Por que o Brasileiro Odeia dar Gorjeta?

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A gorjeta é um gesto para recompensar um bom 
serviço, mas virou um hábito automático — e, em muitos casos, um problema.
Você mal foi atendido, a comida atrasou, o garçom não sabia nada do cardápio… mas lá 
estão os 10% sugeridos no final da conta. Você não é obrigado a pagar, mas muita 
gente paga achando que é. E pior: parte do valor pode nem ir pro garçom — pode ser 
usado inclusive pra pagar imposto da empresa. Em alguns países, gorjeta é quase um 
crime. Em outros, é um dever moral. Mas por que aqui no Brasil a gorjeta 
virou praticamente um imposto disfarçado? Por que, quando a gente paga os 10%, raramente é por vontade própria, mas 
sim por obrigação ou constrangimento? Em alguns países hoje a gorjeta 
é fundamental para a renda de muitos trabalhadores, especialmente em 
setores como restaurantes e hotelaria. Mas uma outra maneira de enxergar isso é que 
a gorjeta é uma fonte essencial de renda para compensar os baixos salários dos funcionários.
Historicamente, gorjetas eram oferecidas pelos nobres a seus servos como uma demonstração 
de gratidão extra. Essa ideia foi se moldando ao longo dos anos, mas permanece muito 
forte hoje em países como EUA e Canadá. Existem diversas teorias para explicar 
por que as pessoas dão gorjetas. “Entre muitas explicações para dar gorjeta, a 
teoria da equidade é provavelmente a explicação que tem sido examinada com mais frequência. Quando 
pesquisados, os clientes frequentemente mencionam que dão gorjeta para recompensar um bom serviço”.
Basicamente o cliente sente a necessidade de equilibrar a relação com quem prestou um serviço 
pra ele. Ele recebeu um serviço muito bom e sente que precisa “acertar a conta” além do valor 
da refeição. O garçom deu atenção extra, ele retribui com uns trocados a mais.
Outra teoria importante é a do Altruísmo. Segundo pesquisas, “os clientes 
também dão gorjeta para ajudar os garçons a ganharem uma renda digna ou porque 
se identificam com suas condições de trabalho”. Curiosamente, o mesmo estudo mostra padrões 
bem específicos: na Europa, garçons que falam o mesmo idioma do cliente ou imitam sua postura 
recebem mais; trabalhadores do ramo alimentício são mais generosos nas gorjetas quando são 
clientes, afinal, conhecem na pele o desafio; e clientes assíduos são mais generosos, o 
chamado ‘efeito da mera exposição’, que mostra que somos mais generosos com quem conhecemos.
Tem ainda a teoria da Gestão de Impressão: muitos dão gorjeta para manter uma boa 
imagem social ou exibir status financeiro. E por fim, a teoria das Normas Sociais talvez 
seja a mais poderosa no contexto atual. Muita gente dá gorjeta simplesmente porque sente 
que é o normal e teme ser julgado se não o fizer. O curioso é como essas explicações se combinam e 
se reforçam: no fundo, dar gorjeta é uma mistura de querer ser justo, querer ajudar, querer ser 
bem visto e querer evitar o constrangimento de quebrar uma regra social invisível. E isso explica 
por que, mesmo em países com regras diferentes, a prática da gorjeta se mantém viva até hoje.
Mas o problema é que aqui no Brasil, quando pagamos os 10%, raramente é 
por alguma dessas razões positivas. A gente paga mais por obrigação do que por 
reconhecimento. E é aqui que a coisa complica. No Brasil, a gorjeta faz p arte do nosso 
sistema de restaurantes, mas assim como em todos os outros países, ela não é obrigatória 
por lei para o cliente. Segundo Leonardo Morau, advogado especialista em Direito do Consumidor, 
“no Brasil, a gorjeta não é obrigatória. Contudo, é um costume bem disseminado na cultura 
nacional como forma de reconhecimento e agradecimento pelo bom atendimento”. Mas 
será que essa afirmação reflete a realidade? Na verdade, o Brasil parece ter uma 
das menores culturas genuínas de gorjeta do mundo. O que existe não é uma 
cultura de dar gorjeta voluntariamente, mas sim uma aceitação passiva dos 10% 
automaticamente incluídos na conta. Diferente dos EUA, onde mesmo sem incluir na 
conta as pessoas dão 15-20% por hábito cultural, aqui quase ninguém daria gorjeta 
se ela não viesse já embutida. Na prática, a maioria dos restaurantes e bares 
simplesmente coloca os 10% diretamente na conta, sem te perguntar antes se você quer pagar. 
Em cidades como São Paulo, esse percentual pode chegar a 13%, especialmente para tentar 
reter mão de obra qualificada. Legalmente, você pode recusar esse valor ou ajustar a quantia, 
mas a realidade é bem diferente: muitos deles não te informam sobre essa opção e não te perguntam 
se você deseja incluir, simplesmente embutem na conta final esperando que você não perceba ou 
não questione – e apenas pague. O “sugerido” na verdade já vem como padrão, e você é que 
tem que fazer o trabalho de pedir para tirar. O problema é que essa “opcionalidade” 
é mais teórica do que prática. Muitos de nós não têm coragem de pedir pra tirar 
os 10% da conta depois de um jantar com amigos ou em um encontro romântico. A gente paga, 
mas não porque quer — é por constrangimento, pra evitar aquela situação chata.
