VIDAS (NEGRAS) IMPORTAM | AS GRANDES MINORIAS (EPISÓDIO 3)
0O novo mundo foi descoberto na primeira expedição de Cristóvão Colombo, no ano de 1492. Rumo ao desconhecido, a tripulação enfrentava mares nunca antes navegados. A bravura daqueles que tinham apenas a fé como ferramenta de navegação foi recompensada com a marca de seus nomes na história. Nas décadas seguintes, o continente viu seu território ser habitado por europeus, que estabeleciam suas colônias no novo lar. Naquela época, os trabalhos rurais eram a ocupação de quase toda a população comum. A Revolução Industrial demoraria mais dois séculos para acontecer. E para fazer o trabalho pesado do campo, escravos foram trazidos da África. Em 1619, desembarcava na Virgínia um barco com os primeiros africanos traficados para as colônias britânicas. A mercadoria com aproximadamente 19 homens foi roubada de um navio negreiro português que estava indo para o Brasil. Não há cifras exatas, mas estima-se que mais de dez milhões de escravos foram arrancados da África para construir a América. Revoltados com os impostos e com os desmandos da coroa britânica, um grupo de intelectuais, empresários e militares se uniram para tornar realidade o sonho de criar sua própria nação. O sentimento de independência brotava no coração dos americanos. Em 1776, os pais fundadores da nação fizeram a sua declaração de independência. Na carta escrita por Thomas Jefferson e assinada por todos presentes, consta o princípio de que todos os homens são criados iguais, dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, entre eles estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Mas na prática, havia uma contradição: parte da população não foi considerada como pessoa humana, e sim como propriedade. Mesmo com o fim da escrividão, o tratamento igual aos homens não era realidade nos Estados Unidos. O racismo e a segregação deixavam marcas profundas numa sociedade dividida por leis. Entre os anos de 1877 e 1964, diversos estados, tanto do Sul quanto do Norte, promulgaram as leis Jim Crow, que exigiam a criação de espaços e instalações separadas para brancos e negros em todos os locais públicos. Em 1896, a Suprema Corte americana julgou constitucional as leis de segregação, incorporando o conceito “separados, mas iguais” na sua doutrina. Escolas, filas de espera, vagões de trem, banheiros públicos, restaurantes, hospitais, igrejas e cemitérios. A nação novamente se dividia. Nos anos 50, iniciaram as tentativas de acabar com as leis de segregação no país. Enfrentando forte resistência da classe política, só foram aprovadas na década seguinte. Aos poucos, formaram-se grupos que lutavam pelo fim das leis de segregação e pela concessão de plenos direitos civis para todos, independente de sua raça. A resistência se dividia em dois métodos: os pacifistas, liderados por Martin Luther King, e os violentos, liderados por Malcolm X. Os confrontos entre manifestantes e a polícia eram constantes. Em um dos protestos, King foi preso pela polícia. Em 1968, dois atletas americanos fizeram o gesto do punho fechado nas Olimpíadas do México. O movimento representava apoio ao grupo Black Panthers. Revoltados com a segregação e a violência policial, o Partido dos Panteras Negras foi fundado em 1966 por dois estudantes universitários marxistas. Radicalizando seu discurso, seus membros começaram a fazer justiça com as próprias mãos. No ano seguinte, o grupo lançou um manifesto com 10 objetivos. Dentre eles, estava a libertação imediata de toda população carcerária negra. A adesão ao Black Panthers chegou no seu auge em 1970, com escritórios em 68 cidades e milhares de membros, mas começou a decair na década seguinte. Seus membros foram presos por outras atividade criminosas, como tráfico de drogas, extorsão e brigas internas, que fizeram o movimento quase se extinguir. A segregação racial foi banida das leis americanas, mas a violência policial, uma das pautas do movimento, ganhava destaque especial. Nos anos 70 e 80, os Estados Unidos tinham um problema que não podia mais ser ignorado: a criminalidade. Os números de assassinatos, estupros, agressões, roubos