Veja, Capricho, Super… Como Tudo Isso Acabou? | A História da Editora Abril
0você pode nunca ter comprado uma edição da Veja talvez nunca tenha lido uma Capricho nem tenha se deixado levar pelas aventuras da Super Interessante Mas se você cresceu no Brasil especialmente entre os anos 70 e os anos 2000 a editora Abril de alguma forma impactou a sua vida Ela estava no consultório médico na sala de espera do dentista na casa da sua avó nas bancas de jornal da esquina Nas escolas era comum ver alunos com páginas de revistas coladas nos cadernos para os trabalhos Nas casas as publicações da Abril dividiam espaço com a Enciclopédia Barça Nas prateleiras as coleções da Disney Nas conversas durante o almoço de domingo os temas polêmicos da Veja Ela foi uma formadora de pensamento comportamento e cultura no Brasil por mais de meio século Eu sou a Beatriz Sales e seja muito bem-vinda ao VP Capital E o mais impressionante é que tudo isso começou com um pato Sim um pato Um certo pato Donald importado diretamente dos Estados Unidos que desembarcou nas bancas brasileiras em julho de 1950 e deu início a um império editorial que mudaria para sempre a forma como o brasileiro consome informação e entretenimento Mas o que fez a Abril ser tão grande como ela se transformou na editora mais influente da América Latina ao ponto de desafiar governos lançar tendências formar gerações e por fim entrar em colapso após o domínio do digital Neste vídeo a gente vai mergulhar na incrível e turbulenta história da editora Abril Uma jornada que envolve idealismo ambição sucesso absoluto poder midiático crises financeiras polêmicas reinvenções e claro uma pitada generosa de nostalgia Prepare-se para revisitar capas que marcaram época bastidores que nunca vieram à tona e entender por mesmo com todas as transformações do mundo moderno o nome Abril ainda carrega peso memória e impacto Porque a história da editora Abril é também a história do Brasil [Música] Antes de se tornar o magnata da comunicação Víctor Civita era apenas um imigrante com sonho e uma boa dose de ousadia Nascida em Nova York em 1907 filhos de italianos Víctor cresceu entre três mundos o europeu o americano e mais tarde o latino-americano E foi essa mistura cultural que moldou sua visão de negócios seu faro editorial e sua obstinação em apostar em algo que para muitos parecia absurdo Criar uma editora de revistas no Brasil no final dos anos 40 Naquela época o país ainda era essencialmente rural com uma taxa de analfabetismo altíssima e uma população urbana muito menor Revistas era um produto para poucos mas Victor via algo que ninguém mais via Um Brasil em transformação uma classe média ascendente e uma população jovem e curiosa por cultura pop ciências histórias e principalmente diversão Foi então que ele teve uma ideia inusitada trazer os personagens da Disney pro Brasil O pai já conhecia Mickey e companhia mas de forma esparsa e muitas vezes pirata Victor queria fazer diferente Queria trazer a autenticidade americana com qualidade gráfica tradução profissional periodicidade garantida e o mais importante com licença oficial da própria Walt Disney Company Para isso ele teve que convencer ninguém menos do que o próprio Walt Disney e conseguiu Em 1950 nascia a Editor Abril e sua primeira publicação seria Um Marco a revista O Pato Donald com tiragem inicial de 35.000 exemplares O nome abril veio de uma editora italiana Hitzoli que usava esse nome para publicações saionais e que Victor gostava pela sonoridade leve positiva e universal O sucesso foi instantâneo O pato Donald se tornou um fenômeno entre as crianças e adolescentes da época Era algo novo colorido divertido regular Rapidamente a Abril começou a lançar outros títulos com personagens da Disney Mickey Zé Carioca Tio Patinhas Em pouco tempo as bancas de jornal se tornaram vitrines encantadas para a imaginação Mas a abril não parou por aí Victor não queria apenas entreter ele queria informar educar e formar Ele sabia que o Brasil tinha um enorme potencial para se tornar um mercado