Por que um Carro te deixa POBRE?!
0Em 2021, eu fiz esse vídeo explicando
por que carro não é investimento. Na época eu usei a propaganda da Fiat,
onde o Pedro Bial falava isso aqui O meu vídeo é uma resposta de 11min pra Fiat
explicando que chamar carro de investimento é tirar uma onda com a cara do consumidor.
Não só o valor dos carros aqui no Brasil é um absurdo, mas manter ele é ainda pior e
muita gente não se dá conta disso até hoje. E o pior é que desde então, muita coisa
mudou no mercado automotivo — e para pior. Se você achava que os preços já
estavam absurdos antes, em 2025, o carro zero mais barato do Brasil custa mais
de R$ 70 mil, o preço médio de um veículo novo já ultrapassou os R$ 150 mil, e manter
um “popular” pode facilmente comprometer mais de R$ 1.000 por mês do seu orçamento.
Mas a pergunta que fica é: como foi que a situação ficou ainda pior? E por que mesmo assim
nós somos obrigados a ter um carro na garagem? Seja bem-vindo a 2025, onde a expressão “carro
popular” já não existe mais no dicionário brasileiro. Segundo dados da AutoEsporte de março
deste ano, o veículo novo mais barato do mercado é o Citroën C3, com preço inicial de R$ 70.590.
Logo depois vêm o Fiat Mobi a R$ 74.990 e o Renault Kwid por R$ 76.090. Estamos
falando de carros compactos, básicos, com motorização 1.0 e praticamente sem
itens de conforto — o verdadeiro “pelado”. Para contextualizar o absurdo: em 2020, um Fiat
Mobi Like custava R$ 41.290. Em apenas cinco anos, o preço quase dobrou, enquanto o poder de compra
do brasileiro não acompanhou esse crescimento. Se o valor do carro mais barato já assusta, o
preço médio dos veículos novos vendidos no Brasil é ainda mais alarmante. Segundo levantamento
apresentado no Seminário AutoData 2024, os brasileiros pagaram R$152,5 mil em
média para comprar um carro novo em 2024. Em 2023, essa média era de R$140,6 mil. Ou
seja, em apenas um ano, os preços subiram mais 8,5%. Esse aumento vem sendo observado desde
2017, mas explodiu em 2021, durante a pandemia, com alta de quase 30% em relação ao ano anterior.
E isso considerando que você vai pagar à vista. Se for financiar, aí a coisa complica. A taxa
média de juros para financiamento de carros chegou a 29,5% ao ano, “o momento de maior
taxa de juros para o consumidor brasileiro”. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come. Se você tem grana pra comprar à vista, vai pagar o carro mais caro da
história. E se pensar em financiar, os juros também são os mais altos já registrados. A taxa Selic — que influencia diretamente os juros
— subiu para 14,75% em maio de 2025, encarecendo ainda mais qualquer tipo de crédito automotivo.
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Quando ela sobe, todas as outras
taxas de juros também tendem a subir — inclusive as cobradas pelos bancos em financiamentos
de carros. Isso acontece porque o dinheiro fica mais “caro” de se emprestar, então os bancos
aumentam os juros para compensar esse custo maior. Na prática, quando a Selic está alta, financiar
um carro fica mais difícil e muito mais caro. As parcelas aumentam, o valor total pago no fim
do financiamento dispara e muita gente acaba desistindo da compra, as que não desistem ficam
presas em contratos com juros pesados ou então aumentando o tempo do financiamento, o que
acaba aumentando ainda mais o valor final. Mas comprar um carro e pagar caro por ele
é só o começo dos problemas, porque manter ele também ficou mais caro. Bem mais caro.
