Por que eu não acredito na TEORIA DA FLORESTA NEGRA
0mais bem-sucedidos que conhecemos sejam estes aí,
os vegetais. Eles são os únicos que não precisam se engajar na dificílima luta pela sobrevivência,
organismos que criam açúcares a partir da luz, dos gases atmosféricos e dos nutrientes do solo
disputam, apenas, bons lugares ao Sol… Mas a vida é bastante criativa, e o tempo algo longo
demais, o que propiciou o surgimento de seres como estes, que precisam engajar em uma luta feroz
para sobreviver… Porque sua alimentação não cai do céu. Nós fazemos parte desta turma, somos
animais que respiram o mesmo oxigênio que os outros organismos aeróbicos do planeta, tomam
a água consideravelmente abundante que existe na superfície, mas que precisam de nutrientes
que podem vir tanto do reino dos vegetais… Quanto dos animais, também. Esta violentíssima
disputa nos tornou extremamente precavidos, os nossos instintos nos fazem desconfiar de tudo
o que nos cerca porque, durante a grande maioria da nossa existência, havia feras escondidas nas
matas escuras esperando para nos utilizar como fonte de energia… O que nos faz deduzir que
a vida extraterrestre, se realmente existir, deve seguir rituais parecidos. E é difícil NÃO
acreditar que há vida fora daqui… Afinal o Sol é apenas uma entre algumas centenas de bilhões de
estrelas só na nossa galáxia… E nem ao menos é tão especial assim, é uma estrela bastante comum,
até. Hoje nós sabemos que a grande maioria, senão TODAS as estrelas possuem planetas as orbitando,
portanto as chances de existir outras “Terras”, planetas rochosos com água líquida em sua
superfície, são gigantescas… E, aparentemente, a abiogênese, o surgimento da vida a partir de seus
elementos básicos, também deve ser bastante comum, afinal aqui ela só demorou quinhentos milhões de
anos para acontecer. Por que, então, ainda não descobrimos civilizações extraterrestres? Seriam
elas tão desconfiadas quanto nós e, por isso, preferem não se manifestar, temendo serem
atacadas? Hoje vamos discutir a Teoria da Floresta Negra, que explica que o silêncio da Via Láctea…
Se deve, única e exclusivamente, ao medo. É fácil imaginar que, se conseguir controlar seu instinto
tribal, um dia a humanidade vai colonizar a galáxia. Sei que parece ficção científica para
muitos, mas nós já viajamos até a Lua e estamos nos preparando para ir até Marte… Certamente
em algum ponto de nosso futuro vamos criar naves capazes de viajar até outras estrelas. Talvez
descubramos uma maneira de fazer isto mais rápido do que a luz… Provavelmente navegaremos mais
devagar, em naves geracionais… Ou é possível, até, que enviaremos sondas carregando apenas
instruções genéticas e nossos descendentes SEJAM CRIADOS em outros sistemas estelares… Mas, de um
modo ou de outro, nós faremos isto. Por que será, então, que nenhuma outra civilização colonizou
a galáxia até hoje? A Via Láctea tem mais de 13 bilhões de anos, ela já tinha ultrapassado os
oito bilhões ANTES do Sol e da Terra se formarem, portanto tempo as civilizações extraterrestres
já tiveram. Se elas realmente existem, qual é o motivo de não as termos detectado até agora?
