SÃO PAULO ESTÁ MAIS VIOLENTA? FT. CORONEL TELHADA | #ACHISMOS HISTÓRIAS #30
1Houve um fortalecimento muito grande do crime.
O criminoso hoje no Brasil ele age à vontade. Ele não tem medo de agir porque ele não
teme mais a lei. A lei no Brasil hoje, infelizmente, ela está totalmente desvalorizada
e desacreditada. O bandido não teme a justiça. [Música] [Música] Meu nome é Paulo Adriano
Lopes, Lucinda da Telhada. Sou coronel aposentado da Polícia Militar. Sou
normalmente conhecido como coronel Telhada. Sou casada há 40 anos com a Ivânia, pai de
dois filhos, do Rafael, que é capitão também da Polícia Militar, que é deputado estadual, da
Juliana, que é advogada, casada com o capitão da Polícia Militar também, e sua avô de quatro netos,
crianças maravilhosas, né? Eu ingressei na Polícia Militar com 17 anos em 1979. Na Polícia Militar
eu servi durante 33 anos. Servi na maior parte do tempo, sempre no patrulhamento nas ruas de São
Paulo. Fui da Rádio Patrulha, fui do patrulhamento tático móvel, que eles chamam de força tática
BAEP. Hoje fui da rota das rondas sensívivas Tobias de Guária, onde eu fui tenente. Depois,
no final da minha carreira eu comandei o batalhão Tobias de Aguiar, onde tem a rota e me aposentei
na rota. Eu estou aposentado desde 19, desde 2011. Nossa, já 13 anos já, 13 anos de aposentado. E
após esses anos aí eu fui convidado, entrei na vida política, né? Fui vereador em São Paulo, fui
deputado estadual por 8 anos, fui deputado federal e agora eu estou trabalhando com sendo subprefeito
de um bairro aqui de São Paulo, que é a Lapa. Sou subprefeito da Lapa. Eu ingressei na Polícia
Militar com 17 anos, em janeiro de 1979. Eu eu tenho uma coisa desde pequeno, desde criança, eu
sempre me me entusiasmei com a área militar. Eu quando tinha 7 anos de idade, eu já sabia o que eu
queria fazer. Eu não sei porque desde criança eu eu me identifico muito com as histórias da Segunda
Guerra Mundial. Desde crianças eu sempre li muito sobre isso, via muitos filmes. Então, quando eu
entrei na escola, eu falei: “Eu vou ser militar”. Naquela época a Polícia Militar não existia
ainda. Nós tínhamos duas forças estaduais, a guarda civil de São Paulo e a força pública
de São Paulo. Meu pai é a guarda civil. O coroamento de todas as atividades da Guarda
Civil Metropolitana Mostradas está na participação no desfile de 7 de setembro de 1989. entuzias. Em
68, 69, quando eu tinha 7 anos, eh eu fui com o meu pai num desfile da Guarda Civil lá no no Vale
do Aangabaú. Eu não lembro se era 7 de setembro, eu não lembro se era aniversário, eu lembro que
era um desfile onde a Guarda Civil desfilou e eu vendo aqueles homens desfilando, eu falei pro
meu pai, eu quero ser militar. Ele ainda falou que é isso, largaram e besteira. Mas eu tive
sempre na minha vida e assim foi. Eu estudei em escola pública, na minha época de de criança.
Haviam muitas poucas escolas. particulares era uma coisa muito difícil e muito cara. E eu como
filho de policial, o policial nunca ganhou bem, meu pai não era exceção. Estudava muito, eu sempre
fui muito muito estudioso. E consegui em 1979, 78 para 79, ingressar na Academia de Polícia
Militar do Barro Branco, no curso preparatório de formação de oficiais. Lá eu fiquei 5 anos,
estudei na escola militar durante 5 anos, me formei, servi no interior de São Paulo,
em Lorena, no Vale do Paraíba e depois vim trabalhar justamente no bairro da Lapa. Foi
meu primeiro batalhinho em São Paulo, onde eu comecei a minha carreira sempre trabalhando
na rua, sempre no policiamento. Fui pra rota, paraas rondas ostensivas Tobias de Aguiar, onde eu
fiquei uma boa parte da minha carreira, bem como na tropa de choque. Eu na realidade quando eu tava
na escola militar, meu pai era do trânsito e eu também queria ir pro trânsito que eu achava bacana
o trânsito na época era o o primo rico da polícia, né? Tinham as melhores viaturas, as os melhores
quartéis que eram casarões alugados. Então a gente como jovem vi aquilo com entusiasmo, mas quando
eu tava no último ano de academia, eu fiz já no trânsito e me desesperei. Não era aquilo que
eu queria. Aí eu fiz est numa viatura de tático móvel lá na freguesia do Ó, no 18º batalhão.