editorial de peso e começou a planejar sua expansão O que poucos sabiam na época é que aquele homem apaixonado por tinta papel e ideias estava fundando um império que influenciaria toda uma nação O Pato Donald foi só o [Música] começo Nos anos 50 a editora Abril já havia provado que sabia falar com as crianças brasileiras mas Víctor Sivita queria mais Ele acreditava que a empresa tinha o dever e a oportunidade de ir além do entretenimento O Brasil estava mudando rapidamente urbanização acelerada industrialização crescente e uma classe média cada vez mais ávida por informação consumo e status Era o cenário perfeito para uma nova etapa da abril a entrada no mundo das revistas informativas E foi nesse momento que nasceu a quatro rodas em 1960 Muito mais que uma revista sobre automóveis ela foi uma das primeiras publicações brasileiras a unir jornalismo serviço e estilo de vida Quatro rodas não apenas mostrava carros mas os testava comparava criticava Ela tratava o leitor como consumidor consciente e exigente e não como espectador passivo O sucesso foi imediato e abriu as portas para um novo posicionamento editorial da Abril Mas o verdadeiro divisor de águas viria em 1966 com o lançamento da realidade Pouco lembrada pelas novas gerações realidade foi uma revolução silenciosa no jornalismo brasileiro Inspirada na Life Americana ela nasceu com a proposta de ser uma revista mensal de grandes reportagens mergulhando fundo em temas como política sociedade cultura comportamento e até sexualidade em plena ditadura militar e fazia isso com uma linguagem moderna ousada visualmente poderosa Era provocadora sensível às vezes até poética Foi em realidade que o país viu pela primeira vez reportagens com narrativa literária fotos em página dupla entrevistas sem retoques e uma aposta corajosa no jornalismo investigativo Era mais do que uma revista era um espelho do Brasil ainda que rachado às vezes desconfortável mas necessário A equipe da realidade formou uma geração inteira de jornalistas editores e repórteres que mais tarde ocupariam cargos de liderança na imprensa nacional Ela foi uma espécie de escola editorial onde o jornalismo deixou de ser apenas transmissão de fatos e passou a ser vivência de histórias Nesse mesmo período a abril começava a explorar novos segmentos revistas femininas infantos juvenis científicas e culturais Víctor Civita estava montando aos poucos um verdadeiro ecossistema editorial um universo em que a Abril era capaz de acompanhar um leitor dos 5 aos 75 anos de idade da infância com Giibis da Disney à adolescência com a Capricho a juventude com a super interessante a maturidade com a Veja e Exame A Abril não publicava revistas ela criava referências de vida E por trás de tudo isso existe uma filosofia clara: qualidade gráfica periodicidade rigorosa conteúdo relevante e um profundo respeito pela inteligência do leitor Era essa a fórmula que transformava revistas em hábitos e leitores em fiéis seguidores Na virada para os anos 70 a Abril já não era mais apenas uma editora de sucesso Ela era uma instituição nacional e estava apenas começando sua era de [Música] ouro Se os anos 50 e 60 foram de construção e consolidação os anos 70 e 80 foram o auge absoluto da editora Abril uma época em que ela se tornou sem exagero a principal referência da imprensa brasileira uma espécie de globo das bancas E o nome por trás dessa transformação ainda era o mesmo Victor Sivita que com olhar estratégico e apetite por inovação guiava a Abril como maestro de orquestra Em 1968 em meio à tensão política da ditadura militar nasce a revista que viria ser o símbolo máximo do poder editorial da Abril a Veja Inspirada pela Time News Week Americanas Veja chegou com uma proposta ousada ser o principal semanário de notícias do país e conseguiu Com reportagens profundas capas impactantes e colunistas afiados a revista se transformou rapidamente em leitura obrigatória para políticos empresários estudantes professores e formadores de opinião Mais do que informar Veja passou a influenciar Ela