Por que você não conseguiria sobreviver na Era Ediacarana?
0Imagine só, você entra numa máquina do tempo e de repente chega um período que vai de 635 milhões até 538,8 milhões de anos atrás. Mas por que entre todas as eras possíveis você escolheu justamente essa? A razão é bem simples. Você queria caçar ou pescar numa época em que ninguém mais pensaria em ir. A misteriosa era Edia Acarana. Isso mesmo. É para postar no Insta sem passar vergonha quando seus amigos virem. Olá, pessoal. Ao sair da máquina do tempo, você logo vai perceber que cometeu um baita erro ao escolher o momento e o lugar para tirar férias. Não tem peixe, nem aves grandes, nem animais imponentes por aqui. Na verdade, não só não existem bichos grandes, como também não há absolutamente nenhum sinal de vida animal na terra firme. Nenhum mesmo. E para piorar, o clima é bem desagradável. Tá frio para valer. Olá, pessoal. Sejam todos bem-vindos ao nosso canal Pipa. Eu sou o Deluca e isso significa que a gente vai aquecer esse clima gelado a partir de agora com informação quente. Afinal, que tipo de criaturas e coisas estranhas será que a gente encontra nessa tal era ediacarana? Vamos começar o nosso vídeo de hoje. [Música] A vida nos mares de Ediacara. Vamos tentar uma pescaria de arremesso nas praias de Edia. Nenhum sinal de peixe, nenhuma fisgada. Vamos trocar de vara, quem sabe dá sorte. Esperamos. E como era de se esperar? Nada. Mesmo com uma isca espetacular, uma minhoca suculenta e bem gordinha no anzol, tirei direto no meu pote especial, recheado com minhoquinhas favoritas dos peixes, que preparei com todo carinho só para esse fim de semana. A essa altura, você deve estar se perguntando: “O que será que está acontecendo debaixo d’água?” Então, coloca os óculos especiais, daqueles que ajudam a enxergar até as formas mais estranhas da vida marinha. Mas o que aparece diante dos seus olhos provavelmente não vai deixar você muito animado. O fundo do mar está sim repleto de vida, mas você simplesmente não consegue entender o que está vendo. Seria animal, planta ou algum tipo de fungo? Esses seres vivos não têm braços, nem pernas, nem costas, nem cabeça, nada disso. Um paleontólogo reconheceria logo: “Essas criaturas são Piteridinium, uma das espécies mais representativas da fauna da de acarana. Elas realmente não tm boca, nem anos, nem nada que se pareçam com olhos ou antenas. Só dá para perceber que são compostas por três segmentos, cada um com padrão de faixas paralelas, tipo costelas. E o mais curioso é que essas criaturas primitivas são assimétricas. Aquilo que hoje a gente considera normal, assimetria, naquela época era, na verdade uma exceção. Os Piterinium viviam sempre em colônias e suas asas pareciam colchões de retalhos costurados. Seus corpos, parecidos com placas finas fincadas no fundo do mar, lembravam talos de plantas e podiam chegar até 1 metro de comprimento. Segundo os pesquisadores, eles não se moviam e obtiam seus nutrientes por fotossíntese ou absorção direta dos compostos presentes na água. É claro que para uma criatura dessas, uma minhoca pendurada no anzol não tem o menor apelo. Aliás, ela nem teria olhos para reconhecer uma minhoca, mesmo que quisesse. Por isso, dá para entender porque os cientistas criaram um termo separado só para esses seres organismos vendianos, que não são nem animais nem plantas. Na verdade, muitos dos seres desse período são tão estranhos que é quase impossível classificá-los com os critérios que nós usamos hoje. E de forma geral, tudo na era de acarana era diferente do mundo vegetal e animal que conhecemos atualmente. Vamos pegar, por exemplo, o Parvancorina, um ser achatado triangular de 1 a 2 cm de tamanho com uma protuberância parecida com uma âncora de navio. Esse bichinho, símbolo da fauna da época, lembra