E aquela noite foi uma noite sinistra, foi uma noite que nós trabalhamos muito, entramos em
muitas favelas, prendemos muita gente e eu falei: “Eu quero ser policial de rua”. E fui. E o seu pai
teve qual reação quando você decidiu que seria? Na realidade, quando eu falei para ele que
eu havia passado na na escola de oficiais, eu fui até o quartel dele, cheguei lá todo
animado, eu e meu irmão mais novo, esse meu irmão mais novo hoje é primeiro sargento aposentado. E
eu fui todo animado no quartel para contar para ele que eu tinha passado na escola de oficiais,
que eu seria depois de formado tenente da polícia, achando que ele ficaria todo orgulhoso, né? E
quando eu cheguei no quartel, bati palma, entrei, ele apareceu, o que que foi? todo preocupado.
Eu falei: “Não, pai, eu vim contar para você que eu passei na escola de oficiais, né, que eu
vou entrar na Polícia Militar”. E aí os colegas deles, os que estavam próximo, soldados, cabos,
sargentos, começaram a zoar com ele. Aê, talhada, seu filho vai mandar em você. Você é soldado,
seu filho vai ser tenente, você vai ter que pedir permissão. Brincadeira de tropa. Nossa, meu pai
ficou muito nervoso com isso. Me botou para fora do quartel, eu e meu irmão colocou a gente para
for, você vem aqui para me humilhar, tal. E aquilo me causou uma estrza muito grande, porque eu nunca
tinha visto aquela atitude, né? Não sei se foi enciumado, não sei se foi, não sei. Mas depois
ele sentia muito orgulho por eu ser oficial. Ele falava para todo, aliás, quando ele me apresentava
depois de formado, né, ele não me apresentava como filho dele. Ó, esse aqui é o tenente telhado.
Esse aqui é o capitão telhado. Depois, finalmente, quando era, ó, esse aqui é o coronel telhado, não
era o filho dele, né? Então ele sentiu orgulho, mas no começo foi um pouco difícil. Você sente
que mudou muita coisa dentro da polícia da época que você começou para hoje em dia? Ah,
mudou muita coisa. Polícia para quem precisa. O mundo mudou muito nos últimos 30, 40 anos. Eh,
e a Polícia Militar não é exceção. A polícia em geral não é exceção. Eu entrei na Polícia Militar
quando nós tínhamos ainda chamado regime militar no Brasil, né? Era uma coisa mais séria. A polícia
era muito respeitada. Eu lembro de situações que às vezes é o cadete desarmado, né? A gente andava
fardado com espadinha, que é uma espada pequena do lado, que é uma é uma miniatura da armadura
oficial. Você entrava no ônibus, você entrava no local, todo mundo já se se atentava porque você
havia entrado. Quantas vezes eu indo para casa no final de semana fardado dentro de ônibus, eu tive
que tomar atitude, prender gente, tirar gente para fora do ônibus, desarmado. E aquilo era uma coisa
normal. Você era simplesmente acatado porque havia um respeito muito grande pela figura do policial.