Segundo o autor de ficção científica chinês Liu Cixin, por medo. O segundo livro de sua trilogia
“O Problema dos Três Corpos” se chama “A Floresta Sombria” exatamente por isto… As civilizações
agiriam como caçadores escondidos em uma enorme floresta escura, que evitariam acender fogueiras
ou fazer muito barulho exatamente porque, assim, os outros caçadores poderiam localizá-los e
matá-los. A ideia deste Universo hostil, porém, é mais antiga. Outro autor de ficção científica,
o Fred Saberhagen, escreveu nos anos sessenta uma série de livros na qual uma civilização
extraterrestre criou seres artificiais chamados “Berserker” para lutar contra seus inimigos…
Mas que funcionaram mal e se voltaram contra TODA a vida orgânica na galáxia. Este cenário
nós sabemos que não aconteceu porque… Bem, nós estamos aqui, o que não seria o caso se
houvesse uma espécie de robôs espaciais dedicados a exterminar a vida na galáxia por aí… Mesmo se
viajassem em sondas movidas a propulsão química, tecnologia que nós já dominamos, a vida na
galáxia já teria tido tempo de ser dizimada várias vezes desde sua formação, como você pode
ver nesta animação que mostra a expansão de uma civilização pela Via Láctea durante cem milhões
de anos… Mas e quanto a ideia do Liu Cixin? Será que as outras civilizações da Via Láctea estão
por aí, quietinhas na “floresta escura” para não serem detectadas… E nós estamos agindo como
uma criança recém-nascida abandonada, berrando a plenos pulmões sem saber que as flechas dos
caçadores já foram disparadas na nossa direção? Para entender este cenário em que as civilizações
se veriam como adversários mortais, precisamos compreender a “Teoria dos Jogos”, o ramo da
matemática que a estrutura. Ela interpreta a realidade como um jogo, onde cada jogador
tem sua vez de jogar. Qual é o objetivo? No caso da “Floresta Negra”, sobreviver! A coisa
funciona assim: nós estamos mandando ondas de rádio para a galáxia há quase cem anos, é por
isso que estas imagens foram enviadas de volta para nós no filme “Contato”, do Carl Sagan,
a transmissão da abertura das Olimpíadas de 1936 foi o primeiro sinal de rádio forte
que mandamos para o espaço. Suponhamos, então, que uma civilização extraterrestre captou
estes sinais. Segundo a Teoria dos Jogos, o que ela poderia fazer? Três coisas… Ou simplesmente
ignorar, afinal aquelas imagens não são exatamente de encher de esperança os corações extraterrestres
sobre o futuro da humanidade… Ou ela poderia responder, coisa que os extraterrestres de
“Contato” fazem… Ou ela poderia nos atacar, o que seria uma excelente opção em um jogo
no qual o único objetivo é a sobrevivência. Para entender a lógica deste jogo, vamos
analisar o que aconteceria se os extraterrestres respondessem às nossas transmissões, o que
faria com que nós fôssemos os responsáveis pelo próximo movimento. A humanidade poderia,
então, mandar uma nova mensagem e estabelecer relações amigáveis com os extraterrestres, que
vamos chamar aqui de probabilidade “c”, ou Pc… Que traria um benefício “A”, de amizade… Cujo
resultado final seria a multiplicação de Pc por A, não ligue para os números, só importa
saber que é um benefício mensurável, como a troca de informações que levassem à cura
do câncer ou à reversão do aquecimento global. A humanidade poderia, também, honrar aquelas
primeiras mensagens enviadas ao espaço durante a Olimpíada de Berlim e atacar os extraterrestres,
agora que sabe onde eles estão. Hoje não teríamos esta capacidade, mas vai que a mensagem só seja
recebida daqui há quinhentos anos e, até lá, nós continuemos a bolar novas maneiras de nos
matarmos? Neste caso, vamos chamar a probabilidade de Pa… E os “benefícios”, do ponto de vista dos
extraterrestres, seriam sua própria aniquilação, ou seja, algo infinitamente ruim, que vamos
representar aqui como “menos infinito”, ou seja, o resultado final, Pa vezes menos infinito, seria
menos infinito, o pior possível dentro deste jogo. Nós poderíamos, também, ignorar a resposta, o
que não traria benefício a ninguém… Mas ao comparar os resultados finais, obviamente
aquele “menos infinito” se sobressairia, indicando que, ao receber nossas primeiras
transmissões, responder é uma péssima ideia. Ignorar também não é das opções mais atraentes,
porque mesmo se, durante algum tempo, a humanidade não souber da existência dos alienígenas, mais
cedo ou mais tarde nossa tecnologia se tornaria capaz de detectá-los, o que traria um resultado
final parecido com o que os extraterrestres teriam caso tivéssemos respondido suas mensagens.
