Por que os Brasileiros Amam Concursos?
0Em 2024, mais de 2 milhões de pessoas se
inscreveram para o Concurso Nacional Unificado, o famoso “Enem dos Concursos”. Isso
não é só um número impressionante – é um reflexo de algo muito mais
profundo sobre nossa sociedade. Já reparou como a gente passou anos tirando sarro
do Paraguai, chamando coisas de “paraguaio” como sinônimo de coisa ruim? Enquanto isso, eles
tavam criando um dos sistemas tributários mais atrativos da América Latina, trazendo
empresas e até brasileiros pra investir lá. A gente seguiu pelo caminho oposto,
alimentando uma cultura onde o grande sonho de muitos jovens brilhantes é passar anos
decorando leis pra conseguir um cargo público, criando todo um ecossistema em torno disso
com uma espécie de indústria do concurso. Então, como o Brasil se tornou o país onde
uma suposta estabilidade vale mais do que inovação? E mais importante: será que o sistema
realmente seleciona os melhores profissionais? Antes de responder isso precisamos
entender como chegamos a esse ponto. Em um país onde 12 milhões de pessoas
disputam concursos públicos anualmente, e seis das dez profissões mais bem
pagas estão no serviço público, não é difícil entender o apelo desta escolha. Os concursos públicos no Brasil sempre dividiram
opiniões. Para alguns, são um caminho legítimo para a estabilidade; para outros, um
sistema que precisa de mudanças urgentes, porque cria um incentivo para ser ineficiente.
Mas, acredite, antes de chegarmos ao modelo atual, o acesso ao serviço público era muito
pior – e muito menos democrático. No Brasil Imperial, os cargos públicos
eram distribuídos por indicação política, sem qualquer critério técnico. A
Constituição de 1824 prometia que qualquer cidadão poderia ocupar um
cargo público com base no mérito, mas na prática o critério principal continuava
sendo quem você conhecia, e não o que você sabia. Foi só na Era Vargas, nos anos
30, que surgiu uma tentativa real de profissionalizar o funcionalismo. O
Departamento Administrativo do Serviço Público, DASP, ajudou a reduzir o nepotismo, que favorece
parentes ou amigos próximos nos cargos públicos, e criou regras técnicas para concursos. Por mais que seja melhor, comparado a
antigamente, não quer dizer que seja muito mais justo. Os problemas dos concursos
não foram solucionados com as novas regras. O modelo que deveria garantir meritocracia
e justiça social acabou se tornando uma máquina de exclusão. Segundo o professor
Fernando Fontainha, da FGV, os concursos públicos não escolhem os mais qualificados para
o serviço público, mas sim aqueles que podem se dedicar exclusivamente aos estudos. “O concurso
público hoje é uma máquina de injustiça social, e não de inclusão”, afirma ele. Quem precisa
trabalhar para se sustentar acaba competindo em desvantagem com quem pode pagar por
cursinhos e dedicar anos à preparação. Além disso, o formato das
provas é altamente questionável. A seleção dos candidatos é baseada em provas
de múltipla escolha que testam memorização e técnicas de cursinho, não habilidades reais
para a função. “As questões de múltipla escolha não avaliam nem competências acadêmicas, nem
profissionais. Esse é o problema. Todo mundo sabe como se treina para essas provas em
cursinhos. Você pega os truques e técnicas para escapar das pegadinhas.”, critica Fontainha.
Outro ponto pouco debatido é o mercado bilionário que se formou em torno dos concursos. Entre
taxas de inscrição e cursinhos preparatórios, milhares de candidatos fazem provas
sucessivas sem nunca serem aprovados, movimentando um sistema que beneficia mais a
“indústria do concurso” do que o serviço público. E dentro desse sistema surgiu até
uma nova categoria de candidato: o concurseiro profissional.
“Para essa máquina poder funcionar, é preciso haver um contingente enorme de
pessoas que não param de fazer provas, uma atrás da outra. A ideia de vocação, de desejo de
um cargo desaparece diante da ideia de que se vai sair fazendo vários concursos por aí, até passar
em algum. Isso é ser um concurseiro profissional, faz parte da sua ideologia se inscrever para todos
os cargos que puder. Ele não sabe se gostaria de trabalhar com previdência ou ser policial. Mesmo
que não queira fazer aquilo da vida, vai pelo salário, pela estabilidade e por outras vantagens
que a vida de funcionário público oferece” aponta Fontainha, mostrando como o sistema incentiva
a busca por estabilidade em vez de vocação. Então, qual é o custo disso para a sociedade? Todo esse sistema gera servidores desmotivados,
um setor público lento e sem inovação, além de desperdiçar talentos que poderiam estar
empreendendo e criando novas soluções. No fim, quem paga essa conta é o contribuinte, bancando
uma máquina inchada enquanto os serviços públicos seguem ineficientes e ultrapassados.