Ultimamente isso tá totalmente em desuso, não existe mais, né? A figura da autoridade no Brasil
não existe mais. Não é só em São Paulo, no Brasil o professor, os pais. Hoje, quando um policial
militar chega para resolver uma ocorrência, chega para prender alguém, para separar uma briga, tomar
uma atitude, muitas vezes ele é até hostilizado porque as pessoas não aceitam aquela figura do
policial. Então isso isso é uma característica atual. Dentro disso, houve um fortalecimento
muito grande do crime. O criminoso hoje no Brasil, ele se sente fortalecido para agir. Ele age
à vontade. Ele não tem medo de agir, porque ele não teme mais a lei. A lei no Brasil hoje,
infelizmente, ela está totalmente desvalorizada e desacreditada. Devido às últimas coisas que
aconteceram nos últimos anos, a nossa justiça, ela está desacreditada não só pela população, mas
principalmente pela criminalidade. O bandido não teme a justiça. O suspeito luta com os PMs e
continua tentando sacar a arma, mas é contido. Veja o momento quando um dos militares tira a
pistola que o bandido carrega. Ação acontece no coração da comunidade. O criminoso tenta
inflamar a população para atacar os PMs. Socorro! Por quê? Antigamente você prendia uma pessoa,
levava pro distrito, aquele indivíduo era o em flagrante. O policial fazia o depoimento,
ali, ele ficava preso um mês, um ano até ir para julgamento. No julgamento ele era condenado,
ia pra cadeia. Na época nós tínhamos o Carandiru, que era uma uma coisa muito muito feia,
muito horrível. Eu trabalhei no Carandiru, nas participei das rebeliões ali, era uma coisa
terrível. Graças a Deus aquilo acabou. Mas era o que tinha na época. Hoje o policial militar,
o policial civil, guarda civil, seja quem for, ele prende um criminoso e no outro dia a pessoa
é colocada em liberdade na audiência de custódia. Então, se o o bandido não acredita mais na lei,
se ele não acredita na lei, ele, é lógico que ele não acredita na polícia, né? Então, hoje o crime
cresceu muito. O bandido, entre aspas, é muito mais folgado do que na nossa época. Então isso
aí deixa a população numa situação muito ruim, encurralada, praticamente trancados dentro de
casa, a mercer do crime. Isso é muito ruim. Os detalhes da investigação que revelou
as exportações de toneladas de cocaína. Uma das regiões mais movimentadas e conhecidas no
centro da cidade de São Paulo, a Cracolândia. Os usuários de craque ordenados por traficantes. Na
minha época de criança, na minha época de jovem, a droga básica que existia no Brasil era maconha.
Falar que um cara, você falar que um cara era maconheiro era uma ofensa. Nossa, era uma ofensa.
Era todo mundo. Cuidado, fulano é maconheiro, tinha medo de chegar perto da pessoa. Porque
não havia cocaína? Eu não lembro de quando jovem ouvia a palavra cocaína ou sabia que
existia cocaína. Eu vim conhecer o que era cocaína depois que eu entrei na polícia, que em
algumas prisões a gente acabava aprendendo gente com cocaína. Eu lembro quando eu era tenente de
rota, eu era primeiro tenente. Isso em 80, 1988, 1989. Eu lembro que em Pirituba, uma vez num
patrulhamento, nós vimos um indivíduo suspeito, ele avistou a viatura, tinha muito disso, a pessoa
via a viatura e saiu correndo, pulou um muro, entrou numa casa, nós entramos atrás dele, aquela
casa não era dele. Quando nós entramos na casa, havia uma mulher com duas crianças e ele
sentado na cama com uma das crianças no colo, como se ele fosse o pai das crianças.
Aí nós chegamos, enquadramos todo mundo, a gente não sabia quem era quem. A mulher já
assustada, pelo amor de Deus, ele ainda mora aqui, já aprendemos o algema. E eu lembro que aquele
indivíduo, ele estava como na época com umas 300, 400 g de cocaína. Era um pacote, não era uma
coisa muito grande. E eu lembro que isso foi uma baita de uma uma cana na época, né? Eu lembro
que essa cana nós nem levamos pro distrito, nós levamos pra Polícia Federal. Por quê? Porque era
uma coisa fora da normalidade. 400 g de cocaína, era muita cocaína na época. Então, eh, foi, nós
fizemos essa prisão, levamos na Polícia Federal, esse indivíduo foi preso em flagrante pela Polícia
Federal. Posteriormente apareceu o craque, que foi a grande desgraça, o grande boom da desgraça na
vida do dos viciados, é o craque, né? Porque ele vicia com poder muito mais rápido e deixa a pessoa
numa dependência e numa numa degradação total, né? Quase no final da minha carreira, antes de eu
assumir a rota, eu comandei o sétimo batalhão. O sétimo batalhão, ele fica na Avenida Angélica,
no centro de São Paulo. Ele praticamente faz a área central de São Paulo. E a cracolândia,
então a famig gerada cracolândia pertencia ao sétimo batalhão, a minha área. E eu lembro,
eu e o meu motorista, o sargento Volpato, nós praticamente passávamos todas as noites dentro da
cracolândia. Então eu lembro que eu ficava até 7 horas, 7:30 dentro do quartel despachando a parte
administrativa. Quando era 7:30, 8 horas da noite, eu ia pra rua apoiar os patrulheiros. E
normalmente esse apoio era na região da cracolândia e lá eu vi coisas assim impensadas.
