POR QUE o Brasil tem os Carros MAIS CAROS do Mundo? (Não é o que você Pensa…)
0Se um trabalhador brasileiro que ganha o salário médio de R$ 3.378 decidir comprar um carro 0 km, ele precisa juntar tudo o que ganha por quase 22 meses. São praticamente 2 anos sem gastar nenhum real do salário para sair da concessionária com Citroë C3 Live 1.0 que custa R$ 73.490. Enquanto isso, na Espanha, um país que nem está entre os primeiros quando falamos de países mais ricos do mundo, a situação é bem diferente. Por lá, com o salário médio de 2.290 € um trabalhador precisa economizar menos de 7 meses para pagar os 13.940 € que custam um sandeiro 0 km. E se você está achando que a diferença existe apenas no segmento de carros populares, é melhor se preparar. Caso o trabalhador espanhol decida guardar suas economias pelos mesmos 22 meses que o brasileiro demoraria para comprar um C3, ele poderia colocar na sua garagem uma BMW X1, um carro que por aqui a esmagadora maioria da população não pode sequer sonhar. Mas o que torna o carro brasileiro um dos mais caros do mundo? Será que a única diferença é a carga tributária? E por preços não baixam? Se você quiser saber as respostas, é só assistir esse vídeo, porque hoje vamos ampliar nosso conhecimento global sobre a indústria automotiva brasileira. [Música] Nos últimos anos, o sonho de comprar um carro 0 km ficou mais distante para muita gente. Segundo uma reportagem da CNN de 2023, em uma década, o valor de um carro popular no Brasil aumentou mais de 200%, e de 2023 para cá, os preços subiram ainda mais. Mas da verdade, esse não é um problema exclusivo do Brasil. Os problemas começaram em 2020. A pandemia provocou uma desaceleração na cadeia de produção de microchips e a escassez dos semicondutores afetou diretamente a produção de veículos. E não é preciso ser nenhum gênio para se dar conta de que com menos veículos saindo das fábricas, o preço tende a subir. Mas como falei, esse foi só o começo dos problemas. Nos anos seguintes, algumas das principais matérias primas utilizadas na produção de um carro, como aço, alumínio e plástico, atingiram valores cada vez mais altos. chegando ao ápice em 2022. Para fechar a conta, a mão de obra, o frete e a eletricidade também subiram. Isso sem falar em mudanças de normas de segurança que obrigam as empresas a colocarem novos dispositivos e as exigências ambientais cada vez maiores. Por conta de tudo isso e mais alguns outros fatores, os preços subiram de forma estratosférica. Na Itália, por exemplo, em 2004, um Golf básico custava exatamente 15.95 950 €. Uma década mais tarde, comprar o mesmo carro custava 17.650 €. E com o grande salto, em 2024, o Golf já estava custando 30.150 150 € praticamente o dobro do começo do século. Por um lado, dá até um alívio saber que os veículos ficaram mais caros no mundo inteiro e que o Brasil não foi um caso isolado. Mas, por outro lado, bate um desespero de saber que algo que já era caro pra maioria da população agora está ficando praticamente inalcançável. Como vimos no exemplo do começo do vídeo, o brasileiro precisa trabalhar muito mais tempo que um cidadão de outros países para comprar um carro. Isso é desanimador. Mas afinal, por que os carros brasileiros são tão caros? Na hora de comprar ou trocar de carro, a lista de preocupações é extensa. Entre escolher o modelo, a cor, analisar o preço do seguro e muitas outras coisas, acabamos deixando de lado o quanto pagamos de impostos na hora da compra. Segundo a BBC, quando compramos um carro fabricado no Brasil, cerca de 30 a 50% do valor é imposto. Ou seja, dependendo do caso, metade do valor gasto na compra de um carro nacional sai do bolso do consumidor diretamente para os cofres do governo. Junto com pneus, rodas, motores e bancos, pagamos também ICMS, IPI e Piscofins. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, o segundo maior mercado automotivo do planeta, os impostos variam entre 4 e 8%. Já na Alemanha, terra natal de grandes montadoras como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW, apenas 19% do valor de um carro novo vai para o governo. E para quem está achando injusto comparar as taxas do Brasil com países desenvolvidos, vamos dar uma olhada em quantos compradores mexicanos pagam de impostos quando vão comprar um carro 0 km. De acordo com a revista Quatro Rodas, além de ter um sistema simplificado com único imposto, o México cobra uma alíquota fixa de 16%. Como não dá para esperar que o Brasil tenha uma alíquota semelhante a dos Estados Unidos, podemos pelo menos imaginar os preços com as taxas mais próximas das praticadas no México, na Alemanha e em vários outros países. Caso o governo ficasse com apenas 18% do valor de um carro, vamos ver qual poderia ser o preço do Citroë C3 que usamos de exemplo no começo do vídeo, tomando como base essa reportagem da CNN que diz que um carro 1.0 zero. Como esse pode ter até 36,53% de impostos. Descobrimos que o veículo que é vendido por R3.490 custa R$ 53.827 para ser produzido, já considerando os lucros da montadora e revendedora. Agora, sobre esse valor, se aplicarmos a alíquota de 18%, o preço final seria de R$ 63.515. A diferença de quase R$ 10.000 R pode até parecer pequena, mas se aplicada em veículos de todas as categorias, com certeza tornaria os carros acessíveis a muitos brasileiros. O mesmo poderia acontecer se o Brasil reduzisse os impostos sobre os veículos importados. Nesse caso, para trazer um carro fabricado em outro país, é preciso pagar entre 60 e 80% do valor do veículo para o governo. Essa medida, que tem como objetivo proteger a indústria nacional é mais uma das causas apontadas para o alto custo dos veículos no Brasil. Como vimos, a redução de impostos poderia baratear um pouco o preço final, porém os veículos ainda continuariam sendo caros. Isso se deve em grande parte ao proteismo, um velho conhecido da indústria automotiva brasileira. Tudo começou no Longinco, ano de 1956. Durante o governo de Jcelino Kubichek, JK havia sido eleito com a proposta de modernizar o país e avançar 50 anos em cinco. Depois de eleito, ele criou um plano de metas que proibiu a importação de veículos e ofereceu incentivos para que as montadoras passassem a produzir seus automóveis no Brasil. Rapidamente, montadoras como Volkswagen e General Motors correram para se instalar no Brasil e se juntaram à Ford, que já estava por aqui desde 1919. Embora essa medida tenha dado bons resultados no curto prazo, com o crescimento acelerado da indústria e o aumento de empregos, no longo prazo, ela criou o monstro que não consegue fabricar carros a preços competitivos. O fato é que nenhuma dessas empresas se instalou no Brasil porque aqui era um bom lugar para fabricar carros e sim porque essa era a única maneira de ter acesso ao mercado brasileiro. Com isso, por algumas décadas, Ford, General Motors, Volkswagen e Fiat reinaram sozinhas, sem concorrência e com mercado suficiente para não precisarem se preocupar em ser mais eficientes ou lançar modelos melhores. Hoje, graças aos incentivos e proteções, as fábricas brasileiras não são competitivas em nível internacional e não conseguem exportar em grande escala para países da Europa e da Ásia. Em 2013, ano em que o setor atingiu o auge da produção, com 3.700.000 veículos produzidos, apenas 15% da produção foi enviada para o exterior, a maioria para países da América do Sul, como Chile, Argentina e Uruguai. Por conta disso, as fábricas brasileiras produzem muito menos do que poderiam. No total, todas as 13 fabricantes que operam no Brasil poderiam produzir cerca de 4 milhões de veículos por ano. Porém, em 2024, mesmo com o aumento de 10% na produção, apenas 25 milhões e saíram das linhas de montagem. Isso coloca a indústria automotiva brasileira em um verdadeiro círculo vicioso. Sem utilizar toda a capacidade, perdem em eficiência. Porém, sem eficiência não conseguem ser competitivos e vender mais, o que ajudaria a chegar perto do 100% de capacidade. É o famoso cachorro correndo atrás do rabo. Por isso, é comum vermos notícias como essa de mais um plano do governo para dar incentivos ao setor. Apesar de tudo, existem muitos defensores do protecionismo que alegam a quantidade de empregos gerados como principal benefício. Muitos até citam casos de sucesso em políticas protecionistas, como Japão e Coreia do Sul. Nesse caso, é preciso olhar muito bem as particularidades de cada caso e por si só poderia render um vídeo inteiro. Então, se você quiser um vídeo com essa comparação, deixe um comentário e espere seu pedido ser atendido aqui no canal Conhecimento Global. Em teoria, os incentivos do governo deveriam reduzir os preços dos veículos. Porém, o que acontece na prática é que o governo dá com uma mão e toma com a outra. Todas as empresas que atuam aqui precisam enfrentar o famoso custo Brasil. Energia mais cara, valores de fretes nas