Essa prática, além de constrangedora, gera certa confusão, principalmente porque, dentro 
das relações trabalhistas, a gorjeta é tratada de maneira diferente. De acordo com a legislação 
brasileira, mais especificamente o artigo 457 da CLT, a gorjeta, mesmo quando espontânea, é 
considerada parte da remuneração do trabalhador, desde que esteja prevista no contrato ou 
na política da empresa. Assim, ela acaba sendo um direito para o trabalhador, mesmo que 
o cliente não tenha obrigação legal de pagá-la. O Brasil ainda apresenta outra peculiaridade: 
a gorjeta pode ser parcialmente retida pelo empregador para o pagamento de encargos 
trabalhistas e previdenciários. “São 20% para o custeio dos encargos, se a empresa estiver 
no regime do Simples Nacional. No caso daquelas enquadradas no regime de tributação do Lucro 
Presumido ou Lucro Real, elas podem reter 33%. Ou seja, além de não ser obrigatória, a gorjeta 
que você deixa ainda pode ser parcialmente usada para cobrir impostos da empresa.
Quando a gente compara com outros países, as diferenças ficam ainda mais claras. 
Nos Estados Unidos, a gorjeta é tratada quase como uma obrigação social e financeira e é 
considerada uma parte fundamental da remuneração dos trabalhadores do setor de serviços.
Quem se recusa a deixar uma gorjeta pode ser alvo de olhares tortos, questionamentos 
sobre o atendimento ou até xingamentos. Lá, é comum dar de 15% a 20% do valor 
da conta, e muitos trabalhadores dependem da gorjeta para compor seu salário.
Já na China e no Japão, a prática é incomum ou até ofensiva, pois o bom serviço já está incluso 
no preço. Na Austrália, não se espera gorjeta, pois os salários são mais altos. E na 
Europa, embora a taxa de serviço muitas vezes já venha na conta, arredondar o valor 
pra cima ainda é um gesto comum de gentileza. No fim das contas, a gorjeta varia muito pelo 
mundo: obrigatória nos EUA, ofensiva na China, e meio confusa no Brasil. Por aqui ficamos 
no meio-termo – não é obrigatória por lei, mas vem ‘sugerida’ na conta e certamente causa 
aquele constrangimento na hora de recusar. Então, por que os brasileiros pagam 
gorjeta, mas não gostam muito disso? Pra você entender melhor 
como funcionam as gorjetas, em países como EUA e Canadá, eu vou explicar:
Você chega em um restaurante, é levado pelo anfitrião até sua mesa e um garçom vem te 
atender. Em muitos restaurantes, inclusive o que eu trabalhei, esse garçom é incentivado a estudar 
o menu e cartas de bebidas. Isso proporciona uma experiência muito mais premium para o cliente.
Você pede recomendações de pratos ou bebidas e ele te descreve algumas opções do menu.
Ele é simpático com você e está verdadeiramente preocupado em te atender bem.
Quando o prato chega, ele espera alguns minutos e vem ver se está tudo bem com a comida 
e se você precisa de mais alguma coisa. Isso é muito bem aceito nos EUA e Canadá, 
mas não tão bem visto em outros países, porque tem gente que simplesmente não gosta 
de ser interrompido quando estão comendo. No fim da noite você até já conversou um 
pouco com o garçom e criou uma conexão, por isso sente que ele se esforçou e que 
merece uma gorjeta pelo bom atendimento. No Brasil, pagamos os 10% não porque queremos 
recompensar o garçom — pagamos porque está lá na conta, embutido como um custo 
extra que parece ser inevitável. Em alguns restaurantes na hora de pagar a 
conta é comum ouvir a pergunta: “incluir os 10% no valor final?” mas nem todos fazem isso.
