Por que o Fullback está perdendo espaço na Força Aérea Russa?

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Caros amigos, bem-vindos a mais um episódio de hoje no mundo militar. Neste vídeo falaremos sobre o porque o Sucoi Su34 está perdendo cada vez mais espaço na força aérea russa. Tudo começou no início dos anos 80, quando a Força Aérea Soviética começou a buscar um substituto moderno para os seus bombardeiros táticos dos tempos da Guerra Fria, como Su24 Fencer, que apesar de impressionante em aspectos como capacidade de carga, estava ficando perigosamente obsoleta em termos tecnológicos em um contexto de rápidos avanços na força aérea dos Estados Unidos. A aeronave que os soviéticos buscavam deveria voar em qualquer clima, penetrar profundamente no território inimigo, atacar com precisão os seus alvos e, em caso de necessidade, deveria também ser capaz de se defender sozinha. A solução foi aproveitar a plataforma do Caça Su27 Flanker, já famoso pela sua manobrabilidade, alcance e capacidade de carga. O projeto original do Flunker era tão robusto e versátil que serviu de base para diversas aeronaves, como SU30, uma espécie de versão multimissão do SU27 original, o SU33, a versão naval para uso em porta-aviões e até o SU35, visto como caça russo de geração 4+ avançado. E assim foi com base nesse icônico projeto original que nasceu o Su27 IB, evoluindo alguns anos depois para o que conhecemos hoje como fullback. O primeiro voo aconteceu em 1990, no último ano da União Soviética, mas a instabilidade econômica causado pelo colapso soviético paralisou o projeto e por isso foi apenas em 2003 que foram concluídos os testes com a produção em escala começando finalmente em 2008. Mas a entrada oficial em serviço só ocorreu em 2014, quase 25 anos após o início do programa. Toda essa defasagem temporal de 1/4 de século fez com que a aeronave nascesse preparada para uma guerra que nunca aconteceu, contra as defesas da OTAN dos anos 80, obrigando a força aérea russa a usá-la em conflitos bem diferentes e para os quais não foi originalmente pensada. O SU34 pode até lembrar o SU27 à primeira vista, mas traz diferenças notáveis, adotando uma configuração aerodinâmica de três superfícies, com canards para maior sustentação e estabilidade em voos a baixa altitude. Os dutos de ar são fixos, sacrificando o desempenho em alta velocidade para favorecer voos rasantes e prolongados. Uma característica essencial para uma aeronave versátil de ataque ao solo. Em missões que podem envolver ataques ao solo a baixa ou a elevada altitude. O seu trem de pouso é reforçado e permite operar em pistas rudimentares, mas o destaque mesmo está no cockpit. Em vez de assentos em linha, os tripulantes se sentam lado a lado em uma cápsula blindada de titânio com 17 mm de espessura, pensada para resistir a estilhaços de mísseis e a impactos diretos de armas leves. O espaço interno conta até com micro-ondas, sistema de aquecimento de água para café e chá e até um urinol. Tudo para suportar longas missões de bombardeio profundo. O radar principal alojado no icônico nariz achatado que lhe rendeu o apelido de Ornitorino, é otimizado para ataque ao solo e voo a baixa altitude. Um segundo radar apontado para trás, alerta sobre ameaças vindas da retaguarda e conta ainda com o sistema Platã para designação de alvos com laser, mas que carece de imagem térmica, limitando muito seu emprego em condições noturnas ou de baixa visibilidade. O seu sistema de guerra eletrônico, Kibini, tenta compensar essas lacunas criando alvos falsos e interferindo nos radares inimigos. Mas a sua eficácia tem se mostrado discutível diante de defesas modernas. E já que estamos falando em externos, o SU34 é capaz de transportar até 14 toneladas de armamentos, colocando-o na categoria de bombardeiro tático, transportando bombas que variam de modelos simples, como as FAB 250 e Fabi 1500, até bombas guiadas da série K, com orientação por laser, TV ou satélite. O seu canhão de 30 mm é o mesmo da família Flunker. Entre os mísseis, o Fullback carrega desde os do antirradiação KH31P projetados para atingir emissores de radar, passando por mísseis antinavio como KH35U e KH59M, até missa estáticos como KH29 e o KH38M. Para autodefesa aérea estão disponíveis os confiáveis R73, R27 e o moderno R77. Com todo esse arsenal, o Fub completava todos os requisitos exigidos originalmente, capacitando-se para atacar alvos em terra e se proteger sozinho em caso de necessidade. No entanto, havia um detalhe crítico. A escassez de componentes ocidentais para munições guiadas de precisão forçou os russos a improvisarem com a solução sendo o kit UMPK, que transforma bombas burras em planadoras guiadas. A estreia do SU34 no campo de batalha ocorreu em 2015 durante a intervenção russa na guerra da Síria. Operando em um ambiente com baixa ameaça aérea, ele se destacou em ataques cirúrgicos com bombas guiadas e de queda livre. Uma atuação que reforçou a sua imagem como símbolo da força aérea russa moderna e que rendeu até contratos de exportação como para a Argélia. Mas o cenário mudou drasticamente na guerra da Ucrânia. Lá, o SU34 se viu diante de sistemas de defesa ocidentais muito modernos, obrigando os pilotos a voarem muito baixo para atingir alvos com bombas não guiadas, o que os tornou alvos fáceis para mísseis de mampeds, guiados pelo calor e canhões antiaéreos móveis. Mesmo voando alto, tornavam-se vulneráveis a mísseis terra ar, com a suposta invulnerabilidade do sistema kibini caindo por terra. As perdas se acumularam não apenas em combate aéreo, mas também por sabotagens e drones no solo. E segundo diversas fontes, cerca de 41 caças SU34 foram perdidos ou gravemente danificados entre fevereiro de 2022 e julho de 2025. A adaptação tática foi recorrer aos kits UMPK, lançando bombas planadoras de muito longe. Uma adaptação que reduz o SU34 a um mero lançador de bombas de longo alcance, bem distante do papel originalmente projetado para ele. Isso significa que essa aeronave está sendo usada para um tipo de missão que outras aeronaves, de operação muito mais simples e barata poderiam realizar, o que de fato vem levando a uma diminuição gradual no uso do SU34, especificamente na Ucrânia. Apesar da Rússia ter anunciado novos lotes do CA para breve e das linhas de produção ainda estarem ativas, a experiência acumulada na Ucrânia revelou que outras aeronaves mais baratas e de operação mais simples são capazes de realizar o mesmo tipo de missão. O SU34 deve continuar sendo um pilar da aviação russa por ainda muitos anos, mas já não é o blindado com asas idealizado para penetrar defesas nos anos 80, tornando-se um simples lançador de bombas de longo alcance, adaptado às duras lições do conflito na Ucrânia.

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