Por que o Brasil COMPROU esse estado, que já foi um país?
0Essa capital brasileira já pertenceu ao território de um outro país da América do Sul. Vamos visitar uma capital que já foi proclamada país, teve moeda própria e só virou brasileira após um acordo diplomático com outra nação sul-americana. A arquitetura guarda memórias do tempo em que era território federal e o presente se mistura com sabores da floresta, mercados populares e tradições únicas. Aqui o passado ecoa forte. mas também há sinais de um futuro pulsante, uma viagem por cenários, personagens e histórias que pouca gente conhece, mas que merecem ser contadas. Sejam bem-vindos a Rio Branco, capital do Acre. Eu sou Mateus Boa Sorte e a partir de agora convido você a viajar comigo, sem nem levantar do sofá da sua sala. [Música] Boa sorte, viajante. Boa sorte, minha gente. [Música] Nosso destino do dia é Rio Branco, capital do estado do Acre. [Música] No coração da Amazônia Ocidental, o município se ergue como símbolo de resistência e da transformação. A capital do Acre já foi isolada por selvas e rios, mas sempre se manteve conectada pela força do seu povo. O passado ainda pulsa nas margens do rio, num território que guarda marcas de disputa, revoluções e acordos internacionais que mudaram o rumo da região. Rio Branco tem uma vasta área territorial com mais de 8.800 km². Quando o assunto é a população, são cerca de 387.000 1 habitantes, o que fazem dessa a terceira menor capital do Brasil. Nas últimas décadas do século XIX, a borracha se tornou o ouro da floresta, atraindo levas de nordestinos em fuga da seca. Homens e mulheres enfrentaram a vastidão da mata, cruzando rios em busca de sustento. Ao lado dos povos indígenas, bolivianos e peruanos, formaram uma sociedade múltipla que até hoje sustenta a identidade cultural acriana. Uma mistura que ecoa no modo de falar, nas festas, na comida e na resistência de quem vive por aqui. No final dos anos 1800, por conta de uma grave seca que assolava o Nordeste brasileiro, muitos searenses deixaram sua terra natal para tocar a vida nessa região do Brasil. A época, uma zona de limite entre os estados do Amazonas e a Bolívia. Por aqui iriam tocar os novos capítulos da vida e tinham na borracha uma fonte de sustento. Muito da influência do que a gente vê nos dias atuais aqui no estado se deve a esses cearenses, aos povos originários que por aqui moravam e também a bolivianos e peruanos, visto que nós estamos até hoje em uma região movimentada de fronteira. Já pensou se o Brasil tivesse perdido parte da Amazônia para a Bolívia ou para os Estados Unidos? Pois essa história quase aconteceu. Em meio a conflitos diplomáticos e interesses econômicos, coube ao diplomata Barão do Rio Branco negociar a permanência dessas terras como parte do Brasil. Mas antes disso, uma revolução de seringueiros liderada por Plácido de Castro garantiu a força local. Ana, outra curiosidade, dentre as tantas do Acre, é que o Brasil comprou essas terras da Bolívia. Foi isso mesmo? Foi. Nós somos brasileiros por opção, né? Antes dessa compra concretizada, nós tivemos algumas disputas, né? inclusive como uma revolução armada formada por um exército de seringueiros. Não era o exército brasileiro, era um os combatentes eram seringueiros liderado por um gaúcho chamado Plácido de Castro, que conseguiram expulsar os bolivianos daqui e manter essa disputa, né, com o domínio dos acrianos que aqui estavam. até entrar nessa história, o Barão do Rio Branco, que era um diplomata brasileiro, mas que ele nunca veio ao Acre e ele foi convencido que precisava resolver, o Brasil precisava resolver essa questão aqui que já tava perdurando por alguns anos, né, com disputa armada, deixando o Brasil mal visto com os países vizinhos. E aí foi proposto um tratado aonde o Brasil comprava essa área de terra da Bolívia por 2 milhões de libras esterlinas. Construir a ferrovia Madeira Mamoré para dar vazão à borracha, né, da Bolívia, porque a Bolívia não tinha saída pro mar, então ele precisava de