima da realidade de cidades como Paris e Madrid. Mas uma decisão judicial interrompeu esse processo. O Sindicato da Indústria da Energia no Estado de São Paulo recorreu a justiça alegando que o município não poderia interferir em concessões que são reguladas pela União. Em 2015, a justiça federal deu razão ao sindicato e concedeu uma liminar suspendendo a lei. Na decisão, a desembargadora Mônica Nobre afirmou que questões relacionadas à energia elétrica devem ser reguladas exclusivamente pela esfera federal. Esse julgamento criou um precedente que se espalhou por outras cidades brasileiras. Leis semelhantes foram suspensas no Rio de Janeiro e em outras capitais com base no mesmo argumento. Municípios podem legislar sobre o uso do solo urbano, mas não tem autoridade para interferir nos aspectos técnicos da distribuição de energia elétrica. Ainda em 2015, a situação se tornou mais complexa quando o governo federal sancionou a lei 13116. A norma deixou claro que cabe exclusivamente à União regulamentar os aspectos técnicos das redes de telecomunicações e de energia elétrica. Na prática, isso significa que qualquer tentativa de obrigar o enterramento dos fios, por meio de leis municipais, pode ser considerada inconstitucional. Com isso, formou-se um verdadeiro impasse entre prefeituras, concessionárias e o governo federal. Enquanto as prefeituras tentam legislar sobre o uso do espaço urbano, as concessionárias afirmam que não podem seguir essas determinações porque estão subordinadas as regras da ANEL, da ANATEL e as diretrizes definidas pelo governo federal. Essa sobreposição de responsabilidades criou um cenário de inércia, onde ninguém se entende, pouca coisa avança. Mesmo se todas as questões burocráticas fossem resolvidas da noite para o dia, ainda restariam um obstáculo gigantesco, a complexidade técnica das obras de enterramento. Para entender a dimensão do problema, basta olhar os números reais dos projetos já executados em São Paulo. A Elropaulo levou anos para enterrar apenas 4,2 km de fios na Vila Olímpia, investindo 21 milhões deais no projeto. O custo final ficou em torno de R$ 5 milhões por quilômetro e a velocidade da obra mostrou o tamanho do desafio. As escavações só podem ser realizadas entre 8 da noite e 4 da manhã para não prejudicar o trânsito durante o dia. De acordo com especialistas do setor, se fosse possível fechar uma avenida importante por 24 horas, os fios poderiam ser enterrados em 3 meses. Mas essa não é a realidade. O tempo disponível é curto e o trabalho noturno ainda gera reclamações dos moradores por causa do barulho. A situação se complica ainda mais com a falta de organização no subsolo. São Paulo cresceu de forma desordenada. Em muitas áreas, as galerias de água, gás e esgoto estão fora dos mapas oficiais. Máquinas escavadoras frequentemente encontram obstáculos inesperados e, em alguns casos, as obras são paralisadas por causa da descoberta de sítios arqueológicos. O programa SP Sem Fios ilustra bem essa lentidão. Lançado em 2017, com a meta de enterrar 65 km de cabos, o projeto completou apenas 37 km até 2023. Na média, pouco mais de 6 km por ano. Esse ritmo, seriam necessários mais de 3.000 anos para enterrar os 20.000 km de fios aéreos da cidade. Segundo especialistas, a indústria brasileira de materiais e equipamentos ainda não está preparada para atender uma demanda dessa escala. Por trás de todas essas questões técnicas e financeiras, existe um fator estrutural que ajuda a explicar porque o enterramento dos fios avança tão lentamente no Brasil. é a falta de planejamento de longo prazo, tanto por parte das concessionárias quanto do poder público. As empresas que operam a distribuição de energia assinam contratos com duração de 30 anos, mas funcionam sob pressão de resultados trimestrais. Investir bilhões para colocar os fios no subsolo não gera novos consumidores, tampouco aumenta o faturamento no curto prazo. Do ponto de vista financeiro, não há incentivo direto. Para acionistas e diretores, é mais vantajoso priorizar obras de expansão do que redesenhar a infraestrutura existente. No campo político, o raciocínio é parecido. Com certeza você já ouviu falar que político brasileiro não