Seria por isso, portanto, que o cenário da “Floresta Negra” existiria: nenhum alienígena
mandaria mensagens ou as responderia porque, necessariamente, isto significaria sua
aniquilação. Pelo contrário, assim que soubessem da existência de outra civilização, a única
ação lógica a ser tomada seria atacar, porque, por mais caro que isto custe, a opção contrária é
a extinção. Ok, dá para entender os argumentos, e isto explicaria por que não captamos nada vindo do
espaço até hoje, mesmo parecendo que o surgimento da vida não deve ser algo tão raro assim… Mas
será que este pensamento tão compartimentado assim é o que ocorre na realidade? Nós tendemos
a pensar em extraterrestres “malvados” porque a ficção científica está carregada deles, é
fácil imaginar uma força invasora vir até aqui para roubar nossos recursos… Mas, por que eles
fariam isso? Uma força invasora alienígena poderia conseguir praticamente tudo o que temos na Terra
em seu próprio sistema solar, nós mesmos faremos isto quando começarmos a colonizar o nosso.
É preciso levar em conta, também, que viajar entre os planetas de um sistema solar é muito mais
barato do que se aventurar por entre as estrelas, ninguém construiria um Boeing 747 apenas para ir
até o Japão pisar em um formigueiro. Mesmo se os tais alienígenas nos atacassem de longe, seu
ataque demoraria centenas ou talvez milhares de anos para chegar até aqui, tempo no qual
teríamos nos desenvolvido o suficiente para nos espalharmos pelo Sistema Solar, ou até mesmo
conter a arma utilizada. Este é um dos grandes problemas do cenário da Floresta Negra, assumir
que um ataque resulte na aniquilação do oponente. Se a humanidade colonizasse apenas o Sistema
Solar antes de perdermos a Terra… Certamente os sobreviventes retaliariam o ataque, ou seja,
“pisar no formigueiro” causaria uma resposta muito mais imediata do que ignorar a mensagem…
E muito mais desagradável, também, transformando nosso gráfico neste, onde todas as opções levariam
a um resultado “menos infinito”. E isto nos leva a um cenário bastante familiar… Porque,
assumindo que qualquer civilização primeiro alcança a capacidade de se autodestruir e depois
consegue viajar por entre as estrelas, como parece estar acontecendo conosco… Todas elas vivem,
também, o medo da destruição mútua, aquilo que impediu que os países que possuem armas nucleares
a usassem novamente desde Hiroshima e Nagasaki. O cenário da Floresta Negra faria mais sentido,
portanto, se cada civilização alienígena atacasse planetas onde apenas houvesse vida NÃO
inteligente, para evitar retaliações, o que talvez explicaria aquele maldito asteroide… Mas se
aquilo fosse realmente uma tentativa de exterminar a vida na Terra, por que arriscar mandando apenas
UM asteroide? Afinal… Estamos aqui, não é mesmo? A Floresta Negra também ignora um instrumento
importantíssimo da ciência, os telescópios. Os mais modernos que temos já são capazes de analisar
a atmosfera de alguns exoplanetas, é fácil imaginar que, em breve, teremos telescópios ainda
melhores… Ou seja, já somos capazes de descobrir civilizações alienígenas apenas estudando suas
atmosferas, SEM que elas mandem mensagens para nós, o que torna o ato de “ficar quieto para que
ninguém o perceba” na Floresta Negra completamente inútil. Se fosse este o caso, se não estamos
captando transmissões de outras civilizações só porque elas têm medo de serem destruídas…
A Terra já teria sido exterminada há milhões de anos, já que é fácil deduzir que qualquer
civilização capaz disso conhece a tecnologia dos telescópios. É por isso que a Floresta Negra
não me convence… É uma teoria baseada apenas nos nossos instintos mais primitivos, que certamente
devem existir em espécies alienígenas, mas que, com o tempo, perdem o sentido. A vida é muito
mais complexa do que matar ou morrer… Se nós a encarássemos assim, jamais sairíamos de casa,
jamais conheceríamos outras pessoas, namoraríamos, não teríamos nem mesmo filhos, afinal eles
poderiam nos matar para ficar com a herança… São riscos que nós corremos, claro, já sabemos de
muitas histórias que não acabaram bem… Mas eles não impedem que aproveitemos a vida! O grande erro
da Teoria da Floresta Negra é pensar que a vida inteligente é apenas medrosa… Porque, afinal
de contas… Nós somos muito corajosos, também!