alturas, falta de infraestrutura e a insegurança são alguns dos fatores que afetam ainda mais a competitividade das empresas brasileiras, tanto do setor automotivo quanto de outros. Além disso, a burocracia e o complicado sistema tributário brasileiro também elevam os custos operacionais. O problema é tão grave que a Confederação Nacional das Indústrias coloca o custo Brasil entre as principais barreiras que impedem as empresas brasileiras de serem competitivas. E para fechar a conta, ainda é preciso colocar na ponta do lápis os custos das ações trabalhistas que uma empresa que atua no Brasil está sujeita a sofrer, que não são poucas. Com tantas travas, impostos e empecílios, o mais normal é pensar que as empresas não tenham muito interesse em atuar no Brasil. E é aí que entra mais um componente que ajuda a aumentar o preço dos nossos cargos. Segundo o levantamento feito pelo jornal O Globo em 2012, em nenhum outro lugar do mundo as montadoras ganham tanto dinheiro, percentualmente falando quanto no Brasil. O estudo aponta que a margem de lucro por aqui é de 10%, enquanto nos Estados Unidos é de apenas 2% e no resto do mundo chega a 5%. Somando tudo e ainda acrescentando mais alguns fatores que ficaram de fora, temos todos os ingredientes que tornam o carro brasileiro um dos mais caros do mundo. A grande dificuldade aqui é entender como mesmo assim ainda são vendidos mais de 2 milhões de veículos por ano. [Música] Se você assistiu televisão nos anos 90, com certeza deve se lembrar das propagandas do posto Ipiranga que ressaltavam a paixão dos brasileiros pelos carros. Rápido, a gente tem que transferir o passente agora. Agora? Acabei de lavar a ambulância. Vem chuva aí, gente. Carro branco suja. Aí, ó. Ainda vai emporcalhar tudo lá dentro. Vocês quer um táxi? Pois essa é a paixão que, pelo menos em partes, ajuda a entender como tantos carros ainda são vendidos no Brasil. Enquanto em países como Holanda ou Dinamarca é comum a utilização de bicicletas até por executivos e na Alemanha usar o transporte público não define a classe social. No Brasil ser proprietário de um carro carrega um peso simbólico enorme, desde o jovem que sonha em comprar o primeiro carro e economiza a maior parte do salário para isso, até o pai de família que sonha em comprar um SUV. Nem que tenha que comprometer o orçamento familiar, quase todos querem um carro. Para além disso, muitos enxergam nos carros uma forma de prova social. Ter um carro 0 km é sinal de vencer na vida, mesmo que em teoria o carro seja mais do banco do que do proprietário. E deixando a paixão e status de lado, tem também a questão da necessidade, já que muitas vezes comprar um carro é a única opção para locomoções de uma parcela dos brasileiros, ter um carro é a única forma de chegar ao trabalho, a faculdade ou a qualquer compromisso, sem ter que esperar pelo transporte público e passar horas em ônibus e metrôs lotados. Muitos dos que não possuem alternativas acabam recorrendo ao mercado de carros usados ou seminovos. Porém, de uma forma ou outra, isso acaba levando ao aumento nas vendas de carros novos e a manutenção do sistema, que funciona assim há décadas. Outro ponto que favorece a venda dos carros novos é a possibilidade de financiar um veículo em prestações a perder de vista. Não é à toa que quase metade das vendas de carros novos no Brasil são feitas nessa modalidade. Ao comprar um carro financiado, o comprador deixa de olhar para o valor final do veículo e passa a se preocupar muito mais com o valor da parcela. Na hora da compra, se a prestação cabe no bolso, muita gente nem pensa em quanto está pagando de juros ou quanto pode valer o carro quando o financiamento acabar. Por esses e outros motivos, mesmo vendendo os carros mais caros do mundo e com qualidade inferior, o Brasil ainda figura na lista dos 10 maiores mercados automotivos do mundo. No ranking de 2024, aparecemos em sexto lugar à frente de países como França, Reino Unido, Canadá e Itália. A grande diferença é que nesses países, com o valor do nosso carro mais barato, é possível comprar um veículo de luxo. Apesar de tudo, o Brasil não é o único a enfrentar problemas com a fabricação de automóveis. Até mesmo uma grande potência enfrentou muitos desafios nessa área. E é isso que eu te conto nesse vídeo sobre a produção de carros na União Soviética. É só clicar e continuar ampliando seu conhecimento global. Muito obrigado por assistir até aqui.