pautava os debates públicos criava personagens e em muitos momentos decidia o tom da conversa nacional Suas capas viravam debates nas salas de aula nas reuniões de trabalho nas rodas de amigo combinando jornalismo investigativo com uma narrativa direta e acessível Veja foi por décadas um verdadeiro termômetro do Brasil mas o domínio da Abril ia muito além da política Em 1961 a editora havia lançado uma revista voltada para o público feminino que com o tempo se tornaria referência absoluta A Cláudia pensada inicialmente como um guia prático de culinária moda e cuidados domésticos Cláudia evoluiu Com o tempo passou a discutir sexualidade independência carreira e maternidade de um jeito inédito Ela falava com a mulher brasileira em um momento em que quase ninguém falava e fazia isso com respeito leveza e inteligência Cláudia não apenas acompanhou o empoderamento feminino ela ajudou a promovê-lo Para muitas mulheres era a única fonte de informação confiável sobre temas como autoestima saúde mental contracepção e mercado de trabalho Era uma revista que ouvia compreendia e refletia as transformações da mulher brasileira E veio aí a Exame Em 1967 Se veja falava com o cidadão e Cláudia com a mulher Exame mirava o executivo o empreendedor o investidor Era a revista que explicava a economia de forma prática direta e sem jargões excessivos Ela antecipava tendências analisava movimentos de mercado trazia perfis de grandes empresários e cobria temas globais com uma lente brasileira Exame transformou o modo como o brasileiro médio via o mundo dos negócios tornou-se leitura obrigatória para quem queria entender o cenário econômico ou simplesmente parecer bem informado em reuniões corporativas O resultado desse tripé veja Cláudia e Isame foi um domínio quase absoluto das bancas mas a abril não parava por aí Nos anos 70 e 80 a editora diversificou ainda mais o seu catálogo Vieram a Placar futebol a nova versão brasileira da Cosmopolitan A Boa Forma A Saúde a Manquim e dezenas de outras A empresa passou a operar como um relógio suíço Equipes de jornalistas editores diagramadores fotógrafos tradutores e revisores trabalhavam de forma coordenada produzindo conteúdo de altíssimo nível com prazos rígidos e acabamento gráfico impecável Em seus tempos áureos a editora Abril era uma verdadeira fábrica de revistas capaz de lançar novos títulos com precisão cirúrgica identificar nícios de mercado e se antecipar as demandas do público O lema interno era claro: liderar ou não estar E liderava Nas décadas de 70 e 80 a Abril não era apenas uma editora era uma potência cultural uma autoridade moral uma voz quase incontestável na vida do brasileiro urbano e escolarizado Seus editoriais influenciavam decisões de governo suas reportagens ganhavam prêmios internacionais e seus produtos estavam presentes em praticamente todas as casas de classe média do país Víctor Sivita já então o nome lendário da comunicação brasileira assistia ao crescimento de sua criação com a serenidade de quem sabia que havia construído algo muito maior do que ele mesmo um império editorial sim mas também um pilar da cultura brasileira contemporânea E o mais incrível o melhor ainda estava por [Música] vir Durante os anos 80 e 90 a editora Abril não era apenas uma editora era uma usina de cultura Seus produtos não só informavam eles formavam O brasileiro lhe abriu para saber o que vestir o que pensar o que comprar o que ouvir o que cozinhar o que sonhar E essa influência se dava em múltiplas frentes das bancas de jornal à salas de aula passando por consultórios sala de estar e mochilas escolares A Abril foi pioneira na segmentação editorial no Brasil Ela entendia que o público não era uma massa homogênea mas sim um mosaico de interesses faixas etárias estilos de vida E foi a partir desse olhar que nasceram revistas que se tornariam verdadeiras instituições Uma delas foi a Capricho Embora tivesse nascido em 1952 como uma revista para adolescentes da elite paulistana foi nos anos 90 que ela encontrou sua verdadeira identidade a voz