Por que a Nossa Geração Foi ROUBADA?
0Este homem de 30 anos em 1990 já tinha casa
própria, carro e estava criando sua família. E este homem de 30 anos em 2025 ainda
mora com os pais, e não consegue sequer dar entrada em uma casa própria.
Pela primeira vez em décadas, uma geração inteira vai ter uma vida
financeiramente pior que a dos pais. Enquanto nossos pais compravam casas
ainda jovens, essa geração está sendo conhecida como “a geração do aluguel”.
Mas tem gente que fala que isso é “escolha”. Que somos uma geração “desapegada”,
que preferimos “experiências” a bens materiais. E que alugar é mais “inteligente”.
Mas a realidade é que “93% da geração Z ainda deseja ter uma casa”. E “68% das
pessoas de 21 a 34 anos preferem comprar um imóvel a morar de aluguel”.
O sonho continua o mesmo. O que mudou foi nossa capacidade de realizá-lo.
Então, por que viramos a primeira geração em décadas que não consegue ter
o que os pais tiveram? E quem realmente se beneficia quando uma geração inteira
fica presa pagando aluguel para sempre? A verdade é simples e dolorosa: nós
não somos piores que nossos pais. Foi o jogo que mudou contra a gente.
“31% da geração Z mora com os pais porque não tem dinheiro para comprar ou
alugar seu próprio espaço”. A geração Z é formada por pessoas nascidas entre 1997
e 2012, ou seja, hoje com idades entre cerca de 13 e 28 anos. Não é preguiça e nem
falta de ambição. É que a conta não fecha. E existe um marco histórico que
explica quando tudo mudou: 1997. Nesse ano foi criado o Sistema de Financiamento
Imobiliário (SFI), que mudou completamente as regras do jogo. Antes de 1997, o Estado atuava
como provedor direto de habitação. Depois, ele se transformou em algo que os especialistas
chamam de “market maker” – ou seja, quem cria e estrutura mercados financeiros.
Essa mudança não foi pequena. O Estado passou a usar “instrumentos financeiros
‘típicos do mercado’ para política habitacional” através de um processo chamado securitização.
Depois disso ainda tivemos uma série de crises: A crise dos anos 2000, crise de 2008, crise de 2015…
Mas nenhuma delas teve um impacto tão grande no mercado imobiliário brasileiro como a pandemia
Com a pandemia, tudo mudou: o preço dos insumos utilizados na construção civil dispararouam.
Entre janeiro de 2020 e janeiro de 2022, o custo de materiais e equipamentos subiu mais
de 50%, com destaque para os vergalhões e arames de aço ao carbono aumentaram 89,69%, os
tubos e conexões de ferro e aço 95,70% e os tubos e conexões de PVC 88,32%.
Além disso, o mercado viu uma grande mudança no padrão de consumo por imóveis.
Com o avanço do trabalho remoto, muita gente buscou por casas maiores em cidades mais
afastadas, com mais espaço para trabalhar, áreas externas e mais conforto. Cidades menores passaram
a ser mais procuradas, e os preços subiram rápido — só em São José do Rio Preto, as vendas
cresceram 136% e os lançamentos, 255% em 2024. E a coisa não melhorou desde a pandemia. Pelo
contrário, só piorou. Em 2021, o preço médio dos imóveis subiu 10,38%, enquanto o custo de
construção, medido pelo INCC, disparou 13,85%. De lá pra cá, a Selic subiu, o crédito ficou
mais caro e o sonho da casa própria foi ficando cada vez mais distante. Só em 2024, a inflação
imobiliária no Brasil foi de 7,7% — mais que o dobro da média global, que ficou em 2,6%.
Foi a maior alta anual no país desde 2013. Ana Maria Castelo, da FGV, explica que “há uma
economia aquecida, com alta nos custos da mão de obra e escassez de imóveis” e que “o aumento
dos gastos com as construções são um componente bem relevante nos preços finais dos imóveis”.
Além disso, com a Selic em alta, “os custos para financiar um imóvel também aumentaram
significativamente nos últimos anos”. Por conta disso, “62% dos jovens brasileiros
acreditam estar mais complicado adquirir um imóvel do que em gerações anteriores, sendo
que 73% ainda sonham com a casa própria”. A primeira mudança é que construir
virou uma missão quase impossível “Era muito mais fácil dispor de mão de
obra no país” nas décadas passadas. O resultado é óbvio: menos construção,
mais escassez e preços mais altos. A segunda mudança é que o sistema
financeiro virou contra nós Hoje, os financiamentos têm “prazos de
pagamento de até 420 meses e juros nominais de 10% ao ano”. São 35 anos pagando uma casa.