um porto para, né, escoar a produção de borracha. E aí seria através da ferrovia dos rios da Amazônia brasileira e também uma área de terra no Mato Grosso, ali no Sul, perto de Cácere era pertencente ao Brasil e foi doado paraa Bolívia. Esses três cláusula que fez com que se concretizasse essa compra. [Música] Com o território oficialmente incorporado ao Brasil, o governo criou o primeiro território federal do país. A administração era feita diretamente do Rio de Janeiro e o Acre foi dividido em três departamentos isolados por rios que não se cruzavam. A comunicação difícil reforçava o sentimento de distância do centro do poder. Só em 1962, após décadas de espera, o Acre se tornou estado, conquistando autonomia administrativa e política de fato. [Música] Então, após o Tratado de Petrópolis, que anexou essa parte ao Brasil, a o governo federal resolveu criar o primeiro território federal do Brasil, que foi o território federal do Acre. E nós ficamos como se fosse um pedaço do Rio de Janeiro, que era a capital da República, e a administração era toda gerida por lá. Só que o acesso para chegar a esse pedaço de chão era a via marítima, né, pela costa do Brasil e também fluvial entrando no Amazonas, depois o Puruz, o rio Acre, até chegar nessas nessa cidade. E isso fez com que o Acre se dividisse em três departamentos. [Música] Os tratados resolveram as fronteiras no papel, mas não apagaram os ressentimentos. No lado boliviano, a batalha do Igarapé Bahia ainda é lembrado como símbolo de resistência. Em Cobídia, do outro lado da fronteira, heróis têm nomes diferentes. Até hoje, brasileiros e bolivianos dividem essa linha invisível, com histórias que se cruzam e disputas que persistem na memória coletiva. [Música] A Bolívia tá aqui bem pertinho. Minha dúvida é, ainda tem boliviano ressentido com essa compra? Tem. Nós temos uma batalha que é chamado a batalha do Igarapé Bahia, que foi a única batalha que os combatentes bolivianos ganharam do exército de Plácido. E os do as duas maiores lideranças dessa batalha, que é o indígena e um seringalista que financiava, são tidos como os heróis, né, ali no departamento de Pando, que tá a 230 km aqui de Rio Branco. Nós temos as duas cidades fronteiriças que é Epitaçolâ Brasileia que faz fronteira com Cobirra, a capital de Pando. Então, se você quiser conhecer o outro lado da história visto pelo viés boliviano, a gente também vai até lá e escuta a história deles, escuta a história deles, né? Porque a gente tem ainda essa disputa. O que tem de brasileiro, argentino, nós acriano e boliviano ainda tem uma certa certo receio com os outros. [Música] Antes da diplomacia e da guerra, o Acre chegou a ser um país independente. Luís Galvêz, jornalista espanhol, liderou um levante contra um acordo entre Bolívia e Estados Unidos. Com apoio do Amazonas, criou o Estado independente do Acre. Teve governo, bandeira, moeda e capital em Porto Acre. Durou poucos meses, mas deixou marcas profundas. Foi um gesto ousado que colocou o território no centro de uma disputa internacional. [Música] Ana Lúcia, tem uma coisa muito curiosa aqui do Acre, é que o estado já foi um país independente. Como é que foi essa história? Então, tinha um jornalista espanhol chamado Luís Galvez, que ele descobriu que a Bolívia estava fazendo uma negociata com os Estados Unidos chamado Bolívia Syndicate, que os Estados Unidos pagariam para explorar a borracha desse território por 20 anos. Então, Galvez, com o apoio financeiro do governo do Amazonas, vem para cá e aqui ele proclama a independência do Acre e transforma em um país. Ficou país por quanto tempo? Por 9 meses. Nesse período ainda tivemos um golpe de estado, né? Por um mês ficou um outro presidente entre os seringalistas da época. Depois devolveram para Galvez até que o governo federal vem aqui e prende Galvez, leva preso por conta da pressão política que a Bolívia ficou exercendo sobre o governo brasileiro, nós estávamos muito mal vistos com a comunidade internacional por conta da guerra do