As pessoas não têm noção do que é uma cracolândia, porque você vê na televisão é uma coisa, você
estar lá dentro, você cheirar aquilo, você viver aquilo é outra realidade. E na cracolândia, eu vi
todos os tipos de de gente, a cracolândia não é feita de pessoas pobres, é feita de pessoas de
todos os níveis. As pessoas que estão lá estão numa pobreza, numa miséria desgraçada, mas vem
de muitas vem de famílias boas. Nós tínhamos de meninas de 10 anos, as senhoras de 70 anos na
rua compartilhando a miséria. E ali as pessoas se prostituíam por causa de R$ 5, R$ 10. Porque
com R$ 5, R$ 10 na época, não sei quanto tá hoje, mas você comprava uma pedra de craque. Lá nem
cachorro tinha, porque eles não cuidavam de si, eles não se alimentavam, eles não tinham onde
usar um banheiro, deitavam no chão. Quer dizer, se o cidadão não cuida de si, como ele vai cuidar
de um animal? Então esse problema das drogas é uma coisa muito séria. Ao longo desses anos vem só
aumentando. Cada vez drogas mais pesadas aparecem. Infelizmente o tráfego, ele entorpescente ele
é muito rentável, ele ele rende muito dinheiro e as leis não são suficientes para combater o
tráfico entorpescente. Eu entendo que o estado, entende estado, o município, estado e a federação
não tem políticas suficientemente adequadas para combater esse tipo de mal. Não adianta você
proibir e não adianta você deixar a pessoa na rua. As duas coisas são ruins. Você tinha que
tratar essas pessoas como pessoas doentes, porque elas são doentes. Lá nós temos vários egressos da
cadeia, várias pessoas que saíram da cadeia e elas vão pra rua, são bandidos, são criminosos, mas ali
eles estão doentes, eles precisam ser tratados. E eu entendo que entendo que o único tratamento
adequado para uma pessoa que tá numa situação de miséria, uma situação de rua, uma situação de
dependência total, é uma internação compulsória. Aquela pessoa tem que ser internada, mesmo que
ela não queira e ser tratada. Porque a pessoa ali, não adianta ela falar: “Eu não quero
ser tratado”. porque ela não consegue eh eh saber o que é errado ou certo e a pessoa
sofre muito com isso. E hoje nós estamos cada dia mais vendo esse problema, não só em São
Paulo, no Brasil, no mundo todo acontecendo. Foi presa nesta sexta-feira a dona de uma creche
particular filmada agredindo uma criança de 2 anos na Grande São Paulo. O assassinato da menina
Larissa Manuela, o padrasto da criança de 10 anos, confessou o crime. Na cidade de Imperatriz,
no Maranhão, um plano cruel, motivado por ciúme custou a vida de dois irmãos. Aos 7 anos,
Luiz Fernando ia bem na escola. Quando a gente é policial de rua, eu creio que toda ocorrência, por
menor que ela seja, ela te marca um pouco, ela te dá uma experiência, ela te ensina alguma coisa
boa ou má, por exemplo, coisas que você tem que evitar de fazer uma outra ocorrência ou coisas que
você tem que aplicar. Você está sujeito a pegar qualquer tipo de ocorrência, desde um homicídio,
de um tiroteio, de um incêndio, que você não é bombeiro, mas você acaba pegando incêndio. Um
acidente de trânsito, você não é policial de trânsito, mas você se depara com um acidente de
trânsito, você tem que agir. Você é policial, você não pode se negar a fazer nada. Tudo você tem
que fazer. A partir do momento que você não toma atitude numa ocorrência, você prevarica. É um
crime. Uma coisa que me marcou muito, eu lembro foi nos anos, nos anos 90, o meu filho, capitão
telhado, o Rafael, ele era uma criança ainda, ele devia ter 6, 7 anos. Eu lembro que eu tava
patrulhando com uma patrulhando com uma viatura de rota na época as veraneios, né, as famosas
veraneios, né? E nós estávamos subindo avenida de Taberaba, na freguesia do Ó, lá na na zona
norte de São Paulo, em um caminhão carregado de areia. Caminhão carregado de areia. tava subindo
a freguesia a Itaberaba. Em determinado momento, o motorista acho que não conseguiu engatar a marcha.
