Por que NAMORAR se tornou um PESO?
0Ela está sentada sozinha em um apartamento impecável, cercada por diplomas emoldurados, investimentos crescendo em silêncio e uma casa inteligente que responde à sua voz: “Tudo funciona, tudo está no lugar. Ela não precisa de ninguém para consertar, pagar ou proteger.” Do outro lado da cidade, ele relaxa em frente à tela. Comida pedida por aplicativo, espaço limpo por terceiros e distrações infinitas preenchendo seu tempo. Ele também não precisa de ninguém para cozinhar, organizar ou aquecer suas noites. Pela primeira vez na história, homens e mulheres não necessitam mais um do outro para sobreviver. E essa liberdade, que parecia o auge do progresso, está corroendo o próprio tecido dos relacionamentos. Aquilo que deveria fortalecer os laços acabou por enfraquecê-los. A prosperidade, ironicamente, envenenou o desejo. Criamos um mundo em que cada indivíduo pode viver confortavelmente no seu próprio isolamento, protegido por tecnologia, serviços e instituições. A sobrevivência deixou de ser uma ponte entre os sexos. E sem essa ponte, o encontro se transforma em acaso, não mais em necessidade. O que restou não foi união, mas uma extinção silenciosa do impulso que nos forçava a cooperar. Esse fenômeno é o que chamo de evento de extinção da necessidade. O progresso removeu, camada por camada, todas as razões práticas que empurravam homens e mulheres para a interdependência. As habilidades complementares, que antes eram o alicerce de uma vida a dois, foram terceirizadas, compradas, automatizadas. Segurança, estabilidade e cuidado. Aquilo que antes brotava do vínculo íntimo, agora é fornecido por seguros, governos e aplicativos. O resultado é uma dinâmica estranha, duas metades autossuficientes que já não vêm propósito em se unir. E quando a sobrevivência deixou de ser o motor do amor, restou apenas o desejo. Mas o desejo é volátil, instável e frágil demais para sustentar pontes duradouras. A vida moderna nos colocou diante de uma escolha cruel. Nos relacionamos não mais porque precisamos, mas apenas porque queremos. Só que querer em tempos de abundância nunca parece suficiente. A fartura, paradoxalmente, nos ensinou a enxergar relacionamentos como luxo, não como base da vida. Assim, o que deveria ser libertação se tornou prisão invisível. Criamos ambientes personalizados até a exaustão, moldados para o conforto individual, mais difíceis de compartilhar. Prosperidade virou anestesia contra a tolerância. Ninguém quer ceder, negociar. ou comprometer-se quando pode simplesmente viver sozinho, cercado de conveniências. A pergunta que ecoa é brutal. Se não precisamos mais uns dos outros para sobreviver, será que ainda sabemos como amar? O coração da questão está no que chamo de paradoxo da prosperidade. Quanto mais conforto acumulamos, menos dispostos estamos a dividir esse conforto. A cada conquista individual, um bom salário, um lar seguro, um cardápio infinito de distrações, diminui a necessidade de abrir espaço para o outro. É como se a prosperidade tivesse inflado o nosso ego até o ponto em que qualquer relacionamento parece uma ameaça à autonomia conquistada com tanto esforço. Esse paradoxo se manifesta em detalhes quase invisíveis. A facilidade de acesso a entretenimento elimina a carência de companhia. Aplicativos substituem o toque humano por simulações digitais convincentes. Serviços pagos ocupam o lugar do cuidado antes cultivado dentro do lar. Até mesmo a intimidade pode ser comprada ou terceirizada, transformando o amor em um produto de prateleira. E quando tudo se torna acessível, a escolha do parceiro deixa de ser necessidade vital e passa a ser apenas mais uma opção entre milhares. Mas opções demais podem ser tão paralisantes quanto a escassez. É aí que surge a síndrome da inflação de expectativas. Quanto mais alternativas, mais impossível se torna sentir-se satisfeito. Cada novo rosto deslizado em um aplicativo adiciona uma camada de comparação até que o real nunca esteja à altura do imaginado. Cria-se