um minúsculo crustácio, mas não tem garras, nem olhos, nem antenas. Ainda assim, ele apresenta algo parecido com uma cabeça ou dentes na ponta do corpo. Outro exemplar igualmente bizarro é o Yorgia Vagoneri. Por muito tempo, os cientistas se perguntaram como esse disco achatado de 1 a 21 cm conseguia se mover pelo fundo do mar, sem braços, pernas, nem nadadeiras. Será que ele flutuava? Nadava até um ponto próximo ou será que pulava? Tanto Piteridinium quanto Yorgia tinham cavidades internas por onde absorviam água do mar, permitindo que crescessem de tamanho. Assim como a maioria dos seres da, o corpo do Yorgia também era assimétrico. Metade do disco estava ligeiramente deslocada em relação à outra. E aqui temos mais um habitante dessa época com um corpo que lembra uma minhoca. Trata-se do Esprigna, um verme primitivo de apenas 3 a 5 cm. Mas claro, não era uma minhoca de verdade e é bem possível que tenha sido um dos primeiros predadores da história da Terra. Podemos deduzir isso pelas placas que protegiam sua parte inferior. Esse adorável bichinho também não se encaixa claramente em nenhuma das classificações biológicas conhecidas. Não é fungo, nem animal, nem planta. Por isso, os pesquisadores decidiram colocá-lo com certa ousadia no grupo dos organismos vendianos. Já o de quinsia, esse sim pode ser classificado com confiança dentro do reino animal. Na verdade, traços deixados por essa criatura revelaram a presença de colesterol, o que comprova sua natureza animal. Mas só dá para saber isso por análises modernas. Olhando, ninguém diria. O de Konia é um animal redondo e grande, com até 1,5 m de diâmetro, coberto por padrões ondulados, repousando suavemente sobre uma folha de água flutuante. Mas se logo abaixo dele há uma camada espécie nutritiva de alimento, por que ele se moveria? Se o corpo inteiro já consegue absorver nutrientes, por precisaria de uma boca? Os animais com boca só começaram a surgir mais tarde, já no final da dearana, como é o caso do Cloud Nidai. Esse molusco tinha uma cavidade parecida com uma boca, provavelmente usada para devorar outros seres vivos. Ou seja, a história sangrenta da natureza já tinha começado há muito, muito tempo. E no final da era de Acarana surgiram criaturas ainda mais evoluídas. Pela primeira vez apareceram seres com pernas. E quem inaugurou essa nova era o Ilingia Spiceformes, um animal com várias perninhas que conseguia se sustentar em pé. Esse pequenino foi o primeiro ser da história do planeta a caminhar pelo fundo dos mares do Elm Proterozóico. Mas criaturas como essa acabaram sendo o começo do fim para as camadas nutritivas do fundo do mar e acabaram fechando o caminho evolutivo para um estilo de vida totalmente diferente. Se esses animais nunca tivessem aparecido, talvez o mundo hoje fosse dominado por preguiçosas criaturas gosmentas que apenas absorvem nutrientes pela pele inteira. E é difícil imaginar que uma criatura assim pudesse desenvolver inteligência. Até existem fantasias com essa ideia, mas não parece algo que um dia vá se tornar realidade. As criaturas terrestres de Ediakara. A pescaria nos mares de Ediakara foi um verdadeiro fracasso. Então, será que uma caçada em terra firme traria uma presa mais decente? Infelizmente, a resposta é ainda pior. Nesse período, simplesmente não havia nenhum ser vivo habitando a superfície da Terra. Afinal, como é que alguma criatura terrestre poderia surgir logo depois de uma era glacial que cobriu quase todo o planeta por milhões de anos? Só no final do período proterozóico, durante a era de Acarana, é que o planeta começou finalmente a se aquecer de forma significativa. Esse aquecimento foi o que impulsionou o florescimento da vida nos oceanos. Mas mesmo assim, nenhum ser vivo ousava ainda dar o primeiro passo rumo