Por que o Paraguai tem a Pior Geografia da América do Sul?

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Esse é o Paraguai, o país que com certeza tem a pior geografia do nosso continente. E o primeiro motivo é o mais simples de todos. O país é uma grande planície. O ponto mais alto do país não chega nem aos 1000 m. Isso é tão pouco se comparado aos seus vizinhos que t cordilheiras muito maiores. O bioma do país é composto em maioria pelo Chaco paraguaio. É uma área semiárida com vegetação de savana, florestas secas e áreas pantanosas. Outra parte é bioma de sererrado, também seco, o pantanal que é extremamente úmido e alagadiço, e o restante são planíes de mata atlântica. Ou seja, o Paraguai inteiro é uma planície. E isso prejudicou e muito o Paraguai durante a sua história. Em 1932, os bolivianos invadiram a região do Chaco boreal ao norte do Paraguai. A Bolívia, sem saída para o mar desde a guerra do Pacífico, buscava um acesso fluvial ao Atlântico via o rio Paraguai. Acreditava-se que havia petróleo no Chaco Boreal. O Paraguai já ocupava o território com pequenos fortes e comunidades indígenas, mas pelas características de planície do terreno, invadiram o Paraguai facilmente. A guerra durou anos e no final, pela facilidade de locomoção sobre as planícies, no fim, a Bolívia perdeu territórios com os quais o Paraguai ficou. Mas não adiantou muito. Hoje o Chaco ocupa cerca de 60% do território paraguaio, mas de fato, a quantidade de pessoas que vivem na região é pequena em relação ao tamanho do território. Dos 7 milhões de habitantes do Paraguai, apenas 400.000 vivem no Chaco. Isso quer dizer que este país está parcialmente vazio. O Chaco paraguaio é evitado por grande parte da população devido ao clima extremo com calor intenso e longos períodos de seca. A região tem vegetação hostil, pouca água disponível e solo de baixa fertilidade. Para você ter uma ideia do isolamento, Filadélphia, a maior cidade do Chaco está a 400 km da capital Assunção, que já é isolada do restante da América do Sul. Da principal cidade mais perto da Argentina está a 500 km. da capital da Bolívia, Santa Cruz de Lacierra, quase 600 km. Por isso que se olharmos a região do Chaco por satélites, parece uma grande fazenda, justamente porque há muita terra disponível para poucas pessoas. E uma prova disso é a baixa quantidade de cidades no Paraguai. Os três vizinhos do país têm uma quantidade de cidades maior do que o Paraguai. No Brasil são 5570 cidades. Argentina 2.200, Bolívia 340 e o Paraguai tem apenas 261. Ou seja, o Paraguai de fato tem um grave problema geográfico e isso se estendeu durante toda a sua história. Além do norte ser uma porta de entrada para invasões estrangeiras, o oeste e leste também eram. Em 1864, o Paraguai declarou guerra ao Brasil. Posteriormente, em 1865, o Paraguai também entrou em guerra contra a Argentina ao tentar atravessar seu território para atacar o Brasil pelo Sul. E com isso, tanto o Brasil quanto a Argentina aproveitaram a vantagem geográfica de ser um território plano para invadir rapidamente o Paraguai. As tropas brasileiras invadiram o Paraguai pelo atual estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, com o objetivo de chegada em Assunção, enquanto a maioria dos argentinos invadiram o país pelo Oeste, principalmente através da província de Corrientes. Foi justamente nessa guerra que o Brasil bloqueou as saídas que o Paraguai tinha para o mar na região da Bacia da Prata. Dessa maneira, o Paraguai não conseguia exportar para o resto do mundo e, portanto, perdeu grande força econômica. E este é outro problema do Paraguai, ser um país sem saída direta para o mar. Hoje, a Hidrova Paraguai e Paraná é a via principal de exportação, conectando os rios Paraguai e Paraná até o estuário do rio da Prata no Atlântico. Aproximadamente 90% da frota fluvial usada na hidrovia navega sob bandeira paraguaia e durante a guerra, o Paraguai perdeu esse acesso e essa é uma das maiores fraquezas do país. Depender de um rio para exportar bilhões de dólares deixa o Paraguai muito frágil perante os seus vizinhos e tem que pensar muito mais antes de fazer qualquer movimento geopolítico. Esse é o mapa de todos os países sem litoral do mundo. Perceba que nenhum é uma potência global. Isso porque grandes potências, como as 10 maiores economias do mundo, precisam ter autoridade sobre o oceano ao seu redor para chegar nesse nível. E isso não pode acontecer no Paraguai. Para além disso, países sem saída para o mar na média são ligeiramente mais pobres. Enquanto