Paraguai. Então, se o Brasil não viesse aqui, resolvesse essa contenda, né, para devolver o território para Bolívia, talvez a gente ficasse ainda um pouquinho mais mal visto ainda. Quando foi país, chegou a ter moeda, se teve, nós tivemos o selo, moeda, uma legislação, né? Tem alguns decretos que nós temos a cópia, mas a documentação toda dessa parte tá na Fundação Joquin Nabuco lá em Recife. A capital era Rio Branco ou era outro lugar? A capital era Porto Acre, né? porque era uma das cidades mais desenvolvidas e lá onde Galvez colocou o seu espaço, sua presidência ali em Porto Acre, que fica a 58 km daqui de Rio Branco. [Música] Hoje, em vez de batalhas, o Acre oferece encontros. No mercado velho de Rio Branco, o sabor é o que une. O tambaqui frito, o arroz com feijão, a farofa e o suco de graviola alimentam corpo e alma. Cada garfada carrega séculos de histórias, de migrações e de pertencimento. Comer aqui é reconhecer a força de um povo que fez floresta seu lar e da simplicidade um gesto de orgulho. [Música] Parada super estratégica no nosso almoço aqui em Rio Branco. Esse é o novo mercado velho e a gente veio para degustar um pouquinho dos sabores da culinária típica local. A gente tem aqui um tambaqui frito, vem com a saladinha, um prato com arroz, feijão, macarrão, farofa. Poderia vir com macaeira também, caso fosse do meu desejo. Esse suco aqui é graviola. E por esse prato aqui, por esse combo, R$ 25. Valor super justo, muita comida. Dois pedaços generosos de peixe aqui. Prato fundo, daqueles bons, para quem tá com fome. Deixa eu comer um pedacinho aqui do peixe para para poder fazer meu comentário. Muito saboroso. Feijãozinho com arroz aqui. Bom também. Vamos almoçar aqui para daqui a pouco a gente seguir mostrando os tantos encantos desses pedaços. especial do nosso Brasil. [Música] Rio Branco segue avançando com os desafios comuns das cidades médias brasileiras, mas determinada a encontrar um caminho de igualdade e segurança ao seu povo. Entre universidades, centros culturais, feiras populares e novos empreendimentos, a capital do Acre se reinventa sem perder a memória. O futuro aponta para o fortalecimento da bioeconomia, da educação e do turismo sustentável. E se antes foi território de disputas, hoje Rio Branco é território de sonhos possíveis e de uma brasilidade que pulsa forte no meio da Amazônia. Eu Localizado no segundo distrito de Rio Branco, o Parque Ambiental Chico Mendes é um dos principais espaços públicos voltados à preservação ambiental no estado. Criado em 1996, leva o nome do líder seringueiro assassinado por sua luta em defesa da floresta. O parque é um refúgio verde em meio à cidade, promovendo lazer, cultura e educação ecológica. Um espaço democrático, pensado para receber crianças, famílias e turistas que buscam contato direto com a Amazônia urbana. [Música] Então, o Parque Ambiental Chico Mendes, ele tem 57 ha, né? Dentro desses 57 haares, a gente encontra um zoológico em espécies amazônicas, né, que a gente trabalha muito a educação ambiental, assim como a gente tem uma praça de alimentação, área de piquenique, playgrounds agora inclusivos, né, para crianças com necessidades especiais. A gente também tem uma academia aberta, né? Temos trilhas para caminhada e trilhas ecológicas, a trilha da seringueira, a trilha da castanheira, temos réplicas da casa do seringueiro, que é passar um pouco da cultura criana, né? Dentro dela, desse contexto, nós temos as lendas amazônicas, que é um local onde a gente passa um pouco da história, das lendas, da da mística da Amazônia. Também temos a maloca indígena, uma réplica também para a gente ressaltar os nossos povos indígenas aqui do nosso estado. Mais do que trilhas e estruturas, o parque promove um encontro com saberes e tradições da floresta. O visitante caminha por espaços temáticos que valorizam a história local, a cultura dos povos originários e os ciclos da natureza. É uma visita que educa deixar de entreter. Cada canto do parque foi pensado para inspirar respeito