das adolescentes brasileiras Moda paquera autoestima dúvidas sexuais dramas escolares música pop ídolos da TV tudo era abordado com leveza humor e acima de tudo empatia A Capricho era como uma melhor amiga de papel uma espécie de oráculo emocional para milhões de meninas que se viam representadas talvez pela primeira vez nas páginas coloridas da revista Outro fenômeno foi a super interessante Lançada em 1987 ela nasceu como projeto experimental inspirada na espanhola muit interessante mas logo encontrou um caminho próprio Seu diferencial tornar ciência história tecnologia e curiosidades do mundo acessíveis visuais e empolgantes A Super falava com o jovem curioso o ner da escola o leitor casual o adulto entediado e conseguia encantar a todos Era a única revista onde você podia aprender sobre buracos negros Dinossauros inteligência artificial sociedades secretas Tudo isso na mesma edição com linguagens simples infográficos criativos e um texto que parecia conversar com o leitor A Super Interessante transformou o conhecimento em entretenimento e criou uma legião de fãs que esperavam ansiosamente por cada nova edição Em 2001 a Abril também conquistou uma geração com a Mundo Estranho uma espécie de irmã mais jovem da Super voltada para perguntas bizarras listas curiosas e conteúdos que iam do esquisito ao perturbador sempre com aquele tom irresistível de você sabia que era a revista perfeita pro adolescente inquieto provocador cheio de perguntas mas não eram só jovens que tinham vez A Abril também era dona de títulos como Boa Forma que promovia um novo estilo de vida baseado em bem-estar e saúde antes mesmo do termo fitness ser popular e de revistas como saúde é vital manequim viagem em turismo arquitetura e construção entre tantas outras cada uma com seu público cativo seu universo temático e sua linguagem própria E havia ainda um braço editorial que tocava diretamente a memória afetiva de muitas famílias brasileiras as publicações colecionáveis Na década de 80 e 90 as coleções da Abril viraram mania nacional Enciclopédias temáticas coleções de história universal guias de culinária dicionários ilustrados coleções sobre o corpo humano informática animais arte As bancas se tornaram centro de distribuição de conhecimento acessível e bem produzido As pessoas montavam pastas completavam volumes trocavam edições repetidas Era quase um ritual e uma forma de ascensão simbólica para muitas famílias Ter uma coleção completa da Abril na estante era um sinal de prestígio A Abril também teve um papel fundamental na educação informal de milhões de brasileiros Muitas escolas usavam textos e reportagens das revistas em suas aulas Professores recortavam imagens alunos colavam em cartolinas Era um conteúdo tão bem produzido que ultrapassava seu propósito original E não podemos esquecer da linha de revistas Disney que continuava forte mesmo com a chegada dos anos 80 e 90 Além dos clássicos como Mickey Tio Patinhas e Zé Carioca a abril publicava quadrinhos de heróis Marvel mangás e adaptações de séries animadas Tudo com alta qualidade de impressão tradução cuidadosa e regularidade exemplar Na prática a editora Abril consegui estar presente em todas as fases da vida do brasileiro da infância à maturidade da curiosidade escolar ao consumo consciente das descobertas do corpo às ambições profissionais Ela moldou gostos comportamentos linguagens fez gerações lerem fez milhões se apaixonarem pelo papel pela informação pela ideia de que aprender pode ser divertido E por muitos anos parecia que essa influência jamais teria [Música] fim Durante décadas a editora Abril foi sinônimo de sucesso editorial Tudo que ela tocava parecia se transformar em ouro Seus títulos dominavam as bancas suas capas viravam referência Suas equipes editoriais eram formadas por alguns dos profissionais mais respeitados do mercado Mas o mundo como sempre mudava e a abril que sempre esteve um passo à frente pela primeira vez ficou para trás No final dos anos 90 e início dos anos 2000 a internet começou a ganhar força no Brasil