o PIB per capta de países com saída direta para o mar é de 10.251, o sem saída tem 7.368. Ironicamente, o Paraguai enfrenta outro problema geográfico único, ser um dos maiores produtores de energia hidroelétrica do mundo, mas não conseguir usar essa vantagem de forma independente. O país possui duas das maiores usinas hidrelétricas da América do Sul. Itapu, construída em parceria com o Brasil no rio Paraná e Iciretá, desenvolvida com a Argentina no mesmo rio. Para você ter uma ideia da capacidade, Itaipu sozinha produz energia suficiente para abastecer todo o Paraguai 90 vezes. Mas essa aparente vantagem se transforma em fraqueza devido à geografia do país. Como o Paraguai é uma planície sem quedas d’água significativas em seu território, essas usinas só puderam ser construídas nas fronteiras, em rios compartilhados. Isso significa que o país depende completamente de seus vizinhos para transmitir e comercializar seu principal recurso. O Brasil compra energia paraguaia a preços muito abaixo do mercado internacional, aproveitando-se da dependência geográfica paraguaia. A Argentina faz o mesmo com IAiretá. O Paraguai não pode vender sua energia para outros países porque não tem infraestrutura própria e, portanto, depende de contratos firmados há décadas atrás. A geografia plana, que facilita invasões, também cria outros problemas para o desenvolvimento paraguaio. O país possui apenas duas rodovias principais que o conectam efetivamente aos vizinhos e ambas enfrentam problemas geográficos constantes. A ruta nove, principal conexão com Brasil e Argentina, atravessa áreas de planície que se transformam em pântanos durante a época das chuvas. Trechos inteiros ficam intransitáveis por semanas, isolando completamente o país, interrompendo o comércio exterior. Como não há rotas alternativas devido à geografia uniforme, qualquer problema nessa estrada afeta toda a economia nacional. A Tranxaco, única estrada que conecta Assunção ao Chaco, enfrenta problemas opostos, mas igualmente severos. Durante a estação seca, tempestades de areia tornam a visibilidade nula. Na época das chuvas, o solo ardiloso se torna uma massa intransitável. Para você ter uma ideia, caminões frequentemente ficam atolados por dias, criando filas quilométricas no meio do nada. Essa dependência de poucas vias de transporte aumenta drasticamente os custos logísticos paraguaios, enquanto países andinos podem explorar turismo de montanha e mineração e países costeiros desenvolvem turismo de praia e portos. O Paraguai não oferece atrações geográficas significativas. O país recebe menos de 2 milhões de turistas por ano, comparado aos 6 milhões que visitam o Uruguai, país de tamanho similar, mas com litoral atlântico. Para você ter uma ideia, 40% da economia paraguaia ainda depende de agropecuária, um dos percentuais mais altos da América do Sul. Isso acontece porque a geografia plana só permite esse tipo de atividade em larga escala. Outros países sem litoral conseguiram superar essa desvantagem geográfica, mas o Paraguai enfrenta a combinação perfeita de problemas. A Suíça, por exemplo, também não tem saída para o mar, mas suas montanhas atraem milhões de turistas e oferecem recursos hídricos para energia. O país desenvolveu uma economia baseada em serviços financeiros e manufatura de alta tecnologia. O Paraguai, em contraste, não possui montanhas para turismo, não tem quedas d’água próprias para energia independente e sua planície não oferece recursos minerais valiosos. é geograficamente limitado em todas as direções. Mesmo comparado ao Uruguai, país de tamanho semelhante na região, a diferença é gritante. O Uruguai tem litoral atlântico, o que permitiu desenvolvimento portuário, turismo costeiro e integração comercial independente. Hoje o PIB per capta uruguaio é três vezes maior que o paraguaio. A Bolívia, outro vizinho sem litoral, pelo menos possui a cordilheira dos andes com recursos minerais valiosos, como lítio e gás natural. Suas montanhas, embora criem dificuldades logísticas, oferecem recursos que o Paraguai simplesmente não tem. Dessa forma, a geografia não apenas deu ao Paraguai a pior posição estratégica da América do Sul, mas também limitou permanentemente suas opções de desenvolvimento futuro. O país está condenado a permanecer na sombra de seus vizinhos, refém de uma geografia que oferece apenas planícies vulneráveis e dependência eternal. E esse é o motivo pelo qual o Paraguai tem a pior geografia da América do Sul. M.

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