ao meio ambiente e lembrar que preservar é uma forma de cuidar da nossa própria história. [Música] Um respiro de natureza no meio da cidade grande. Sempre que nós temos a oportunidade de visitar centros urbanos e nos deparamos com áreas preservadas como essas, eu gosto de mostrar para você de casa. Primeiro porque é uma conexão muito interessante que o visitante pode ter com a natureza, com as árvores, com os animais, com o cantar dos passarinhos. Segundo, que é uma forma que nós temos de dar educação ambiental às novas gerações e também ao restante da população, mesmo pessoas que já estão mais maduras, que já estão formadas com seus costumes, porque cada vez mais nós vivemos uma sociedade onde a preservação ela faz parte do nosso cotidiano. É importante produzir, é importante ter a criação, mas a gente também precisa da árvore em pé. E aqui a gente tem uma outra coisa interessante, eu sempre digo isso, é a questão do conforto térmico. A temperatura aqui você sente muito menos aquele calor da cidade que tem a troca ali do sol com asfalto, muito cimento. Eu sempre gosto de dizer que aquela cidade onde o gestor se preocupa em plantar as árvores, em melhorar, porque isso vai melhorar a qualidade de vida das pessoas, eu acho que é muito positivo. Então esse é um dos exemplos que eu levo de Rio Branco. Já vi sim em outras cidades do Brasil, mas aquelas que ainda não tem precisam ter. A gente precisa ter esse momento de respeito com a natureza. A gente precisa fazer a nossa parte, colaborar e escrever o futuro do nosso planeta de forma assim consciente, produzindo, mas respeitando a mãe natureza. [Música] O memorial é uma homenagem singela e poderosa ao seringueiro que se tornou o símbolo mundial da luta ambiental. O espaço convida a reflexão sobre o legado de Chico Mendes, suas batalhas e conquistas e traduz sua história em objetos, imagens e experiências educativas. É um ponto de parada obrigatória dentro do parque que ajuda a compreender o Acre profundo, onde floresta, resistência e conhecimento caminham lado a lado. [Música] Recentemente a gente e reformou todo o Memorial Chico Mendes, trazendo toda a história, a luta, o legado do Chico Mendes em um cantinho feito até pelos próprios eh funcionários aqui do parque, com madeiras doadas de apreensões ambientais, né? Então é um local específico, bem agradável, onde também a gente colocou um cantinho de leitura para as crianças aprenderem um pouco da Amazônia, um pouco do meio ambiente, que é chamado Chico Ensina. E lá a gente também passa vídeos falando de toda a trajetória do Chico Mendes, além de eh vídeos ambientais pra gente fazer a nosso papel principal, que é educação ambiental. O zoológico do Parque Chico Mendes abriga animais que não têm mais condições de retornar à natureza. Muitos foram resgatados de situações de risco ou de criação ilegal e hoje vivem sob cuidados técnicos permanentes. O espaço funciona como abrigo e também como ferramenta de sensibilização ambiental. Ao conhecer esses animais, o visitante aprende sobre os impactos da domesticação e da perca de habitate e sobre a importância da fauna amazônica. Joseline, a gente tá aqui dentro do parque, nessa área que funciona o zoológico, né? Nós temos aqui inclusive plateia para essa nossa entrevista. Como é que esses animais chegam aqui? Sobre quais circunstâncias? Então, todos os animais aqui que chegam ao parque, eles passaram por um eh período de adaptação no centro de triagem de animais silvestres, que é do Ibama Acre. Então, lá eles avaliam se o animal tem ou não condição de retorno à natureza. Então, todos os nossos animais do zoológicos passaram por esse eh critério e todos eles não têm condição de retorno à natureza. Então, a função deles hoje é a gente fazer uma educação ambiental. Perfeito. Esses animais aqui, você tava me explicando que tem uma dieta, tem todo um processo para que eles tenham uma vida saudável e longeva aqui dentro. Sim, a gente tem uma equipe toda aqui trabalhando. Nós temos tratadores, temos três médicos