Por que Andor PARECE muito melhor do que os outros Star Wars?

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avenida Paulista quando viu esta cena, em que 
a “pequena” navezinha rebelde era perseguida por esta monstruosidade imperial. Era uma 
época em que não havia computação gráfica, então os efeitos especiais aos quais estávamos 
acostumados em filmes de ficção científica eram parecidos com estes… Portanto, quando o George 
Lucas resolveu investir pesado na construção do mundo que imaginou, o resultado não poderia ser 
diferente: as pessoas no cinema comentavam em voz alta o tamanho do destroier imperial… 
O quão incríveis eram os sabres de luz… Riam com relacionamento daqueles dois androides… 
E achavam as navezinhas com asas em formato de “X” o máximo! Foi fácil descobrir para quem torcer no 
filme, afinal temos uma tendência natural a nos colocar no lugar do oprimido… E olhe só o 
tamanho da nave rebelde… E a enormidade da imperial! Os rebeldes tinham faces, podíamos ver 
suas emoções em seus olhos… Já os imperiais se cobriam com máscaras, o que os deixava “menos 
humanos” e tornava suas mortes muito mais fáceis de digerir. Star Wars teve duas sequências, “O 
Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”, os três filmes dominaram o ranking dos mais 
lucrativos durante décadas… O que motivou o lançamento de uma segunda trilogia no final dos 
anos noventa… E a compra bilionária da LucasFilm pela Disney, nos anos 2000. O que a companhia do 
ratinho falante produziu desde então, porém… Não chegou a encher os olhos de fãs como eu. Não 
digo que nada do que foi feito prestou, gosto de várias séries… Mas aquele efeito avassalador 
dos três primeiros filmes se perdeu. Até que então… A Disney resolveu lançar uma série que 
gira em torno de um personagem menor que morreu em seu primeiro e único filme… E o Juliano de 
54 anos passou a ter insônia pensando no destino dos rebeldes! O que há de tão mágico assim em uma 
série de Star Wars… Que não tem sabres de luz, a Força e nenhum dos heróis e vilões aos quais nos 
acostumamos durante décadas? Há vários motivos que tornam “Andor” tão especial, mas talvez o maior 
deles esteja exatamente na última frase que acabei de dizer. “Andor” não tem sabres de luz, 
não tem a Força e nenhum dos personagens a que estamos acostumados. É uma série que fala sobre 
pessoas normais em situações extraordinárias… E já que todos somos “pessoas normais” que, de vez 
em quando, passam por situações extraordinárias… É muito mais fácil nos identificarmos com os 
personagens de “Andor” do que os de qualquer outro “Star Wars”! Afinal de contas… É por 
isso que nós gostamos de ouvir histórias, por isso que gostamos de CONTAR histórias. Nossos 
incríveis cérebros permitem que aprendamos com os erros dos outros, coisa que nenhum outro animal 
consegue fazer… O que fez com que estes seres frágeis e desprovidos de força, garras ou presas 
afiadas sobrevivessem por centenas de milhares de anos… E que, em algum ponto de nossa evolução, 
nós começássemos a nos viciar em histórias. Gostamos de ouvi-las porque elas nos tornam mais 
preparados para lidar com problemas que ainda não tivemos que enfrentar, e que, talvez, nunca 
TENHAMOS que enfrentar… Mas só o fato de aquela informação estar armazenada em nossos cérebros 
aumenta nossas chances de sobreviver por mais tempo. Saber que “a Força é um campo de energia 
criado por todos os seres vivos, que nos cerca, nos invade, e que mantém a galáxia unida” não vai 
salvar a vida de ninguém… Mas perceber que um regime autoritário é implacável tanto com aqueles 
que se opõem quanto com aqueles que colaboram com ele, talvez, seja uma informação que ajude 
pessoas desesperadas a tomarem decisões corretas. O uso de informações ditas “mais úteis”, porém, 
não é suficiente para fazer Andor ressoar tão profundamente. A FORMA como estas informações 
são passadas é tão importante quanto. Não basta construir cenários hiper-realistas, afinal tudo o 
que foi feito na galáxia muito, muito distante é absurdamente realista… Ou quase tudo. É preciso 
criar envolvimento, fazer com que o público torça pelo bem-estar dos personagens… E, neste 
aspecto, Andor é impecável. Considere esta cena. Na prática, tudo o que há de mais terrível em Star 
Wars está nela, é o momento em que entendemos por que a Estrela da Morte tem este nome… Mas é uma 
cena “limpa”, não vemos os habitantes de Alderaan, a única coisa que sabemos sobre eles é que são 
pacíficos, não há praticamente nenhuma empatia. A cena serve, na prática, a dois propósitos: 
conhecermos o poder da Estrela da Morte… E saber que a palavra dos imperiais não vale lá 
muita coisa. Agora vejamos esta cena de Andor, onde o Diretor Krennic está recrutando oficiais do 
império para construir a própria Estrela da Morte, apesar de eles não saberem isso, estas pessoas 
pensam que estão colaborando com um programa de energia do Imperador. É estabelecido que 
pessoas inocentes, os ghormans, terão que sair de suas terras a qualquer custo porque o Império 
precisa de um mineral que está debaixo delas… E as sugestões são as piores possíveis. Desde 
espalhar notícias falsas sobre os ghormans, para torná-los os vilões da história e virar a opinião 
pública contra eles… Até incentivar um movimento rebelde entre os ghormans, o que justificaria 
seu extermínio. De certo modo esta cena lembra a Conferência de Wannsee, que ocorreu em Berlim, 
nesta mansão, que leva o mesmo nome, no começo de 1942. Nela quinze oficiais do alto escalão nazista 
discutiram como seria implementada a chamada “solução final”, o extermínio dos judeus em campos 
de concentração. Ninguém se opôs ou questionou a moralidade do plano. Eles estavam lá apenas 
para decidir COMO dizimariam toda uma população, assim como os oficiais do império nesta cena… O 
que torna uma simples troca de diálogos muito mais terrível do que a explosão de um planeta inteiro. 