O advogado Hector Augusto Côrrea, de 29 anos, teve um choque ao tentar comprar um imóvel em São
Paulo: “O preço está absurdamente caro, incluindo em regiões que costumam ser mais acessíveis,
como no Centro, beirando R$ 500 a R$ 600 mil”. E o pior: “Se você não tiver uma grande
soma para dar como entrada, basicamente pagará duas ou três vezes o valor do imóvel no
futuro. Isso não torna atrativo comprar hoje”. É por isso que cada vez mais jovens
ficam dependentes da família. Apenas “45% dos jovens adultos entre 18 e 34 anos
afirmam ser completamente independentes financeiramente dos pais”. O resto ainda
depende da família para sobreviver. “Segundo o Ipsos 76% dos entrevistados que pagam
aluguel possuem interesse em adquirir um imóvel, mas 36% acreditam que, devido aos altos custos,
não conseguirão concretizar este desejo”. A fisioterapeuta Alana Bastos, de 28 anos,
só conseguiu sair da casa dos sogros após conseguir um financiamento pelo Minha Casa
Minha Vida. “Pensamos muito na localização, porque não temos carro. A nossa geração usa
mais transporte público ou por aplicativos”. Ela e o marido compraram um apartamento
de 35 m² – menor que uma sala comercial – e financiaram tudo pela Caixa.
Esse problema não é exclusivo do Brasil “No ranking anual da consultoria imobiliária
Knight Frank sobre as altas dos preços dos imóveis em 2024, dentre as 55 economias
avaliadas, o Brasil ocupou a 15ª posição”. Isso mostra que o fenômeno é global, mas isso
não diminui nossa frustração. Pelo contrário: confirma que uma geração inteira, no
mundo todo, está sendo deixada para trás. Se o sonho continua o mesmo, mas o
acesso desapareceu, como exatamente esse sistema foi criado contra nós? E quem
se beneficia quando uma geração inteira fica presa pagando aluguel para sempre?
A pergunta que todo jovem faz é simples: se nossos pais conseguiram,
por que nós não conseguimos? A resposta está em como o próprio
Estado brasileiro criou um sistema que transforma moradia em produto financeiro.
Imagina que você quer comprar um imóvel de R$ 500 mil e, de alguma forma, consegue dar
R$ 100 mil de entrada e vai financiar R$ 400. Com juros de 10% ao ano, só no primeiro
ano você pagaria R$ 40 mil em juros – mais de R$ 3.300 por mês só para manter a
dívida parada, sem nem reduzir sua dívida. Se você ganha R$ 5.000 por mês, o banco só
aprova um financiamento que a parcela fique em até 30% da sua renda – nesse caso,
R$ 1.500 por mês. Com essa parcela, você financia um imóvel de no máximo R$ 200 mil.
Mas o problema vai muito além dos juros altos. O sistema foi deliberadamente
estruturado para criar barreiras. Entre 2011 e 2016, a Caixa Econômica Federal
emitiu R$ 18,9 bilhões em títulos securitizados. Funciona assim: o Estado cria créditos
habitacionais através da Caixa Econômica Federal, transforma esses créditos em títulos
financeiros, e depois o FGTS – que é um fundo público – compra esses títulos, fazendo os
recursos voltarem para novos financiamentos. Isso cria um ciclo perverso, liberando cada vez
mais financiamentos e com o constante aumento do teto dos valores financiados. Como resultado,
o valor dos imóveis nunca para de aumentar. É um sistema onde o Estado “passou a usar
instrumentos financeiros ‘típicos do mercado’ para política habitacional”. Entre 2011-2016,
o FGTS investiu bilhões comprando títulos lastreados em financiamentos habitacionais.
Em outras palavras: o próprio governo controla quem pode ou não ter acesso ao
crédito habitacional, e ao mesmo tempo usa esses créditos para alimentar o mercado
financeiro. O Estado criou um sistema onde ele é o dono da bola e dita as regras do jogo.
Parece uma ação social para aumentar o acesso à moradia, mas que acaba na prática excluindo
cada vez mais pessoas de ter a casa própria, começando sempre pelas mais pobres.