O camião voltou de ré. E no que ele voltou de ré, tinha uma banca de jornal com um senhor, um avô
na época e com o netinho dele do lado. O netinho tinha idade do Rafael, do meu filho, 5, 6, 7
anos. Eu lembro que o caminhão passou em cima do moleque. Nós entramos na avenida, o pessoal
tudo começou a dar sinal de mão. Nós fomos ver o que tava acontecendo. E eu lembro quando eu
desembarquei da viatura, o cidadão tava no chão sangrando o avô bem ferido. E o moleque sabe o
que é truque do camião? Tru são aquelas duas, os dois eixos traseiros. A gente chama de truque.
Caminhão que tem dois eixos traseiros é um camião trucado, né? O moleque tava esmagado debaixo
do truque, né? E quando você é pai ou mãe, você transfere aquilo paraos seus filhos. E quando
eu vi aquele menino esmagado ali, eu lembrei na hora do meu filho, né? Foi uma coisa que me marcou
muito. Socorremos o avô e nós o levamos pro pronto socorro da freguesia. Não sei. Ele, eu creio que
ele sobreviveu porque ele tava bem machucado, mas não creio que ele estava em ponto de de
morte, mas o menino tava morto ali embaixo. Então essa ocorrência me marcou muito. Eu acho
que ocorrência com criança marca muito a gente. Teve outra que eu era o comandante do sétimo. Eu
era eu era coronel comandante do sétimo batalhão 2008. mesmo como comandante, como coronel, eu
ia sempre pra rua. Eu, como eu falei para você, ia todo dia pra rua. E eu lembro que num dia nós
fomos numa ocorrência, chegou uma ocorrência pra gente de refém ali do lado da estação da
da luz. Tinha um cortiço ali, um prédio, um prédio invadido, se tornou um cortiço. E o
indivíduo havia invadido um um apartamento lá, foi cercado pela polícia, criminoso, armado,
e ele tava com uma criança como refém. E quando eu cheguei no local, o o apartamento,
o andar já estava cercado, né? O indivíduo já não tinha mais como fugir, mas a criança,
uma criancinha de colo, devia ter um ano, não sei se tinha um ano ou não. O tenente que
estava na ocorrência me formou, falou: “Olha, a criança que ele mantém como refém é filho dele,
era o filho dele. Ele havia brigado com a mulher, havia se separado, foi lá tirar satisfação com
a mulher, acho que brigaram novamente. Naquela briga, ele ele deu tiro, chamaram a polícia, a
polícia chegou, ele se trancou no apartamento e pegou a criança como refém, porque ele era
criminoso, então ele não queria, ele sabia que se ele se rendesse ele ia pra cadeia. E aí noss
dialogando, se entrega para, vamos, para com isso, é a polícia tal, não, se entrar vou matar, se
entrar vou dar tiro. E eu lembro que durante esse diálogo, enquanto ele dialogava, eu eu saí para
fora do prédio. É umas loucuras que a gente faz, né? pendurado na janela, eu saí para fora do
prédio e fui até a lateral do prédio e eu tinha, eu via quase de costa para mim com a criança na
frente e eu naquele momento eu tive o ângulo de tiro para acertar aquele indivíduo. Só que
aí vem a situação da dúvida do policial. Se eu atirasse naquele momento, pode ser que
eu acertasse de costas. Ó, policial maldito, atirou nas costas do indefeso. Você conhece a
história? Pode ser que eu acertasse a criança, porque seria pior ainda. Aí eu lembrei que era era
briga de marido e mulher. Quem ia depois falar que aquele cara era realmente perigoso? A mulher. Se
eu matasse aquele indivíduo, será que a mulher ia falar que ele era realmente perigoso? Não
sei. E eu não atirei no indivíduo. Eu tive uma oportunidade. Não sei se eu teria acertado ou não.