Ainda devagar ainda limitada mas com um potencial transformador evidente Sites de notícia em tempo real blogs pessoais fóruns de discussão redes sociais tudo começava a tomar forma O acesso à informação estava deixando de ser uma exclusividade dos grandes grupos editoriais e a forma de consumir conteúdo estava mudando drasticamente A abril tentou reagir criou portais investiu em presença digital lançou versões online de suas principais revistas mas a transição foi lenta e em muitos casos reativa demais A cultura corporativa da Abril moldava ao longo de décadas no modelo impresso com prazos longos planejamento milimétrico e estruturas hierárquicas Não se adaptava facilmente ao ritmo frenético caótico e experimental da web Enquanto isso o público migrava primeiro aos poucos depois em massa Os leitores começaram a trocar as bancas pelos sites Os adolescentes deixaram de comprar capricho para seguir influenciadores no YouTube Os executivos abandonaram a exame por newsletter especializadas Os curiosos trocaram a super interessante por canais no TikTok e podcasts E mais importante ninguém mais queria pagar por informação A abril como outras gigantes da Mia impressa viu sua receita despencar A publicidade que sustentava boa parte do modelo de negócios migrou para o digital mas não para ela Os anúncios agora estavam no Google no Facebook no Instagram e a concorrência antes restrita a outras revistas e jornais passou a incluir qualquer criador de conteúdo com o celular na mão A editora tentou resistir reduziu tiragens aumentou preços fechou títulos menos rentáveis começou uma verdadeira guerra interna por costos Redações inteiras foram desfeitas revistas icônicas encerradas sem cerimônia Funcionários com décadas de casa foram demitidos Os corredores ant vibrantes da sede na Marginal Pinheiros em São Paulo começaram a esvaziar Um símbolo do declínio foi o fechamento da revista Capricho Impressa em 2015 Por anos ela havia sido líder absoluta no público adolescente Sua morte não foi apenas editorial foi emocional Era como se uma geração inteira estivesse sendo oficialmente desligada da imprensa tradicional Pouco tempo depois outras baixas se seguiram: mundo estranho VIP boa forma placar Um a um os títulos foram caindo e não apenas pelas transformações tecnológicas mas por decisões corporativas erros estratégicos e uma certa resistência em acertar que o mundo que consagrou a abril já não existia mais A editora que já foram uma das empresas mais desejadas para se trabalhar no Brasil começou a aparecer em reportagens por motivos bem diferentes Demissões em massa dívidas acumuladas atrasos em salários processos trabalhistas O império que antes dava as notícias passou a ser notícia por sua queda No campo editorial a qualidade caiu Com equipes em chutas prazos cada vez menores e menos investimento as revistas remanescentes perderam profundidade As versões digitais muitas vezes não conseguiam manter o padrão das edições impressas e também não geravam receita suficiente para sustentar a operação Enquanto isso novos veículos digitais ocupavam o espaço com mais agilidade linguagem atualizada proximidade com o público e custos muito mais baixos A abril se tornava pouco a pouco uma gigante cansada tentando correr em uma pista feita para velocistas digitais A chegada da segunda década dos anos 2000 não trouxe alívio pelo contrário as finanças da empresa se deterioraram rapidamente e em 2018 veio que muitos temiam operação judicial uma manobra para tentar evitar a falência reestruturar dívidas e manter as operações mínimas mas o estrago já estava feito A Abril que durante tanto tempo ditou as regras do jogo agora tentava sobreviver em um mundo que ela mesma ajudou a construir mas não conseguiu dominar [Música] Para quem acompanhou o auge da editora Abril era difícil acreditar no que estava acontecendo A empresa que um dia fora sinônimo de excelência inovação e liderança absoluta no mercado editorial brasileiro agora estampava as páginas dos jornais como símbolo de decadência corporativa O