veterinários, três biólogos que trabalham aqui intensivamente todos os dias, de segunda a segunda para manter esses bichos saudáveis, né? Temos dietas, temos rações específicas para primatas, para tucanos, para aves de modo geral, para eh as tartarugas, os tracajás, né? Então tem todo um cuidado, todo um carinho para manter esses animais saudáveis. Entre aves, mamíferos, são quantos, quantas quantos animais estão aqui dentro? Então, hoje, atualmente, nós estamos com 34 espécies, né? 287 indivíduos, né? Entre répteis e mamíferos e aves. Bacana. Essa espécie aqui, qual é? Essa aqui é o macaco aranha. Macaco aranha. Isso. E você me disse que esses animais aqui eles eram animais domésticos, né? Algumas pessoas tinham esse mau hábito de criar esses animais dentro de casa. Exatamente. E existe um costume amazônico, né? E já há alguns anos a universidade fez uma pesquisa de cada 10 casas, nove tinham animais silvestres. Papagaios, periquitos, jabutis, primatas também. As pessoas gostam muito de ter porque eles têm essa, como é que eu posso dizer? essa interação com o ser humano, né? Então, todos eles, eles já tinham contato com outros humanos, né? Então, por esse motivo, eles estão aqui com a gente. Quem passa por aqui sai diferente, com o olhar mais atento à floresta, aos animais e às futuras gerações. Um exemplo de que é possível conviver com a natureza dentro da cidade, respeitando os ciclos, os povos e as memórias que formam a identidade acriana. [Música] O rio Acre nasce no Peru, atravessa o estado acreo, de su a norte, corta a capital Rio Branco e segue até o Amazonas, desaguando no rio Purus. São mais de 1190 km de extensão, sendo vital para a história e o cotidiano da região. Foi pelas suas águas que surgiram comunidades, circularam riquezas e se formou a identidade de um povo. [Música] O rio Acre faz parte do cotidiano de quem vive aqui em Rio Branco. E é claro que eu, estando na cidade quis aproveitar a oportunidade para passear um pouco, conhecer as suas histórias, sua cultura, sua influência no dia a dia de quem vive nessa terra tão especial. E além do passeio de barco, também tem a boa comida preparada num flutuante, tendo a companhia da natureza e comendo peixe de extrema qualidade. Um daqueles roteiros que você, se vier à cidade, assim como eu, também tem de vivenciar. [Música] Navegar em suas águas é como visitar uma biblioteca viva. A paisagem muda, as histórias aparecem e o sentimento de pertencimento se fortalece a cada curva do rio. Durante o passeio, conhecemos Carlos Malveira, que vive essa relação com o Rio desde o nascimento. E foi entre memórias e paisagens que ele dividiu com a gente um pouco da história de quem cresceu o ribeirinho, tirando do rio não apenas alimento, mas também os seus caminhos. [Música] Eu nasci na margem do rio Acre, eh, há 58 anos atrás. E essa relação com o rio veio desde sempre, porque a gente trabalhava nessa área de terra, que a gente chama de colônia, e tirava o sustento nosso, precisando do rio, né? plantava nas margens do rio, colhia nas margens do rio, usava o rio para para chegar a escola que não tinha estrada nessa época, era tudo pelo rio para vir trazer a nossa produção produção para vender e comprar algumas coisas que a gente não conseguia produzir na colônia, na área rural que a gente morava, né? Então essa relação do rio e sempre foi muito importante, principalmente paraa nossa sobrevivência. É impossível entender Rio Branco sem compreender o papel do rio Acre nas transformações da cidade. Ele não é só paisagem, foi estrada, sustento e testemunha das mudanças do tempo. [Música] A Rio Branco da infância do senhor e a Rio Branco de hoje. Muitas transformações, muita diferença. diferença. Ah, a gente percebe bem na parte da da a concentração de de carros, né, nas nas ruas. Antigamente era muito poucos carros, né? Hoje nossa cidade tá pequena pra quantidade de carro que tem. E melhorou muito também essa questão do acesso. Antigamente não se chegava de carro com facilidade aqui em Rio Branco, né? Não, eu tava falando para você antes na na época que a gente estudava adolescente, a gente vinha paraa cidade de barco para estudar porque não tinha estrada, então o transporte era feito através do rio. O senhor me disse que antes de ter o asfalto daqui até Porto Velho, quanto tempo um caminhão em tempos de chuva demorava para sair de Porto Velho e chegar a Rio Branco? Olha, parece até brincadeira, mas 520 km, que é a distância da capital de Rondônia, Porto Velho até Rio Branco, tinha caminão que levava mais de 30 dias com carga. 