Não sei. Pode ser que eu tivesse errado. Pode ser que tivesse piorado alguma coisa. Mas eu resolvi
não atirar. Pá, tiro. Aí nós arrombamos a porta, já deu um tiro. Quando nós arrombamos a porta,
outro tiro. Segundo tiro. Quando nós entramos no local, ele havia dado um tiro na cabeça do
filho dele, bem aqui, na cabeça do filho dele. E o segundo tiro na cabeça dele. Ele se matou,
ele se suicidou. Aí nós pegamos a criança ferida, socorremos, não deu para tirar de vida porque
ele já estava morto. Preservamos o local. Criança foi socorrida, estado desesperador. Aí se
passou um mês, se meses, eu não lembro exatamente quanto tempo. Depois que a criança teve alta, eu
fui visitar essa família novamente no mesmo lugar, no mesmo, na mesma invasão. Cheguei lá fardado
visitar essa família. E eu lembro que eu cheguei lá, criança na cama totalmente largada porque
ficou em estado vegetativo. A mãe que já não tinha nada passou a ter mais problema que
cuidar de uma criança naquele estado, eh, remédio. E aquilo me incomoda até hoje, porque
talvez se eu tivesse atirado aquela criança estivesse bem hoje. Não sei nem se ela tá
viva ainda. Isso é a vida de um policial. Você tem que agir. Você pode ser bem-sucedido
ou não naquele momento. Não depende de você, né? Eu tive inúmeros tiroteios. Graças
a Deus, sempre acertei o bandido, nunca acertei o inocente. E se aquele dia eu tivesse
errado? Cologia eu vou mandar, eu vou mandar, mandar aí. Eu troco tiro, caba rep. É sem medo de
morer. Aqui é o P2C. Eu sou do crime organizado. Pode descer lá rota na capital de São Paulo.
O traficante está fugindo pela janela. Olha, Serginho, os policiais não param de atirar. Agora
tem outro traficante tentando escapar pelo lado esquerdo. Ele vai pular. Atenção, [Música]
antigamente o o criminoso, ele temia muito, como eu disse, a polícia e a justiça, porque ele
sabia que ele entrar em cana. O povo apoiava a polícia. Hoje o o bandido ele se sente mais à
vontade. Há um desprezo muito grande pela vida hoje, não só do criminoso, como da população
também. Você vê a população hoje ela para, passa de um lado, cara morto no chão, acidente,
todo mundo olha, ó, e vai embora e continua a vida normal não aconteceu nada. Hoje é uma despre
muito grande pela vida humana, ela ela perdeu o valor. É incrível isso, mas é a realidade. A
gente costumava falar: “Ah, São Paulo não vai virar um Rio de Janeiro”. Quantas vezes eu falei
isso em entrevista: “Enquanto a gente tiver aqui, São Paulo não vai virar um Rio de Janeiro.” Eu não
conheço a realidade do Rio de Janeiro. Eu conheço que a imprensa mostra. Não sei se é tudo verdade
ou não também tudo que acontece. O problema todo é a sensação de segurança. A comunicação ela é muito
rápida, seja pela internet, seja pela televisão. Quando você mostra um estupro que acontece na Vila
Madalena, o cara que tá lá no Amazonas, ele fica com medo. Então dali em seguida passa um roubo,
dali em seguida passa um incêndio, dali em seguida passa. Então, o número de ocorrências que você
apresenta para um cidadão que tá dentro de casa é muito grande e aquilo impacta sobre o cidadão,
causa uma sensação de insegurança. Não sei se você já teve essa oportunidade e você que é do Rio,
eu que sou de São Paulo, mas quando a gente vai no interior do estado, parece os lugares bem mais
afastados, você falou: “Vai lá em casa me visitar, vai tomar um, vai Deus me livre para São Paulo, lá
eles cortam o cabelo das mulher. Se eu for na rua, eles roubam a gente. Então, a impressão que a
pessoa tem que em São Paulo, só dele pô o pé na rua, ele vai ser assaltado. Nós temos problemas
inúmeros, mas só na cidade de São Paulo nós temos quase 13 milhões de pessoas. A cidade de São Paulo
é maior que muito país por aí. Então o número de problemas é muito grande, é tudo proporcional.