começo do fim teve vários sinais Um deles foi a saída progressiva da família Civita o clã que fundou e comandou a abril por mais de meio século Após a morte de Víctor Civita em 1990 seu filho Roberto Civita assumiu o comando com a mesma ambição do pai mas enfrentando um cenário completamente diferente Roberto era o entusiasta do jornalismo sério e de longa duração e tentou manter o padrão de excelência que transformou a Veja numa referência latino-americana Mas o mundo estava mudando rápido demais Quando Roberto faleceu em 2013 a família perdeu seu principal articulador E foi nesse momento que começaram os movimentos mais delicados a busca por investidores externos a venda de ativos e finalmente a entrega do controle da abril pro mercado financeiro Agidas eram gigantescas com fornecedores funcionários bancos governos As receitas publicitárias despencavam a circulação das revistas minguava mês após mês e a estrutura inchada cara e antiquada se tornara insustentável Em 2018 veio o golpe mais duro a recuperação judicial um passo drástico que simbolizava não apenas um problema contábil mas o colapso de uma cultura corporativa que por muito tempo acreditou ser imbatível No início do ano seguinte o grupo Abril foi vendido ao empresário Fábio Carvalho um investidor especializado em reestruturações de empresas em crise A promessa era salvar a Abril modernizá-la e fazê-la voltar a crescer Mas por trás dos discursos otimistas a realidade era brutal A abril estava quebrada A recuperação judicial foi acompanhada de cortes radicais dezenas de revistas encerradas centenas de jornalistas demitidos fechamento de departamentos inteiros venda de imóveis leilão de acervos O prédio icônico da Abril na Marginal Penheiros símbolo físico do poder editorial da empresa foi parcialmente esvaziado A Abril encolhia em velocidade assustadora A Veja outrora o carro chefe tentou se reinventar como revista digital mas perdeu espaço para concorrentes mais dinâmicos A Exame foi vendida A Cláudia que por décadas foi a maior revista feminina do país perdeu sua força editorial A super interessante ainda querida por muitos reduziu drasticamente sua equipe e periodicidade e outras como Playboy Mundo Estranho Capricho simplesmente desapareceram das bancas e da memória das novas gerações Mais do que uma crise financeira o que se assistia era o encerramento de um ciclo histórico Abril que por tanto tempo dominou a comunicação impressa brasileira não conseguiu fazer a transição para o mundo digital com a mesma genialidade que construiu seu império no papel Sua estrutura engessada sua resistência em abandonar modelos antigos e sua dificuldade em dialogar com as novas linguagens da internet foram fatais Além disso os novos donos da abril passaram a ser criticados por estes funcionários e analistas do mercado por uma gestão focada demais na rentabilidade de curto prazo sem investir de fato em conteúdo inovação ou na valorização do capital humano A ideia de salvar a abril se perdeu em um processo de enxugamento que para muitos soou mais como desmonte E assim uma a uma as colunas que sustentavam o Império Abril foram ruindo O que antes era uma máquina de produzir conteúdo para todas as idades classes e interesses tornou-se uma operação reduzida com poucos títulos sobreviventes e com uma marca que embora ainda tenha peso histórico já não dita mais o rumo da cultura e da informação do país Mas apesar do fim melancólico a história da Abril ainda ecoa Sua influência foi tão profunda que até hoje se vê sua marca na formação cultural de milhões de brasileiros Jornalistas que começaram ali seguem ativos Desarnegráficos que passaram pelas revistas da casa hoje comandam agências e projetos digitais Ex-leitores por sua vez carregam um senso crítico uma bagagem de curiosidade e um respeito pelo impresso que nasceu ali nas páginas da Abril O fim de uma era sim mas também um legado inapagável [Música] Depois da tempestade da queda dos cortes e do silêncio editorial que se abateu sobre muitos de seus títulos uma pergunta inevitável