Mas pra mostrar o outro lado, vamos conhecer a história de Fábio Teles, um
ex-professor de ciências da Baixada Fluminense. Eu li toda a história dele de quando
passou para Auditor-fiscal, e acredite, é uma belíssima história de superação
e muita dedicação. Eu não conheço ele, mas só pela história que contou, é muito
provável que ele seja um excelente profissional. Após ser demitido de uma escola particular,
Fábio tomou uma decisão que mudaria sua vida: “AQUELA VONTADE DE ESTUDAR FOI INTENSIFICADA
PELA DEMISSÃO. Estava decidido: o horário da manhã seria para estudar para concurso público!”
Ele investiu o dinheiro da rescisão em cursos, acordava às 5h da manhã para estudar
antes que os três filhos acordassem, e trabalhava em dois empregos para sustentar
a família enquanto perseguia o sonho da aprovação. “Me apertava de todos os lados
para não me enrolar nas dívidas”, conta ele. Na frente da mesa de estudos, Fábio colocou um
mural com a frase: “PROJETO FISCAL – APROVAÇÃO ATÉ 2010!”. Ele sabia que, na sua realidade,
não conseguiria vencer todas as matérias com menos de 3 anos de estudo. Depois de muita
disciplina e sacrifícios, Fábio foi aprovado e, no momento que ele deixou o relato dele
lá, ainda trabalhava como Auditor-Fiscal. Fábio é um exemplo do que todo brasileiro
deveria ser. Alguém focado, que quer mudar de vida e com um objetivo em mente.
Um dos motivos de Fábio e de muitos outros concurseiros é a diferença de
remuneração. Em média, os salários do setor público são muito superiores aos
pagos no setor privado. Segundo a PNAD, o setor público agregado federal e subnacional
paga, em média, salários aproximadamente 70% superiores – R$ 44.000 por ano – aos pagos
pelo setor privado formal – R$ 26.000 por ano-, e quase três vezes mais do que recebem
os trabalhadores informais – R$ 16.000 por ano. Se você perguntar pra maioria dos concurseiros,
o que eles querem é estabilidade. E tudo bem com isso, mas a questão é o que isso representa.
Uma analogia simples e grosseira que eu gosto de pensar é: ter um cargo público estável é como
dirigir numa estrada sem limites de velocidade, em uma faixa exclusiva, no piloto automático, a 80
km/h. O caminho é tranquilo e sem grandes sustos. Já quem escolhe empreender está na pista comum,
dividindo o espaço com outros carros e sem piloto automático, o carro pode estar a 20 km/h ou a
160 km/h. A diferença é que enquanto um segue sem preocupação, o outro precisa se preocupar
com os carros a sua volta e evitar acidentes. Ambos os carros estão indo para o mesmo lugar.
O concursado sabe a velocidade e o trajeto, mas isso não significa que ele não terá desafios
pelo caminho e o empreendedor não sabe exatamente quando ele chega lá. Pode ser na metade do
tempo do concursado, ou ele pode nem chegar. Uma grande diferença de quem empreende é
os constantes desafios, alguns podem ser frustrantes, outros podem gerar adrenalina
e empolgação, como expandir a empresa, criar uma nova linha de receita, investir em bens.
Já o trabalho no setor público é o oposto, podendo ser extremamente monótono.
Cada um escolhe o caminho que faz mais sentido para si: um busca
previsibilidade, o outro liberdade. Então escute a história de quem fez o caminho
contrário, da previsibilidade para a liberdade. Renato Saraiva passou em concurso para oficial
de justiça do trabalho e começou a dar aulas em cursos preparatórios. Mas algo o incomodava:
“mesmo depois de tudo eu sentia que faltava algo”, conta ele. Insatisfeito com a forma
como as escolas lidavam com educação, decidiu arriscar tudo em um sonho empreendedor.
“Contra tudo e contra todos, eu juntei tudo e coloquei no curso. Fui procurar meu
sonho, foi difícil pra caramba”. Hoje, sua empresa CERS é uma das maiores do
segmento de educação para concursos. Ou seja, ironicamente, um grande empreendedor
atua justamente no setor de… preparação para concursos! É quase como se essa cultura
já estivesse tão arraigada que até quem sair pra empreender, ainda se mantém no meio.
Mesmo assim Renato não deixa de ter a mente empreendedora. Ele viu uma oportunidade
no mercado, criou a empresa e hoje está do outro lado, empregando pessoas e colhendo os
frutos, mas ao mesmo tempo, correndo riscos. E assim como ele,existem muitos outros exemplos
de grandes empreendedores no Brasil que não necessariamente estão no segmento de
concursos e que estão muito melhores hoje do que se estivessem concursados..