Comprar um carro no Brasil já é um desafio. Mas manter ele é a parte que muita
gente esquece de calcular. E o Brasil ainda tem suas peculiaridades bizarras que
aumentam ainda mais o custo dos automóveis. Vamos fazer uma análise prática do meu perfil
com o Fiat Mobi Like 1.0 2025, que segundo o site da Fiat custa R$ 79.990. Vou considerar ficar
com ele por 5 anos e rodar 10 mil km por ano. Primeiro item: o seguro. Cotei para o meu perfil —
homem casado, 35 anos, residente de Novo Hamburgo, com garagem e sem uso profissional e para
faculdade — e o valor ficou em R$ 2.405,88 por ano. Se você for mais jovem ou morar em áreas
com maior índice de roubo, vai pagar ainda mais. Em Salvador, por exemplo, o seguro
do Chevrolet Onix LT 1.0 pode ultrapassar os R$ 3.900 em bairros como a Pituba,
enquanto na Vila Laura a média fica em R$ 3.300. Segundo Josimar Antunes, presidente do
Sindicato dos Corretores de Seguros da Bahia, o preço do seguro depende de vários
fatores além do modelo: “localização do proprietário e índice de criminalidade
na área são cruciais para definir o preço”. Mas o fator principal sempre vai ser o
valor do carro. Se o carro tá custando mais, o seguro vai precisar custar mais, já que agora
ele tá assegurando um automóvel de maior valor. O carro pode ser o mesmo de 2020, mas se
ele precisar te dar um novo, peças novas ou manutenção em 2024, vai custar mais pra ele,
logo, vai custar mais pra você ter o seguro. O carro popular realmente não existe mais.
Nem no preço, nem no seguro, nem em nada. Segundo custo: o IPVA. No Rio Grande do Sul,
a alíquota é de 3% sobre o valor do carro. Para um Mobi avaliado em R$ 79.990, isso significa
R$ 2.399 no primeiro ano. Ao longo dos 5 anos, considerando a desvalorização, eu vou
pagar aproximadamente R$ 8.300 de IPVA. Se esse mesmo modelo de Mobi ainda custasse hoje
os R$ 41.290 que era em 2020, eu pagaria apenas R$4.593 de IPVA em 5 anos. Ainda caro pra um
imposto, mas bem menos que os R$ 8.300 atuais. Terceiro: manutenção. Seguindo o plano
de revisões da Fiat, o total das revisões programadas ao longo de 5 anos fica em R$ 3.936.
Isso sem contar chamadas extras para mecânica, que são praticamente inevitáveis, e
assumindo que os preços não aumentarão até 2030, o que é improvável.
Quarto, e talvez o mais doloroso: combustível. Com a gasolina a R$ 6,04 o litro
e um tanque de 47 litros, rodar 10.000 km por ano com o Fiat Mobi vai custar aproximadamente
R$ 4.239 anuais. Isso considerando que o preço da gasolina não aumentará, o que aqui no Brasil
é quase impossível, e considerando uma média de consumo de 14,25 km/l entre cidade e estrada.
E eu vou deixar de fora itens como pedágio, estacionamento, lavagem, arranhões,
batidas e multas por que são variáveis difíceis de colocar no cálculo. Mas elas
existem e vão impactar no cálculo final. E ainda tem a desvalorização. Assim que sai
da concessionária, o carro já vale menos. A cada ano, perde de 10% a 20% do seu
valor de revenda, dependendo do modelo, quilometragem e estado de conservação. Mas nesse
caso não se trata especificamente de um custo, então vamos deixar de lado pra esse cálculo.
Pro ano de 2026, o primeiro ano completo de uso, temos os seguintes valores:
Seguro: R$ 2.405,88; IPVA: R$ 2.037,45, já contando
15% de desvalorização do carro; Segunda revisão: R$ 739,00, vou considerar a
revisão de 20 mil km que provavelmente vai se dar ao final do ano de 2026;
Combustível: R$ 4.239,00. Total anual: R$ 9.421,33, ou R$ 785,11 por mês.
Num. Fiat. Mobi. Lembrando que esse é apenas o custo para
manter o carro, nada desse valor é custo pra comprar ele ou parcelas de financiamento.
Agora, se você quer um carro que caibam mais de 2 malas no porta-malas, de um
segmento mais alto, ou de marca premium, esse valor pode facilmente dobrar.
Ter carro no Brasil é a mesma coisa que ter um ralo de dinheiro.
E foi por isso que eu fiz o vídeo de 2021, respondendo o Pedro Bial e a Fiat.