30 dias. 30 dias. Porque não conseguia passar? Porque a estrada era só barro, lama, não tinha asfalto, né? A maior parte da produção vinha pelo rio. [Música] O passeio vai terminando, mas a conexão com o rio continua. Em suas margens encontramos um flutuante onde tudo ganha outro ritmo. A fumaça da brasa, o cheiro do peixe e o calor da acolhida anunciam que chegou a hora de viver o Acre também pelos sabores. O tambaqui por essas bandas é mais do que um prato. É tradição. Preparado com paciência e cuidado, ele reflete o gosto local pela comida bem feita. [Música] Tamba aqui já tá com uns 15 minutos aqui no papel alumínio. Agora a gente vai tirar o papel alumínio. Ele já cozinhou aqui dentro do papel alumínio. A gente vai tirar o papel alumínio para ele dourar na churrasqueira. Dá aquele aquela corzinha. Aqui você tá vendo que ele tá cozidinho, ó, soltando os pedaços. Como é que o senhor aprendeu a fazer esse peixe? É, praticando. Fazia de um jeito, não ficava gostoso, fazia de outro. Porque o que que a gente tem que ver? que a gente tem que ver a rapidez e a qualidade. O cliente gosta de qualidade, mas gosta de rapidez. Então aqui ele vai para dourar mais uns 15 minutos, ele tá pronto para o consumo. [Música] E com quase tudo já pronto, vai chegando a boa hora. Como sempre gosto de dizer, é ao redor da mesa que a comida ajuda a inspirar uma boa prosa. Já passeamos pelo rio e agora a Malveira preparou um banquete aqui para mim. Rapaz, muita comida, viu, Malveira? Nós vamos ter que dar umas três viagens aqui para dar conta desse tanto de negócio. É isso aí. Só são alguns dos pratos típicos aqui da nossa região, né? O peixe é não pode vir ao Acre sem comer um peixe. Não tem sem comer um peixinho. E esses que você escolheu aqui? Explica o pessoal de casa. Essa aqui é uma espécie e nativa da nossa região, é o tambaqui, né? Esse aqui tá o tambaqui sem espinha, apenas com a espinha grande da costela, que não tem perigo de você sofrer nenhum acidente de se engasgar. E aqui só a costelinha do tambaqui, né? E aí para acompanhar temos temos um vatapá sem pimenta, um vatapá com pimenta. Aham. Vinagrete, baião de dois. Eh, e uma farofa típica da nossa região com farinha aqui da nossa região. Bananinha também para dar uma temperada. Uma bananinha aqui fora do do da nossa região chama banana da terra. Aqui a gente chama banana comprida. Banana comprida. Isso. Bom, então você falou do vatapá. Vou colocar aqui também um pouquinho. Esse tem pimenta. Mas muita pimenta ou pouca pimenta? É suave. É uma pimenta suave porque nós é crian e a maioria das pessoas gostam da pimenta suave. Não é aquela pimenta de de castigar. É. Lá na Bahia a gente já gosta de umas pimentas por causava dar uma suada. É viu, rapaz? Muito bom. Peixe maravilhoso. Esse peixe é bom demais. Aqui nós nós temos aqui um um molhinho aqui que se você quiser colocar em cima do peixe aqui, ó. Joga duro aqui, ó. Bote aqui também. É, na realidade isso aqui serve para é coisar o sal, né? Deixar o sal no ponto. O peixe é espetacular. É muito bom. O vatapá também muito bom. Parabéns pelo peixe. Já passeamos com no barco aí, conhecendo um pouco do rio e agora vou falar um negócio com você. Nós temos uma missão grande aqui pela frente, viu? Porque eu sou do da do lema de que se vem não volta. Então nós vamos comparecer firme aqui agora. Eu acho que a a moça que falou comigo, a produtora de vocês, né, Bianca? Isso. Eu acho que ela não falou qual era a o segredo, não, a