gosta de fazer obra que fica enterrada porque não dá voto. Por isso, geralmente prefeitos e governadores preferem investir em pontes, viadutos e praças que garantem visibilidade, foto na faixa de inauguração e retorno eleitoral. Já uma rede subterrânea, por mais útil que seja, desaparece da vista do eleitor e não rende capital político imediato. Além disso, como já vimos, obras como essas costumam durar mais do que um mandato. Prefeitos e governadores evitam projetos que só serão concluídos depois de deixarem o cargo. É mais vantajoso apostar em entregas rápidas, mesmo que elas não resolvam os problemas estruturais da cidade. Ainda que já tenha sido citado anteriormente, vale lembrar que, segundo especialistas da USP, a Indústria Nacional de Materiais e equipamentos não está preparada para atender uma demanda em larga escala. Sem planejamento de estado e continuidade entre governos, não há como criar um mercado capaz de dar conta desse desafio. Com tantos obstáculos econômicos, jurídicos e operacionais, o enterramento dos fios no Brasil acaba ficando sempre para depois. E com o tempo, a impressão que fica é que essa transformação não é urgente, já que os fios continuam ali, funcionam e fazem parte da paisagem. Mas será que essa é mesmo uma escolha sem grandes consequências? Ou será que os cabos enterrados trazem vantagens que vão muito além da estética? Na prática, manter os fios no ar tem um preço muito alto que vai além dos aspectos visuais. O sistema aéreo brasileiro se mostra extremamente vulnerável a eventos climáticos, como ficou evidente na tempestade que atingiu São Paulo em outubro de 2024. Os ventos de 107 km/h deixaram mais de 2 milhões de pessoas sem energia elétrica, com prejuízos que ultrapassaram a marca de 15 bilhão e meio deais apenas nos primeiros dias. Algumas regiões ficaram no escuro por mais de 5 dias, mostrando como uma única árvore que cai sobre os fios pode paralisar bairros inteiros, mas os problemas não se limitam a tempestades excepcionais. Um levantamento do Instituto de Defesa dos Consumidores revelou números alarmantes. Entre 2009 e 2024, foram registradas cerca de 36.000 ocorrências envolvendo fiações da rede elétrica e de telecomunicações. Mais de 4.000 pessoas morreram nesse período. Apenas entre 2022 e 2024, foram 25.127 pessoas acidentadas e 660 mortes. Um desses casos aconteceu no Rio de Janeiro, onde o porteiro Leonardo Monsores da Silva morreu após encostar em um poste na frente do prédio onde trabalhava e receber uma descarga elétrica. As mortes e acidentes acontecem principalmente por conta do mau estado de conservação da rede elétrica. Segundo a Anatel, dos 50 milhões de postes no país, cerca de 10 milhões estão abarrotados de fios e com ligações irregulares. Além de aumentar a segurança para a população, enterrar a rede elétrica pode trazer benefícios a todos os consumidores. Enquanto cidades brasileiras enfrentam apagões frequentes e quilômetros e fios expostos em grande parte da Europa, a energia elétrica já é um serviço quase invisível e muito mais eficiente. Segundo a União Europeia, os consumidores europeus ficam em média apenas 12,2 minutos por ano sem energia. No Brasil, a média ultrapassa 10 horas anuais, uma diferença que ajuda a ilustrar os efeitos de décadas de investimentos em redes subterrâneas e manutenção estruturada. Além da confiabilidade, as redes enterradas também transformam o ambiente urbano. Com menos interferência visual, ruas e avenidas ganham um aspecto mais limpo e organizado. Árvores podem crescer sem as podas agressivas que tentam evitar o contato com os cabos. E em muitas cidades, essas mudanças ajudam inclusive a valorizar os imóveis e atrair mais turismo. Mas os fios no alto dos postes não são um problema isolado. Eles fazem parte de um cenário mais amplo que inclui outros gargalos estruturais, como estradas precárias, transporte público insuficiente e serviços caros. Essa combinação de fatores somadas à pesada carga tributária tornam os carros brasileiros os mais caros do mundo. E se você quiser entender a fundo os motivos, é isso que eu te explico nesse vídeo que está aparecendo na tela. É só clicar e já nos vemos lá. Muito obrigado por assistir até aqui.