à Terra Firme. E mesmo nesse clima mais quente, sabe-se que pelo menos duas grandes eras glaciais ainda ocorreram. A glaciação Gaskers, que durou 340.000 anos, entre 579,88 e 579,63 milhões de anos atrás. e a glaciação Bike Nuriana, que se estendeu por 6 milhões de anos, de 547 a 541 milhões de anos atrás. Ou seja, é hora de desistir da ideia de caçar por aqui. Parece que essa nova pequena viagem no tempo vai acabar sendo uma baita decepção, né? E para piorar, começou a esfriar de verdade. Mesmo no auge do verão, as temperaturas do lado de fora aqui em Ediacara não passam dos 17ºC. Além disso, até um som parece meio apagado, sem brilho. O ar está pesado, tá ficando difícil de respirar. Você começa a se sentir zooso como se estivesse com falta de oxigênio. Talvez seja melhor desmontar a barraca e voltar pro seu tempo. E olha, essa seria uma decisão bastante sensata. O ar em diakara era mais rar efeito e sua composição era completamente diferente da atmosfera atual. Havia muito mais gás carbônico e o nível de oxigênio nem chegava a 15% do que temos hoje. Mesmo assim, o viajante do tempo ainda deu sorte. Se tivéssemos caído apenas 200 milhões de anos antes disso, não conseguiríamos nem respirar nem por um minuto sem uma máscara de oxigênio. Naquela época, o nível de oxigênio na atmosfera era inferior a 1% do que temos hoje. Em relação ao gás carbônico, a situação só começou a melhorar nos momentos finais do proterozóico. Isso porque durante a era glacial anterior, sucessivas erupções vulcânicas despejaram grandes quantidades de CO2 na atmosfera. No fim do período criogeniano, a concentração de dióxido de carbono era mais de 350 vezes maior do que a atual. Essa abundância de CO2 causou um forte efeito estufa, provocando um aquecimento global acelerado. E foi graças a isso que, por um breve período durante a era de Acarana, a Terra teve ar respirável. Mas no fim das contas não deu para fazer nenhuma caminhada tranquila, beirando um rio ou uma praia. Até porque, vale lembrar, nessa época ainda não existiam rios. Mas então o que existia final? Existiam apenas marés muito mais violentas e extremas do que as de hoje. Foi também no final da era de Acarana que o supercontinente Panótia, localizado próximo ao Equador, começou a se fragmentar. Esse imenso continente cercado por oceanos primitivos acabaria se dividindo durante o período cambriano, dando origem à Gonduana, a Sibéria e a Laurência. A partir de Gonduana, lá no período jurássico, começariam a se formar os continentes que conhecemos hoje, Eurásia, África e as Américas. Ou seja, a geografia de Ediaar não tinha absolutamente nada a ver com a atual. Mesmo que você tivesse um mapa do mundo moderno, ele seria completamente inútil para se orientar por aqui. Mas se tivesse em mãos um bom mapa do super continente Pania, aí sim ele até que ajudaria por algum tempinho. No final das contas, os organismos vendianos só existiam nos oceanos que rodeavam esse supercontinente. E quando ele se partiu, esses seres únicos na história da Terra também foram desaparecendo. É triste, mas parece mesmo que um Homo Sapiens moderno jamais teria qualquer chance de sobreviver na era de Acarana. Não havia comida nem a suficiente e nem precisa falar em internet ou ar- condicionado. Mas ainda assim essa foi uma era decisiva na história da vida, o momento em que surgiram os primeiros seres multicelulares da Terra. Nos três bilhões de anos anteriores a isso, o que existia era um silêncio glacial desesperador, rompido apenas pelo rugido de tsunamis e o estrondo das erupções vulcânicas. E se você gostou desse vídeo de hoje, não esquece de se inscrever no canal, deixar o seu like e compartilhar em suas redes sociais. Muito obrigado, pessoal, de coração e até a próxima. Um forte abraço e até lá. Ciao. Ciao.