a ilusão de que sempre existe alguém melhor à espera, como se o amor fosse um mercado infinito de oportunidades. Esse excesso gera um ciclo vicioso, padrões cada vez mais altos, paciência cada vez mais curta. O que antes seria visto como um bom relacionamento hoje é descartado como insuficiente, simplesmente porque não corresponde a uma fantasia moldada por algoritmos e redes sociais. É a chamada armadilha da escalada do desejo. Nunca estamos satisfeitos, sempre projetando no outro a perfeição que só existe em fragmentos espalhados por múltiplas pessoas e múltiplas telas. No fundo, esse processo corrói o valor do compromisso. Por que arriscar vulnerabilidade, conflito ou esforço emocional se é possível viver confortavelmente sozinho? Por que investir em um vínculo imperfeito se a promessa do melhor parece sempre à distância de um clique? A abundância nos transformou em colecionadores de possibilidades, mas incapazes de escolher de fato. E talvez seja por isso que tantos cercados de conforto e conveniência se sintam cada vez mais vazios. Vivemos agora dentro de um grande teatro digital, onde cada um atua em um palco invisível. Chamarei isso de ecossistema da ilusão digital. Ele oferece todos os simulacros da intimidade sem exigir nenhum dos riscos reais que ela implica. Likes substituem olhares, emis substituem carícias e interações virtuais substituem as longas conversas que um dia construíam vínculos profundos. A mente se engana, acreditando estar nutrida quando, na verdade está apenas anestesiada. Nesse mercado invisível de validação, cada foto postada se torna moeda. Cada curtida é interpretada como prova de valor. A atenção, que deveria ser rara e preciosa, é distribuída em microdoses a milhares de desconhecidos. O resultado é uma constante intoxicação do ego. As pessoas já não precisam construir conexões íntimas que exijam esforço, reciprocidade ou entrega. Basta um feed infinito para suprir a vaidade momentânea e não para por aí. Esse ecossistema digital cria também a economia da fantasia, onde relações parassociais com celebridades, influenciadores ou até personagens fictícios fornecem picos emocionais mais fortes do que qualquer vínculo humano cotidiano. A vida real, com suas imperfeições, não compete com a perfeição editada das telas. A consequência é clara. Pessoas reais parecem sempre decepcionantes quando comparadas à miragem polida do virtual. Com isso, formamos uma geração que foge do esforço. Se é possível obter prazer, distração e até simulações de afeto com zero risco, por que se expor às dores de um relacionamento real? Essa lógica cria o que chamo de caminho da evasão do esforço. Nele, o ser humano escolhe sempre o atalho, sempre o mais fácil, sempre o menos arriscado, até perceber que na busca por conforto absoluto, sacrificou a profundidade que dava sentido à existência. E o mais perigoso é que essa comparação constante distorce a realidade. Quanto mais nos expos a vidas editadas, menos toleramos os defeitos da vida não editada. O riso natural não é tão brilhante quanto o sorriso filtrado. O corpo real não é tão impecável quanto o corpo virtual. O amor de carne e osso, cheio de conflitos e vulnerabilidades, passa a parecer pequeno diante da idealização. Assim, cada passo em direção ao outro se torna pesado, enquanto cada passo para dentro das telas parece leve, viciante e sem retorno. O culto moderno à independência transformou a autossuficiência em um altar. O que antes era apenas uma virtude tornou-se a maior das virtudes. Chamo isso de revolução da independência. Ela redefiniu a narrativa. Agora, depender de alguém é visto como fraqueza. Abrir-se emocionalmente é confundido com carência. Precisar do outro é quase vergonhoso nesse sistema, estar sozinho é exaltado como sinal de poder, enquanto buscar conexão é estigmatizado como sinal de imaturidade. Essa revolução alimenta o que denomino de processo de demonização da vulnerabilidade. As lágrimas, os pedidos de ajuda, o simples ato de admitir a necessidade de afeto