ficou no ar O que restou da editora Abril a resposta à primeira vista pode parecer simples Restaram algumas revistas poucas como Veja Cláudia Super Interessante e Quatro Rodas que ainda circulam agora com tiragens reduzidas e versões digitais adaptadas aos novos tempos Restaram algumas marcas nomes poderosos que carregam décadas de história e que ainda despertam respeito no mercado E restou um esqueleto de uma gigante uma operação mais enxuta focada em menos títulos tentando manter alguma relevância no cenário cada vez mais dominado por mídias sociais influenciadores e veículos ativos digitais Mas o verdadeiro legado da abril vai muito além do que ainda está nas bancas ou nos sites O que restou da abril está espalhado pelo país em forma de memória coletiva Está no acervo das escolas públicas que usaram suas revistas como material complementar Está nas casas de família onde coleções completas de facículos ainda ocupam instantes com orgulho Está nas lembranças de quem esperava ansiosamente a nova edição da sua revista favorita no fim de semana Está nas conversas de quem aprendeu questionou descobriu e até se apaixonou com uma ajuda de um conteúdo que vinha impressa em páginas cheirosas e bem diagramadas A Abril deixou um rastro de formação cultural profundo Ela ajudou a consolidar o hábito de leitura no Brasil popularizou temas que antes pareciam distantes ou inacessíveis: política economia ciência comportamento educação sexual feminismo saúde mental sustentabilidade ajudou a construir vocabulário repertório olhar crítico Ela criou referências visuais e editoriais que moldaram o design gráfico e o jornalismo impresso nacional Pioneira na forma de apresentar infográficos na diagramação limpa nas reportagens e estilo literário no cuidado com a fotografia editorial Seu padrão virou modelo seu estilo virou escola Profissionais que passaram pela abril levaram sua marca pro mercado inteiro Grandes nomes do jornalismo da publicidade da comunicação e do entretenimento foram formados ali Para muitos trabalhar na abril era o ápice da carreira Era onde se aprendia como fazer jornalismo de verdade com rigor ética e apuro técnico Mesmo nos bastidores a editora funcionava como uma espécie de universidade informal da imprensa brasileira Mas há também outro tipo de legado aquele que fala mais de sentimento do que técnica Porque para quem viveu a era de Ouro da Abril suas revistas não eram apenas produtos eram companheiras de vida Um número da Capricho podia ser um marco na adolescência de alguém Uma edição da Super podia ter despertado uma vocação científica Um editorial da Veja podia ter acendido uma consciência política Uma receita da Cláudia Cozinha podia ter virado tradição de família Uma coleção sobre o corpo humano podia ter sido a primeira enciclopédia de um filho E se você quiser se tornar aluno da UVP para começar a entender melhor esses movimentos de mercado olha só vai lá agora entra aí a.com.br clica aqui nesse botão faça sua análise de perfil Que que é isso aqui é só um formulariozinho onde você vai me responder algumas perguntas sobre você sobre as suas intenções para ver se a gente tá alinhado Por quê porque na UVP a gente tem um sistema diferente dos outros A primeira coisa é que você tem as suas aulas ao vivo direto comigo mesmo Você tem acesso à comunidade você tem acesso a uma plataforma de investimentos com taxas diferenciadas Você recebe cashback em todas suas negociações Então você vai ter acesso a uma plataforma ah aqui eu estaria ganhando X de spread lá que o BTG ia me pagar No caso vai direto para você A gente não cobre isso de você na UVP né então você recebe o cashback de todo investimento que você faz Isso aí cara tem aqui na gente muito legal Você recebe acesso a essa plataforma você recebe acesso a todo o ambiente de aulas ao módulo avançado que a gente lançou agora né a gente tem várias coisas tudo gratuito para você que se torna aluno E aí o que que eu faço aqui para ter certeza que faz sentido para você entrar na UVP porque depois você vai pode