condição hã que você só pode ir embora quando comer a comida toda que tá na mesa. Então, meus amigos, vocês me dê licença agora que eu vou começar agora uma batalha das melhores. Vou representar cada um de vocês que estão assistindo a gente. Agora você vai me ajudar também, viu? Vamos lá, né? Vamos nessa. [Música] Por muito tempo, as vastas planícies do Acre pareciam silenciosas, mas uma descoberta mudou essa percepção. Marcas no solo com clareza impressionante, traçando desenhos perfeitos onde antes só se via mato. Foi o início de uma nova fase de pesquisa. arqueológica na Amazônia, levantando hipóteses, abrindo investigações e revelando que o chão por aqui guarda mais do que a vista alcança. [Música] Os geoglifos eles são estruturas engenhosas, monumentais e arquitetônicas, que eles mostram que aqui a 2000 anos, 2500 anos, viviam uma sociedade complexas. Talvez fosse povos seminômades, não que morassem aqui, mas que vinham em determinadas épocas do ano, faziam essas estruturas poros seus deuses ou para suas celebrações, para suas cerimônias e posteriormente retornavam. para fazer uma estrutura desse tamanho, dessa magnitude, em uma forma tão geométrica, era um povo muito grande que vinha determinada época do ano para construir isso aqui. E eles não construíam apenas em um dia, levavam um certo tempo para poder construir. [Música] Nem tudo que a ciência revela aparece de imediato para quem vive no lugar. Por muito tempo, essas marcas foram vistas com naturalidade como parte do terreno. Com o passar dos anos, no entanto, o que antes era comum virou ponto de fascínio. Hoje há quem cruze o país só para andar por essas linhas desenhadas no chão. E em cada passo, uma pergunta: o que esses sinais estão tentando nos contar? [Música] Antigamente, quando se tinha o estudo sobre o que que são essas formações, o que que o senhor imaginava com a família do senhor? Bom, que nós imaginar que fosse da natureza mesmo, né? A única diferença que nunca juntava água dentro desses buracos. Era chovia, ficava aquela águazinha com um prazo de 2 horas que passou a chuva já não tinha mais água. Que nesse tempo não tinha pisoteio de gado, né? Era somente plantações. E tem muita gente que vem visitar. Sempre vem gente visitar. Movidos pela curiosidade. É de todo canto. A a coisa mais impressionante que eu achei foi uma mulher de São Paulo. Ela veio sozinha para Rio Branco e o capim tava mais alto do que agora. E ela de bermuda sozinha. Ela veio de ônibus e andou nesses geogrifo todinho. Quando ela chegou aqui de tarde, eu tava sentada, ela chegou ali toda cortada de capim. Eu digo, mas você veio sozinha? Ela disse: “Vim sozinha vim”. Pela curiosidade. As descobertas feitas no Acre abriram caminho para investigações em outros territórios amazônicos. Aos poucos, novas marcas começaram a aparecer, revelando padrões semelhantes em regiões distintas. A distribuição dessas estruturas levanta hipóteses sobre rotas, trocas culturais e modos de ocupação e mostra que a presença humana nesse pedaço do continente era ampla, diversa e cheia de significados ainda não decifrados. [Música] Nós temos esse tipo de geoglifos, esse tipo de sítio arqueológico, eles estão espalhados em toda a Amazônia. Eles começam na Bolívia com formas não tão geométricas, são polígonos irregulares, mas dá de ver que é um círculo, um quadrado. E aí eles vêm para para essa parte leste do estado do Acre, depois vai se aproximando pr e pro Amazonas e uma parte da de Rondônia subindo em direção a Mato Grosso, ao Xingu. Então ele tão espalhado todo nessa parte ocidental do da Amazônia. Enquanto o solo guarda marcas visíveis, o interior dele esconde outros sinais do passado. Fragmentos de objetos revelam modos de vida, hábitos e escolhas de quem viveu por aqui séculos atrás. É com esses vestígios que a ciência vai montando sua narrativa camada por camada, cruzando evidências e tentando reconstruir um cotidiano que nunca foi escrito, mas que segue preservado no silêncio da Terra. Então, nesses sítios que nós