Eu me ofendi com aquela propaganda. O problema é que eles usaram essa frase
“..a marca com maior valor de revenda”. Talvez o argumento da Fiat é que todo
o carro desvaloriza, e que seria bom escolher um que não desvalorize tanto, mas
usar a palavra “investir” é um problema. Mesmo parado na garagem o carro gera despesa
e inevitavelmente vai ser desvalorizado. Então como algo que só gera despesa
pode ser chamado de investimento? Investimento é algo que você compra esperando
que gere renda ou aumente de valor ao longo do tempo. Imóveis bem localizados, ações de
boas empresas, títulos do governo — todos têm potencial de trazer retorno financeiro.
Um carro, geralmente, não se encaixa nessa definição. Se você trabalha com o carro, ele pode
até gerar renda — mas isso não transforma ele automaticamente em investimento. É como qualquer
equipamento de trabalho: precisa ser mantido, substituído e quase nunca se valoriza com o tempo.
Alguns carros de luxo ou de coleção se valorizam com o tempo — mas isso é um mercado à
parte, quase como arte. E definitivamente não é o caso do Mobi Trek 1.0.
Empresas de aluguel de carro também conseguem lucrar até na revenda
dos carros, mas o assunto é tão longo que eu fiz um vídeo inteiro só sobre isso.
E teve gente que vendeu carro usado por mais do que pagou, durante a pandemia. Mas isso foi
exceção, não regra. Foi um reflexo da escassez. Muita gente comentou no vídeo de 2021 dizendo
que carro é um “investimento” em conforto, em liberdade, em qualidade de vida. E eu entendo
esse argumento — ninguém gosta de depender de transporte público precário, ficar horas no
trânsito de ônibus lotado ou correr risco andando a pé à noite, fora a conveniência de ter
um carro pra viagens ou até ir ao supermercado. Trabalhar como Uber pode até parecer uma forma
de investimento, afinal o carro gera renda, mas com tantos custos envolvidos o motorista já
começa o ano tendo que correr atrás do prejuízo. E isso não muda o fato: do ponto de
vista financeiro e pra maioria de nós, carro não é investimento. Ele não valoriza,
não gera renda e ainda exige um fluxo constante de dinheiro pra se manter rodando.
O problema é que, em muitas cidades brasileiras, o transporte público é precário, tornando o carro
não uma escolha, mas uma necessidade. Segundo o Serasa, o gasto com transporte, que é de 63%, é
a segunda maior despesa das famílias brasileiras, ficando atrás apenas da alimentação, com 67%.
É a armadilha perfeita: você paga caro por algo que perde valor, tem altos custos
de manutenção, mas é difícil abrir mão devido ao transporte público precário, falta de
segurança e tantos outros problemas do Brasil. A ideia de que carro é sinônimo de liberdade
ainda permanece forte no Brasil, mas na prática, essa liberdade tem um preço cada vez
mais alto. Em um cenário onde o carro zero mais barato custa mais de R$ 70 mil e
manter ele chega a mais de R$ 700 por mês, é preciso entender o que tá errado no país.
Um carro nunca será um investimento no sentido financeiro — ele é um bem de consumo que deprecia
e gera despesas. Mas para muitos brasileiros, inclusive pra mim, ainda é uma necessidade devido
à falta de alternativas viáveis de mobilidade. Liberdade financeira ou só “liberdade”, não
é possuir um veículo, mas ter escolhas. E no Brasil a gente tá quase sempre com as mãos atadas.
E você concorda comigo? Depois de tudo isso, ainda acha que dá pra chamar carro de investimento?
Comenta aqui embaixo o que você pensa sobre isso e me diz também o que achou desse vídeo.
Agora, se quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode
usá-lo pra levar um canal no YouTube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula
grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code
que tá na tela antes que essa aula saia do ar. E se você acha a gasolina cara, não sabe da
metade. Tem vezes que ela vem com golpes na bomba, gasolina adulterada e até serviços cobrados
sem você pedir. Pra entender como essa fraude virou rotina no país, confere esse vídeo
aqui que tá na tela. Clica nele aí que eu te vejo lá em alguns segundos. Por esse
vídeo é isso, um grande abraço e até mais.