Com a valorização descontrolada, o mercado imobiliário virou também um espaço de
especulação financeira. Na prática, ao invés do investidor abrir ou investir em empresas pra
multiplicar seu patrimônio, ele simplesmente compra um imóvel, e espera a valorização.
Em São Paulo, por exemplo, quase 600 mil imóveis estão fechados, esperando valorização. Enquanto
isso, quem realmente precisa de um lugar pra morar fica sem opção ou é empurrado pra periferia.
Esse não é o problema, é só o efeito colateral do crédito descontrolado.
Mas se isso já não fosse o bastante, ainda tem outro problema: Nós não
somos o perfil que os bancos gostam. Nossos pais tinham estabilidade. Carteira assinada
por décadas, progressão previsível de salário e aposentadoria garantida. Os bancos sabiam que
podiam emprestar porque o risco era baixo. Hoje, carteira assinada é sinônimo de salários
baixos. Por isso muita gente opta por contratos temporários, freelas, trabalha como
MEI ou abre uma empresa. Com isso, conseguimos ganhar mais, mas pro banco, somos
considerados “risco alto”, mesmo ganhando bem, criando uma barreira pro crédito imobiliário.
Por isso o ciclo vicioso se formou: menos pessoas conseguem comprar, então
construtoras fazem menos unidades, aí os preços sobem, e fica ainda mais difícil comprar.
Não é que nossa geração “escolheu” ser diferente. É que mudaram as regras
do jogo bem na nossa vez de jogar. Se você paga R$ 2.500 de aluguel por
mês, em 20 anos terá desembolsado R$ 600 mil. Em 30 anos, mais de R$ 900 mil.
Dinheiro suficiente para comprar quase dois apartamentos. Mas que foi direto
para o bolso de outra pessoa, enquanto você continua sem nada no seu nome.
A pergunta é: vamos esperar décadas para que alguém mude essas regras? Ou existe uma
forma de criarmos nossas próprias regras? O sistema está travado. Isso é um fato. Mas
enquanto esperamos décadas para que alguém mude essas regras, nossa vida está passando.
A realidade é dura: você pode continuar pagando aluguel para sempre, vendo sua renda
ser sugada por um imóvel que nunca será seu. Ou pode tomar uma decisão diferente.
A saída que nossa geração está encontrando A boa notícia é que nossa geração
tem algo que os pais não tinham: acesso ao mercado global através da internet.
Com o dólar acima dos R$ 5, trabalhar para empresas internacionais virou uma estratégia que
faz diferença real. Ganhar em moeda forte e gastar em reais cria um poder de compra que o mercado de
trabalho brasileiro não consegue mais oferecer. Não é sobre abandonar o Brasil. É
sobre criar independência suficiente para ter escolhas – incluindo a escolha de
finalmente conseguir comprar sua casa própria. O que isso significa na prática?
Quando você tem uma renda em dólar ou euro, mesmo que parcial, muda completamente
sua capacidade de acumular dinheiro. Os mesmos R$ 130-140 mil que pareciam impossíveis
de juntar para dar entrada numa casa se tornam um objetivo alcançável em poucos anos.
Não é sonho americano. É matemática: se sua renda não está limitada pela economia
brasileira, você não precisa aceitar as limitações que ela impõe.
A escolha é sua Enquanto o sistema brasileiro continua expulsando
nossa geração do mercado imobiliário, milhões de jovens pelo mundo todo estão descobrindo
que trabalhar remotamente para mercados internacionais é muito possível – e necessário.
Nossa geração cresceu acreditando que trabalho formal levaria à casa própria. Hoje sabemos que
isso virou impossível – um sistema que mantém nossa renda limitada enquanto os custos explodem,
beneficiando sempre quem já tem patrimônio. Por outro lado, não existe nada mais libertador
do que você ter uma renda que não depende da economia brasileira, te possibilitando
finalmente juntar dinheiro de verdade, com poder de compra real para realizar seus sonhos.
O jovem de hoje que consegue trabalhar para o mercado internacional é o proprietário
de amanhã, que decidiu não aceitar as limitações que impuseram para nossa geração.
E nos tempos atuais, não precisa muita coisa. Se você entende o básico de como usar um computador e
algumas tecnologias atuais, você já tem mais que o necessário para dar os primeiros passos.
Só não pode ser uma pessoa preguiçosa ou acomodada. Pra esses, aceitar o
aluguel eterno ainda é o melhor caminho.