Alguns brasileiros recusam, e não tem nada de errado nisso, mas quando vão pra EUA ou Canadá 
acabam cedendo às normas culturais desses países. E isso levanta um ponto importante de comparação 
na cultura da gorjeta entre o Brasil e os EUA. Qual a relação entre qualidade de serviço e 
os 10% aqui no Brasil? Praticamente nenhuma. Nos EUA, pelo menos existe uma escala: 
serviço ruim, 10%; serviço ok, 15%; serviço ótimo, 20% ou mais. No Brasil, são 
sempre os mesmos 10%, independentemente da qualidade. O atendimento pode ser péssimo ou 
excepcional — a “sugestão” dos 10% não muda. Então, se a taxa é fixa e automática, que 
incentivo existe para um serviço excepcional? O Brasil vive uma curiosa posição: estamos 
culturalmente entre o modelo americano, onde a gorjeta é quase obrigatória, e o modelo 
asiático, onde é desnecessária ou até ofensiva. Na China e no Japão, a gorjeta é considerada 
ofensiva porque o serviço de excelência já está incluído no preço. Essa mentalidade faz sentido 
para muitos brasileiros: se estou pagando pelo produto e o restaurante paga salários aos 
funcionários, por que pagar uma taxa extra? Por outro lado, somos influenciados pela cultura 
americana, onde dar gorjeta é visto como sinal de sofisticação. Essa contradição 
cria o nosso sistema confuso atual: uma taxa que nem é verdadeiramente 
opcional nem completamente obrigatória. Que não compensa por um atendimento 
excelente nem penaliza quando ele é ruim Eu mesmo, quando trabalhei na cozinha de um 
restaurante no Canadá durante a pandemia, quando o serviço era apenas por entregas, 
recebi uma gorjeta de 100 dólares de um cliente assíduo que queria ajudar o restaurante 
naquele momento difícil. Era um gesto genuíno, não uma obrigação automática. Alguns restaurantes 
lá fora dividem parte das gorjetas com os cozinheiros, reconhecendo que a experiência 
do cliente vai além do serviço de mesa. Mas se você acha que nosso sistema atual de 
10% automáticos já é problemático, o que está acontecendo nos EUA deveria servir de alerta. 
Lá, está ocorrendo o fenômeno da “tipflation”, ou inflação das gorjetas, onde as gorjetas estão 
sendo pedidas em lugares que nunca pediam antes. Hoje, nos EUA, as pessoas são solicitadas 
a dar gorjeta até em balcões de fast-food, quiosques de autoatendimento em aeroportos 
e serviços com pouca ou nenhuma interação humana. Um professor da Universidade de Boston 
relatou: “De repente, eu estava olhando para esta tela e literalmente pressionando uma gorjeta 
de 20% para um burrito. Lembro-me de pensar: ‘Isso é estranho.’ Você nunca esperaria pagar 
uma gorjeta em um restaurante de Fast Food”. Imagina isso no Brasil? Seria como transformar 
os nossos 10% “sugeridos” em 15% ou 20%. No Brasil, a gorjeta é mais comum em restaurantes 
à la carte. Mas seria como se até restaurantes de buffet começassem a cobrar os 10% — mesmo quando 
você se serve sozinho e mal interage com o garçom. Gorjetas lá nos EUA estão sendo quase 
obrigatórias até em balcões de cafeterias, onde você só faz o pedido e senta na mesa 
ou vai embora. E a tecnologia tá tornando ainda mais constrangedor recusar: isso por que o 
atendente gira a maquininha na direção do cliente, mostrando as opções de gorjeta, e espera enquanto 
ele decide, com outros clientes observando. Por outro lado dados recentes mostram que 
a média de gorjetas em restaurantes nos EUA caiu para 19,3% no último trimestre de 
2024, o nível mais baixo em seis anos, sinalizando que pode estar surgindo uma 
resistência a esse excesso de pedidos de gorjeta. É o pior dos mundos: mais 
pressão para dar gorjeta, em mais lugares, com menos relação com o envolvimento 
do garçom ou a qualidade do serviço. O modelo americano é mais centrado na experiência 
do cliente e na relação que ele acaba criando com o garçom naquele curto espaço de tempo. É 
uma recomendação certeira de um bom vinho, um sorriso ou até lembrar do nome 
na segunda vez que o cliente vai. Esse tipo de atendimento, focado na experiência 
do cliente, está cada vez mais presente aqui no Brasil. Mas eu ainda sinto uma falta de preparo em 
muitos locais que cobram caro. Você pergunta pro garçom sobre algo básico do menu e ele não sabe, 
comidas chegam em horas diferentes e levam muito tempo, e até um descaso com pedidos especiais 
no prato. E aí no final tá lá os 10% de praxe. Esses 10% são caros.
Mas se você é bem atendido e tem uma ótima experiência em um restaurante, 
10% é pouco pra premiar o garçom e a equipe. A cultura da gorjeta não está apenas mudando – 
ela tá sendo distorcida. Tanto em países como EUA e Canadá, cobrando em qualquer lugar, quanto aqui 
no Brasil, onde alguns restaurantes cobram os 10% sempre, independente se você foi bem atendido 
ou não, como uma espécie de imposto ou taxa. E você concorda comigo? Você é dos que paga os 10% 
só pra evitar o diálogo ou recusa? Comenta aqui embaixo e me conta o que achou desse vídeo.
Agora, se quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode usá-lo 
pra levar um canal no YouTube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula 
grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code 
que tá na tela antes que essa aula saia do ar. E pra entender como no Rio de Janeiro o crime 
organizado deixou de ser apenas um problema de segurança e virou um modelo de gestão da cidade 
— onde até hospitais e obras públicas funcionam com “autorização” de grupos armados — confere 
esse vídeo que tá aqui na tela. Então aperta nele aí que eu te vejo lá em alguns segundos. Por 
esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.

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