pedir o dinheiro de volta né então para ter certeza eu pego esse formulário você vai conversar com um especialista ser humano mesmo o cara vai lá trocar uma ideia com você ou uma pessoa vai trocar uma ideia com você vai entender os seus objetivos falar: “Cara estamos alinhado para caramba” É isso aí Então a gente tá bem alinhado faz sentido para você entrar na UVP e aí você entra e vai ser um prazer para mim te ensinar a investir no Brasil e no mundo inteiro A Abril estava presente nos ritos de passagem do brasileiro urbano de classe média E mesmo para quem não lia ela estava no ambiente no imaginário Sua presença era tão forte que bastava passar o olho numa banca para saber havia uma nova capa da Veja uma nova edição da Mundo Estranho uma nova coleção imperdível chegando Hoje com o declínio das bancas a transição pro digital e a multiplicidade de fontes de conteúdo essa centralidade se perdeu O mundo mudou as pessoas mudaram os hábitos mudaram e a Abril que por muito tempo ditou hábitos não conseguiu acompanhar esse ritmo Mas o que ela deixou é tão sólido tão entranhado na memória cultural do país que ainda reverbera ainda é sentido ainda é lembrado com saudade com respeito e às vezes com lamento silencioso de que tem acabado do jeito que acabou Porque mesmo com todos os erros excessos e tropeços a editora Abril foi uma das maiores forças culturais do Brasil contemporâneo Uma potência editorial que ousou sonhar alto que revolucionou a forma de produzir e consumir informação que moldou gerações e que até hoje continua viva mesmo que agora mais como legado do que como [Música] presença A editora Abril não acabou de uma vez Ela não foi destruída por um incêndio nem soterrada por uma crise súbita O que aconteceu foi mais silencioso e talvez mais cruel Ela foi desaparecendo aos poucos deixando de estar nas bancas depois nas mochilas depois nas conversas Um sumisso gradual quase imperceptível mas inevitável E o que fica disso tudo talvez o fim da abril tal como conhecíamos não seja só o fim de uma editora Talvez seja o fim de uma era o fim de um tempo em que as pessoas paravam para foliar uma revista sentir o cheiro do papel descobrir o mundo entre páginas bem diagramadas Um tempo em que a informação chegava com periodicidade e não com a urgência de notificações incessantes Um tempo em que a espera por uma nova edição fazia parte do prazer Mas seria justo chamar isso de fim ou seria mais honesto encarar como transformação o mundo continua contando histórias Hoje por meio de vídeos curtos podcasts newsletters redes sociais plataformas de stream a narrativa continua viva talvez mais do que nunca A diferença é que agora ela é fragmentada distribuída acelerada E nesse novo cenário o papel perdeu espaço mas a necessidade de boas histórias continua sendo essencial A editora Abril ensinou o Brasil a contar histórias e mais do que isso ensinou milhões de pessoas a entender essas histórias a procurar mais a duvidar a se informar a pensar Isso não desaparece com o fim de uma revista Isso continua em cada leitor que aprendeu a buscar fontes comparar versões interpretar o que lê e o que vê Por isso talvez a pergunta mais importante não seja porque a Abril acabou mas sim o que a Abril deixou em nós deixou gosto por conhecimento deixou um olhar atento sobre o mundo deixou inspiração para jornalistas designers escritores professores e sonhadores que passaram por suas páginas se sim e tudo indica que sim então a missão foi cumprida E agora cabe a nós reinventar as formas de continuar essa tradição de contar novas histórias de formar novas gerações de leitores criadores e pensadores A tecnologia muda os meios mudam mas o que permanece é a vontade de entender o mundo e de se ver refletido nele A editora Abril pode não ser mais a gigante que foi mas sua história ainda pulsa nas páginas guardadas nos arquivos digitais nos corações nostálgicos e principalmente na cultura que ajudou a construir E talvez só talvez este não seja o fim das revistas apenas o começo de uma nova forma de virar páginas