temos eh que foi realizado já alguma pesquisa, tem material que foi retirado desses sítios arqueológicos, tipo e cerâmica. material lío, machadinho, cavão, sementes carbonizadas. E esses vestígios eles conseguem contar a história do povo que construiu isso aqui e utilizou isso aqui. Então, os vestígios, é claro que os geoglifos em si, a estrutura, esse arranjo espacial, ele já é um grande vestígio para que nós possamos estudar e desvendar. [Música] Um dos moradores que tem em suas terras um geoglifo é o senhor Severino Calazãs. No alto dos seus 103 anos e com uma disposição que impressiona, me convidou para tomar um café. Ali na varanda de casa emendamos uma boa prosa cercada de muitos aprendizados. [Música] Seu Sivirino, o senhor nasceu em que ano? 1921. 1921.1. Nós estamos em 2025. São 104 anos. 103 completo, né? É completo. É 10. E vai fazer 104. Fazer 104. É. Qual é o segredo para chegar nos 104 anos? Bem, desse jeito. Esse segredo só Deus, só Deus que limita a gente para saber que tudo que nós fazemos é ordenado por Deus. Até fora do país o senhor morou? Morei. Morei fora do país. Morei se meses. Aonde foi? Japão. No Japão. Japão. E o senhor comia? Morou em Tóquio. Em Tóquio. Comia aqueles peixes cru? Comia mais gostoso do que o cozinhado aqui que tinha aquele molho põe em cima. Hã. Fica melhor do que ele cozinhado. E coisa boa. E lá o senhor trabalhou com quê? Trabalho com caminhão. Motorista de caminhão. Motorista de caminhão. Gostou de viver lá? Achei bom. Não achei bom. Achei bom, mas fiquei só seis meses, hein. Fiquei só seis meses. Aí voltou. Tinha que mudar para cá que as coisas do do meu patrão tava tudo esparramado. Ele tinha que vir arrumar as coisas dele e eu tinha que vir junto, né? Entendi. Ele só confiava de eu andar junto com ele. Era o menino, né? naquele tempo. E o que que é felicidade pro senhor? O que que é ser feliz? Olha, é felicidade que eu gosto comunicar com um, com outro que chega para mim é uma felicidade. Bater papo, bater o papo, conversar, parece que agita, animais, Ah, então quando o senhor tem assim alguém para bater um papo, dá uma energia boa. Dá energia boa. É que bacana. Fico tranquilo, sen porque se eu tivesse sem bater um papo, não aguentava ficar esse tempo tudo sentado aqui, não. Tem que levantar, caminhar para não aguento não. Fico tonta. E o senhor ainda labuta com a roça? Não, não, não. Eu eu abandonei faz tempo. Aí às vezes eu arranco um pé de mato com a mão, já fico tonto. É, né? É. E tenho vontade, né? Porque quando eu trabalhava você não viu um pé de mata aqui no abrir da estrada. Obrigado, viu? por me receber aqui na sua casa. Satisfação. Que Deus mantenha o senhor forte por muito tempo. Que Deus lhe abençoe. E tô feliz em ter conhecido o senhor. Felicidade para igualmente. Deus lhe abençoe. Em Rio Branco, a gente aprende que a capital de um estado pode ser cercada de floresta, cortada por um rio e embalada por histórias que o vento não apaga. As marcas no chão, que hoje chamam de geoglifos, parecem dizer que o passado nunca foi tão presente e o futuro por aqui se constrói com respeito à Terra, ao saber popular e as lutas de quem plantou ideias antes mesmo de plantar sementes. O Acre não se impõe no grito, ele toca devagar pela raiz e faz morada em quem tem disposição para escutar com o coração aberto. Se você assistiu esse vídeo até aqui, escreva nos comentários capital da floresta pra gente saber que curtiu o nosso trabalho. Isso ajuda bastante na divulgação do canal. [Música] Boa sorte, viajante. No próximo episódio, Boa Sorte Viajante segue pelo estado do Acre e vai conhecer Chapuri, cidade de forte história e muitas tradições. [Música] Aproveite para se inscrever aqui no canal e acompanhar as reportagens que o Boa Sorte Viajante prepara toda semana. Se você viu pela TV, pega aí o seu celular e abre o vídeo para deixar um like, o famoso joinha. Eu sou Mateus. Boa sorte. Esse foi o nosso programa de hoje. Que o nosso bom Deus abençoe sempre a sua caminhada. Um abraço. Tchau. Boa sorte.