E é mais terrível… Porque é mais humana. Nós SABEMOS que somos capazes destas atrocidades, 
e é por isso que ouvir a Dedra sugerir o incentivo de uma rebelião para justificar seu massacre nos 
gela a espinha. É a HUMANIDADE dos personagens de Andor que toca tão fundo nossas almas. É muito 
difícil nos conectarmos com personagens que dizem odiar areia, mesmo se odiarmos areia… Mas 
quando vemos alguém matar uma pessoa sem querer… E depois assassinar outra para se livrar da 
única testemunha… Nós nos questionamos se faríamos o mesmo. Os heróis de Andor não são 
exatamente heróis… O que motiva o Cassian, no começo da série, não é um nobre impulso 
de fazer a coisa certa. Ele odeia o império, claro, quem não odiaria um governo opressor que 
resolve seus dilemas na base da força… Mas seus objetivos são simples: proteger a si mesmo e as 
pessoas que ele ama. Só que, ao matar os dois seguranças, ele é forçado a se esconder… 
E no processo, acaba conhecendo o Luthen, que vê nele uma excelente aquisição para os 
rebeldes, mas ainda crua, é por isso que ele paga para o Cassian participar no roubo de Aldhani. 
De todo o grupo, ele é o único que não está comprometido com a causa, está lá por dinheiro… 
Mas quando este cara diz a ele “vamos fugir com o dinheiro e danem-se os rebeldes”… Ele muda. A 
causa cresce dentro dele. Durante algum tempo ele ainda pensa apenas em proteger a si mesmo e sua 
família… Mas ficar preso sem razão, ironicamente construindo peças para a Estrela da Morte, o 
empurra definitivamente para o lado dos rebeldes. O Cassian que vemos no final da série é um homem 
completamente diferente do que aparece no começo, ainda multifacetado e capaz de fazer coisas 
terríveis… Mas, definitivamente, alguém que tem um objetivo na vida. Falando em coisas terríveis, 
este aí é, talvez, o herói mais vilanesco que eu já conheci. Ao contrário do Cassian, desde o 
começo da série o Luthen tem um objetivo claro, derrubar o império… E não há limites que ele 
não esteja disposto a cruzar. Não importa o quão alguém pode parecer bem-intencionado, se a sua 
existência comprometer a causa, o Luthen não pensa duas vezes antes de eliminá-lo. O único que 
sobreviveu a este processo foi o próprio Cassian, que não apenas demonstrou seu comprometimento 
como o valor de sua ajuda e acabou ganhando mais alguns anos de vida por isso… Sorte não 
compartilhada pelo coitado do Lonni, o primeiro a informar os rebeldes sobre a existência da Estrela 
da Morte… Nem pelo Tay, que resolveu chantagear as pessoas erradas. No final da série descobrimos 
que o Luthen tinha sido um oficial do império e, por isso, forçado a fazer atrocidades que o 
atormentaram por toda a vida. Foi para impedir que este tipo de coisa continuasse a acontecer que 
ele abriu mão de sua própria vida pela causa de uma galáxia livre… Cenário que ele já previa que 
só aconteceria bem depois de sua morte. O Luthen, portanto, foi um tremendo herói, a história deixa 
bem claro que os rebeldes não existiriam se não fosse por ele… Mas um gigantesco vilão, também, 
capaz de matar culpados e inocentes sem vacilar ao perceber que sua luta estava em perigo. Outros 
personagens também sacrificam suas vidas pela causa, veja o caso da senadora Mon Mothma! A 
única personagem da série que aparece em um dos filmes originais, sabíamos pouquíssimo sobre 
ela antes de “Andor”. Com a série, descobrimos que ela tenta usar os meios legais para impedir 
as barbaridades do império, e que, por baixo dos panos, financia o crescimento do exército rebelde. 