foram rotulados como falhas de caráter. Só que é justamente através da vulnerabilidade que nascem os vínculos mais profundos. Freud dizia que não há laço humano sem exposição e K Jung nos lembrava que não se pode amar sem o risco de ser ferido. Ainda assim, vivemos em uma era onde expor o coração virou um crime silencioso contra a própria imagem. Como consequência, surge a patologia da parceria. Relacionamentos normais com seus conflitos naturais são rotulados como tóxicos. Interdependência saudável é taxada de codependência e qualquer traço de necessidade é visto como bandeira vermelha. Criou-se uma cultura de desconfiança, onde até o gesto mais humano, o desejo de ser amado, é interpretado como sinal de fraqueza. Assim, o amor deixa de ser porto seguro e se transforma em campo minado. Esse movimento gera também o efeito de glorificação do isolamento. Estar só é vendido como empoderador, sofisticado, moderno. Mas por trás dessa máscara de autonomia, muitos escondem um medo visceral da intimidade. O discurso da independência se tornou com uma desculpa elegante para evitar os riscos emocionais. As pessoas preferem a ilusão de força ao reconhecimento da própria fragilidade. E assim um abismo se abre entre o que desejamos em segredo e o que defendemos em público. Com isso, normalizamos a fobia do compromisso. Incapacidade de sustentar relacionamentos duradouros. É maquiada como sabedoria, como se fugir fosse sinônimo de lucidez. Só que no fundo não é sabedoria, mas sim dificuldade com a intimidade, dificuldade de lidar com o caos que o outro traz, dificuldade de ceder espaço, de suportar imperfeições, de acolher diferenças. Vivemos em uma época onde é mais fácil abandonar do que construir, onde é mais confortável se isolar do que enfrentar o espelho que o outro nos oferece. A abundância moderna trouxe consigo uma epidemia silenciosa, a paralisia da escolha. Nunca antes tivemos tantas opções de parceiros, estilos de vida e formas de prazer. Mas em vez de liberdade, esse excesso gerou ansiedade, indecisão e uma sensação constante de insatisfação. Cada escolha parece mais perda do que ganho, porque ao dizer sim para alguém, inevitavelmente dizemos não para infinitas possibilidades. Essa condição cria o que chamo de ansiedade da antecipação do arrependimento. Muitos evitam compromissos por medo de que no futuro apareça uma opção melhor. É como se o amor tivesse se tornado um mercado de investimentos, onde cada relacionamento é avaliado não pelo presente, mas pelo medo de perder algo mais rentável amanhã. O resultado? Milhares de vínculos que poderiam florescer são abandonados em nome de fantasias futuras que nunca chegam. Outro efeito da paralisia é a síndrome da obsessão pela otimização. Procuramos o parceiro perfeito como quem busca o produto mais eficiente ou a tecnologia mais avançada. Essa lógica transforma pessoas em catálogos, qualidades em checklists e encontros em entrevistas de emprego. O problema é que a obsessão por encontrar o melhor mata a capacidade de valorizar o bom. Relações sólidas se dissolvem não por falta de amor, mas por excesso de expectativa. A comparação constante só agrava o problema. Cada nova possibilidade gera uma armadilha da comparação dinâmica. Medimos o parceiro atual, não pelo que ele é, mas pelo que poderia ser substituído. Isso alimenta um vício pelo potencial, como se a excitação de uma nova conquista fosse sempre mais valiosa do que a estabilidade de uma relação construída. O resultado é uma geração viciada na novidade e incapaz de permanecer. E, no entanto, mais opções não significam mais felicidade. Pelo contrário, em muitas culturas, com escolhas limitadas, casamentos arranjados, comunidades pequenas, sociedades tradicionais, a satisfação conjugal é maior. Isso porque menos escolhas criam menos ansiedade. Na modernidade, o excesso de alternativas nos condenou a uma eterna dúvida. No fundo, é como se estivéssemos tentando preencher uma lacuna infinita com possibilidades que, ironicamente só aumentam o