Nós temos lugares com maior propensão de roubos, nós temos horários que são inadequados para você
andar sozinho na rua. Tudo isso você tem que ter a cautela como cidadão, não de São Paulo, mas de
uma grande metrópole. Toda a grande metrópole tem esse problema, mas sim, hoje o número de
ocorrências é elevado. Eh, São Paulo tá muito pior ou muito melhor que o Rio, acho que tá igual,
cada um dentro das suas características. O Rio de Janeiro tem uma característica muito forte,
que é a característica geográfica do morro. Aqui em São Paulo nós não temos esses morros,
mas nós temos pontos onde nós temos uma maior criminalidade. E é lógico que esses pontos
também avançam paraa área de comércio, pra área de turismo e acaba trazendo muito problema de
de desordem urbana e de criminalidade pro local. E o que acontece quando você tem um um aumento
de criminalidade, quando você tem uma justiça que não pune adequadamente, você vai ter um incentivo
para que esses crimes continuem ocorrendo. A gente precisa rever o papel da justiça, a gente precisa
rever o papel da polícia e a gente precisa rever o papel do cidadão, porque o cidadão contribui
para isso também. as pessoas com celular na mão na rua. E eh as pessoas hoje quando elas estão
com celular, elas estão totalmente apáticas, elas perdem a realidade do que está à volta
delas. E eu tenho muito essa oportunidade que eu andei não só em viaturas ou a gente anda em
viatura. Por exemplo, se você entra num calçadão, você entra com uma viatura de polícia, então você
tem que ir buzinando, dando toque pr as pessoas. Tem pessoa que tá andando na rua no celular, você
encosta a viatura atrás dela, a pessoa não vê viatura, não ouve o motor e quando ela olha para
trás, vê a viatura, ela toma um susto, ainda fica brava. Agora eu te pergunto, se a pessoa não vê
uma viatura que é uma que é uma viatura grande, é um carro grande, ela vai ver o criminoso agindo?
Não vê o o famoso roubo que é muito comum em São Paulo hoje. Nós temos um problema em São Paulo
hoje com roubo de celular, que são as bicicletas. Acho que todo mundo sabe o que que é isso, né? Aí
a turma fala: “Por que a polícia não faz nada?” Porque não pode. Primeiro lugar, o cidadão com
a bicicleta, o menino, normalmente menino é um menor de idade, já é protegido pela lei. Se ele
for um maior de idade, vamos supor que ele seja um maior de idade, vamos supor até que ele seja
um criminoso com várias passagens na polícia. Eu, policial militar, eu vejo aquele indivíduo, eu o
abordo. Tudo bem, tá o documento. Você tem pass, tem o Sim, senhor. Tem roubo, tem se tá tudo
bem. Eu não posso fazer nada. Ele tá andando de bicicleta. Andar de bicicleta não é crime.
Ah, mas ele vai roubar sim. Mas eu, policial, dentro da lei, não posso fazer nada. Eu não posso
prendê-lo, eu não posso conduzi-lo, eu não posso fazer nada. Aí a partir do momento que ele age e
rouba, aí sim a polícia tem que agir. Só isso já é uma situação complicada para se entender, para
explicar pro cidadão. Ele tá com uma bicicleta, o que que acontece? Ele vai pela calçada, ele entra
no meio das pessoas, ele entra em rua contramão. Se o policial tiver com uma motocicleta, ele pode
até se arriscar, perseguir essa mot essa essa bicicleta, ainda correndo o risco de atropelar
alguém. É uma situação delicada e os criminosos sabem disso. Infelizmente ainda uma boa parte
do país, uma boa parte da sociedade ainda vê o criminoso como uma vítima, o que não é. Eu eu não
sei da sua vida, mas eu creio que vocês aqui que estão aqui no estúdio são pessoas como eu, que
vieram de família simples, que estudaram para chegar onde estão, que trabalharam, que trabalham,
sai de manhã, come marmita, volta, tem filhos, terão netos. Nós somos pessoas que trabalham.
Nós tivemos oportunidade que todo mundo teve, que alguns colegas nossos tiveram também, mas não
quiseram levantar cedo, não quiseram trabalhar. Vítimas somos nós que trabalhamos, que pagamos
impostos, que criamos nossos filhos e procuramos ser pessoas corretas. Nós somos as vítimas. O
criminoso não é vítima. O criminoso ele é o algó. Ele é o culpado de de repente numa ocorrência
o policial matar alguém. Eu sempre falo: “Ah, a polícia mata”. A polícia não mata, a polícia
se defende. A opção de morrer é do criminoso. Ele que faz a opção de sair armado de casa. Ele
que faz a opção de fazer um roubo. Ele que tem opção de atirar ou não na polícia. A partir daí,
eu tenho que me defender. Eu fui baleado duas vezes. Eu sei o quanto dói. Carreguei muita alça
de caixão e amigos, policiais, motoristas meus. E sei o quanto é duro você chegar para uma mãe, para
uma esposa, entregar a bandeira na mão da pessoa, falar: “Olha, eu sinto muito pela morte do seu
filho, do seu marido, do seu pai”. Só quem fez isso para saber. Não existe bandido vítima. vítima
é o cidadão, vítima é o trabalhador. trabalhador. [Música]