Neste processo, no qual investe a própria fortuna, ela é forçada a casar sua única filha com o filho 
de um criminoso capaz de ajudá-la a movimentar o dinheiro de maneira discreta… Acordo que ela 
aceita bastante a contragosto. Após o massacre dos ghormans, ela não consegue mais se manter calada e 
faz um discurso no senado que espalha pela galáxia a esperança da rebelião… E, mais uma vez, 
se sacrifica, indo viver no exílio de Yavin, longe de sua família. Mesmo os vilões pagam preços 
altíssimos em suas jornadas. O Syril, por exemplo, é alguém completamente comprometido com a lei 
e a ordem, ele acredita tão firmemente que elas são essenciais para que a vida na galáxia seja 
melhor que sacrifica primeiro seu emprego como inspetor adjunto ao investigar os assassinatos do 
Cassian sem a autorização de seus superiores… E depois sua moral ao ajudar o império a executar 
o massacre dos ghormans. O momento em que ele percebe que foi usado pela namorada é incrível… 
E seu final não poderia ser mais trágico, com o grande inimigo de sua vida revelando 
nem ao menos saber quem ele era. A Dedra é outra que é consumida pela própria ambição. Assim 
como Syril, ela ultrapassa sua função quebrando regras para conseguir seu maior objetivo, 
capturar o “Eixo”… E, no processo, descobre a existência da Estrela da Morte, informação 
que a leva para a cadeia e que, ironicamente, dá início aos eventos de “Rogue One” e, por 
consequência, de “Uma Nova Esperança”, também. A construção muito bem-feita de cada personagem e, 
principalmente, a medida dos sacrifícios que cada um deles passam trazem um peso gigantesco 
para Andor, um que, muito provavelmente, o Juliano de 7 anos, encantado com sabres de luz 
e navezinhas em formato de “X” não compreenderia. É este o exato ponto em que Andor se distancia de 
todas as outras séries e filmes do universo Star Wars. Crianças não são capazes de digeri-la 
completamente, adultos sim. A elas falta repertório, experiência de vida. É por isso 
que crianças querem ser astronautas e jogadores de futebol, elas não viveram o bastante para 
saber o tamanho do desafio de carreiras assim. Com o tempo, acabam aceitando outros trabalhos não 
tão empolgantes… Ou, muitas vezes, aqueles que estão disponíveis, porque, afinal… A vida não é 
fácil. Andor mostra que, mesmo na galáxia muito, muito distante, a vida não é fácil, também… 
E que as pessoas, por lá, também são forçadas a tomar decisões difíceis, simplesmente para 
viver mais um dia. Isto significa que agora todas as séries de Star Wars terão o mesmo peso 
que Andor? Infelizmente não… Porque eu e a maioria de vocês somos adultos… E Star Wars é 
uma história para crianças e adolescentes. Nós, simplesmente, não somos mais seu público-alvo. 
Na época em que eu trabalhava como roteirista, fui convidado pela emissora a fazer um 
workshop com este senhor, chamado John Truby, considerado uma celebridade entre os roteiristas 
de Hollywood. Assim que tive a oportunidade, perguntei a ele por que nesta cena, do filme 
“Homem de Aço”, não tocaram o conhecidíssimo tema de Superman… E por que quando a Enterprise 
dos filmes do J.J. Abrams aparecia, não tocavam… Ele sorriu e me disse que Hollywood faz 
inúmeras pesquisas com o público antes de lançar um filme… E que tanto o público do Homem 
de Aço quanto o de Star Trek PREFERE os temas mais simples tocados durante aquelas cenas. 
É outra geração, com outros gostos musicais, e é a eles que Hollywood quer agradar. Estes 
filmes não são mais feitos para nós, adultos. Somos velhos para eles. Isto não significa que 
nunca mais vão fazer séries adultas baseadas nas coisas que gostávamos de assistir quando 
éramos crianças, espero que Andor cause um impacto tão grande que a Disney decida investir 
um pouco mais nesta gente de cabelos grisalhos como eu… Porque ficar boquiaberto com o 
tamanho do destroier imperial aos sete anos no cinema foi bom… Mas mal conseguir dormir 
pensando no massacre dos ghormans e no quanto ele se espelha no mundo em que estamos vivendo 
agora foi terrível… Mas bom demais, também. minha opinião sobre outra história de ficção 
científica incrível, esta feita para adultos? Assista a este vídeo! Estes foram os seguidores 
e membros que contribuíram com o crescimento do canal nesta semana. Se você gostou do que viu, 
considere apertar o botão de seguir agora. Eu sou o Juliano Righetto, e você acabou de assistir 
a mais um “somos míopes porque somos breves”!

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