nosso vazio. A última peça desse quebra-cabeça é a revolução das expectativas de gênero. Em poucas décadas, destruímos papéis que levaram séculos para se consolidar, mas não colocamos nada sólido em seu lugar. Homens e mulheres já não sabem exatamente o que oferecer, nem o que esperar, o que antes era claro, mesmo que limitado e opressor, agora se tornou um território nebuloso, cheio de confusão e desencontros. Isso gerou o que chamo de caos da proposta de valor. O que torna alguém atraente hoje já não é o mesmo de ontem. O que funcionava para conquistar já não funciona para manter. E o que parecia ser uma qualidade desejável em um relacionamento pode se tornar motivo de rejeição no dia seguinte. É uma dança de máscaras em constante mutação, onde ninguém mais sabe qual papel está representando. Com esse cenário, surge a síndrome da decepção mútua. Homens e mulheres entram em relacionamentos carregando expectativas incompatíveis, muitas vezes alimentadas por ideais impossíveis vindos da cultura, da mídia ou do próprio inconsciente. O encontro real não dá conta de suprir a fantasia e o resultado é sempre o mesmo. Frustração. Não porque o outro seja insuficiente, mas porque a régua com a qual medimos já não corresponde à realidade humana. No fundo, o que vivemos é uma crise de incompatibilidade entre o que fomos moldados para ser e o que a sociedade atual exige que sejamos. Nossos instintos pedem laços, mas a modernidade nos oferece isolamento. Nosso inconsciente busca significado, mas a cultura nos entrega apenas prazer imediato. Somos seres ancestrais tentando amar dentro de uma máquina futurista que não foi feita para o coração. E é por isso que tantos se sentem perdidos, porque apesar de todo o progresso, continuamos presos ao mesmo dilema de sempre, a necessidade de conexão. Mas agora, em vez de lutar contra a fome ou a morte, lutamos contra a abundância, contra o excesso, contra nós mesmos. Talvez o verdadeiro paradoxo seja este. Criamos um mundo onde não precisamos mais um do outro para sobreviver, mas ainda precisamos um do outro para viver. E se você chegou até aqui, é porque carrega algo que o mundo já tentou arrancar de você muitas vezes, a coragem de sentir. Num tempo em que todos correm para se distrair, você escolheu ficar. Num mundo onde a maioria foge do espelho, você decidiu encarar o que mora dentro. Isso diz muito sobre você. Mais do que qualquer status, mais do que qualquer pose. Talvez você tenha vivido em silêncio o que ninguém nunca percebeu. Talvez já tenha engolido gritos só para não perder quem nunca te ouviu. Talvez tenha se quebrado por dentro só para manter de pé aquilo que te consumia. E mesmo assim está aqui presente, atento, vivo. E só por isso você já é exceção. Aqui você não precisa fingir força. Aqui a vulnerabilidade não é fraqueza, é resistência. Porque neste abismo a gente não se afasta da dor, a gente mergulha nela. E é justamente nesse mergulho que o despertar acontece entre as sombras, entre os silêncios, entre as partes de você que o mundo mandou calar. Então guarde isso. Você não está sozinho e não há nada de errado em sentir demais, em pensar demais, em querer respostas num mundo que só oferece distrações. Isso não te torna fraco, isso te torna perigoso. Porque gente que sente profundamente vê o que os outros não vem. E quem vê demais não se encaixa, mas também não se vende. Se algo que você ouviu hoje te tocou, não apague, não anestesie, leve com você, porque talvez esse incômodo seja o início da sua libertação. E toda libertação começa assim, com uma verdade que machuca, mas que depois cura. E se esse vídeo mexeu com alguma parte sua, escuta isso com atenção. O próximo passo já existe e ele está a um clique de distância. Deixei um link na descrição e no primeiro comentário fixado. Um livro, um conteúdo feito para quem já cansou de sobreviver e decidiu de uma vez por todas dominar a si mesmo. E esse passo só você pode dar. A escolha é sua. Eu estarei lá esperando você. Até a próxima imersão.