Mas uma coisa é fato: o governo federal gasta anualmente mais de R$ 300 bilhões com
folha de pagamento – quantia superior ao investido em inovação, infraestrutura e apoio ao
empreendedorismo somados, isso sem considerar os penduricalhos e auxílio isso e auxílio aquilo.
E quem nunca passou por um problema de empurra-empurra no setor público? Você quer
resolver um problema, mas os agentes ficam empurrando a culpa e a resolução para outros
setores. E você fica no meio que nem um pato. Então, se o problema não são os concursos, mas
sim os incentivos errados, como a gente pode consertar isso? Dá pra manter a estabilidade
sem travar a inovação e o crescimento do país? Os concursos públicos representam um
grande avanço em relação ao sistema anterior de indicações políticas.
Eles trouxeram maior transparência e uma chance mais igualitária
de acesso aos cargos públicos. O problema não são os concursos em si, mas os
incentivos distorcidos que criamos ao redor deles. Quando falamos do tamanho do Estado, os
números contam uma história interessante. O Brasil tem hoje 12% da sua força de trabalho
no setor público. Isso nos coloca em uma posição intermediária no cenário global: menos que países
como França (22%), Suécia (29%) e Dinamarca (28%), mas mais que economias com administrações
mais enxutas como Japão (6%), Alemanha (10%) e Coreia do Sul (7,6%).
A questão é que pagamos muito, principalmente para algumas categorias, e
nem sempre temos a eficiência proporcional. E não precisamos olhar só para
países ricos como exemplo. Veja o caso da Estônia, um país que saiu
do comunismo soviético e transformou sua administração pública em uma das mais digitais e
eficientes do mundo. Lá, 99% dos serviços públicos são acessados online, reduzindo drasticamente a
necessidade de uma estrutura burocrática extensa. E se pudéssemos combinar o melhor dos dois
mundos? Manter a meritocracia dos concursos, mas com incentivos melhores alinhados
aos resultados e à eficiência? Criar mecanismos que incentivem o desempenho
e recompensem servidores mais eficientes, em vez de apenas garantir estabilidade automática. Um dos pontos seria uma revisão dos critérios
de progressão na carreira: “[…] a gestão do desempenho é uma das principais chaves para
melhorar a entrega de serviços públicos aos cidadãos que mais precisam.”.
Também podemos olhar para o resto do mundo e ver o que funcionou bem
por lá e tentar replicar por aqui. O Reino Unido enfrentava problemas com tecnologia
no setor público, incluindo projetos de TI mal-sucedidos e desperdício de recursos.
Para resolver isso, criou o GDS, Government Digital Service, uma agência que modernizou a
gestão digital do governo, tornando os serviços mais eficientes e focados no cidadão.
“A digitalização de serviços públicos gerou economia relevante de recursos,
£3,56 bilhões em todo o governo. O GDS também estimulou a transparência e a
prestação de contas ao disponibilizar estatísticas e informações do governo de modo
acessível e compreensível para os cidadãos.”. “A implementação de tecnologias digitais na
administração pública tem o potencial de promover mudanças em diferentes aspectos do setor público
e, a automação de processos, a disponibilização de serviços online, a coleta e análise de dados em
larga escala, entre outros avanços tecnológicos, podem contribuir para a modernização e
aprimoramento dos serviços públicos.”. E claro, é necessário também melhorar o
processo de seleção, aprimorando o sistema dos concursos públicos, por que fica evidente que não
estamos falando apenas de um método de seleção, mas de um modelo cultural que molda nossas
aspirações e nosso potencial como país. O Brasil dos concursos é também o Brasil da
baixa inovação e da burocracia sufocante. Isso não significa que não precisamos de servidores
públicos qualificados – eles são essenciais. O mundo está mudando rápido com tecnologia
e inovação, mas o Brasil continua apostando tudo na estabilidade, enquanto outros países
crescem criando novas empresas e oportunidades. A gente desperdiça talento em um sistema que
valoriza mais a memorização do que a inovação. Já que o Brasil nunca vai ser o país
do futuro, ele também não precisa ser só o país dos concursos. Pode ser o país das
ideias, das oportunidades e do crescimento. E você o que acha desse assunto? É
concursado ou já fez concurso público? Deixa aqui nos comentários que eu quero saber.
Agora, se quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode usá-lo
pra levar um canal no youtube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula
grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code
que tá na tela antes que essa aula saia do ar. E pra entender como aqui no Brasil nós ainda
temos outra forma bem arcaica de serviço, chamado cartórios, e como eles
são basicamente uma máfia, confere esse vídeo aqui que tá na tela.
Então aperta nele aí que eu te vejo lá em alguns segundos. Por esse vídeo
é isso, um grande abraço e até mais.