de casas e carros atingiram patamares nunca antes vistos pelos americanos. Em 2008, um momento histórico ocorreu na eleição de Barack Obama. A Casa Branca, ora construída por escravos em 1792, era então ocupada pelo primeiro presidente negro da nação. Era a epítome da liberdade. Mas ao invés de diminuir as tensões e unir a nação fragmentada, foi no governo de Obama que os protestos contra a polícia e o racismo se intensificaram. Abordagens fatais, feitas pela polícia, fizeram ressurgir as mágoas do passado. Em 2012, George Zimmerman, segurança de um condomínio, atirou e matou um jovem negro de 17 anos após uma troca de tiros entre os dois. Zimmerman foi inocentado pela Justiça, que concluiu que ele havia agido em legítima defesa. Após a sentença, uma série de protestos tomaram diversas cidades americanas. Revoltada com a absolvição, Alicia Gazar fez uma postagem no Facebook com uma frase de efeito. Patrisse Cullors transformou o slogan em uma hashtag no twitter. Opal Tometi juntou-se ao grupo para criar as redes sociais do movimento. Assim era fundado o Black Lives Matter. As ações inicialmente despretensiosas das três mulheres ocultavam os reais responsáveis pelo movimento. Alicia, Patrisse e Opal pertencem à BOLD, Organização negra para liderança e dignidade, e foram treinadas para transformar a sociedade através dos movimentos sociais. A BOLD oferece programas de treinamento, coaching e assistência técnica, a fim de criar militância organizada para impactar na criação de leis e influenciar a opinião pública. O movimento ganhava mais força a cada notícia de violência policial que aparecia nos jornais. O caso mais recente que levou o movimento às ruas foi a morte de George Floyd. Após pagar fiança de um milhão de dólares, o policial acusado de causar a morte foi liberado. Os protestos que reuniram Antifa e Black Lives Matter são os mais custosos da história, somando mais de 1 bilhão de dólares em danos à propriedade. Alguns dos protestos foram em grandes avenidas e estradas, o que gerou uma série de atropelamentos e caos generalizado. Aproveitando a convulsão social, membros do Partido Democrata se utilizaram da tragédia como palanque político. A então candidata a vice-presidência, Kamala Harris, fomentou doações para um fundo que seria destinado a pagar a fiança de vândalos e manifestantes presos nos protestos. Entre os libertados após o pagamento da fiança, estavam pedófilos e estupradores. Mas parte da população não concorda com as ações e a ideologia do grupo. Revoltados com os ataques injustos à polícia, os termos “All Lives Matter” e “Blue Lives Matter” se tornaram slogans presentes em protestos contra a morte de policiais. Apesar do apelo identitário, muitos negros se mostraram contrários às políticas defendidas pelo Black Lives Matter. Nas redes sociais e na mídia alternativa, muitos se expressaram contra as pautas e ações do grupo. Outro fenômeno que ocorreu durante os protestos de 2020 foi a coerção de pessoas comuns a fazer o gesto do punho fechado. Assim como nas ditaduras do século XX, a intimidação é usada como arma de submissão à ideologia revolucionária. A radicalização do movimento Black Lives Matter junto com os Antifa chegou ao ponto de pedir a desmilitarização e o fim do financiamento da polícia. O prefeito de Nova York anunciou que vai cortar um bilhão de dólares do departamento de polícia. Ironicamente, o Conselho da Cidade de Minneapolis, que votou para diminuir o financiamento da polícia, contratou seguranças privados para sua proteção. Nos locais atingidos pelos protestos, o número de crimes aumentou radicalmente. Centenas de pessoas foram assaltadas, baleadas e mortas em cidades como Chicago, Baltimore, Los Angeles e Nova York. Mas nas cidades do interior dos Estados Unidos, a população armada protegeu suas casas e impediu que os protestos destruíssem as cidades. As pautas da desmilitarização e da extinção da polícia já foram correntes entre a burguesia e os movimentos sociais do Brasil. Tem que desmantelar a PM. Tem uma razão para essa selfie com PM me dar um pouco de aflição. É que ela sempre me pareceu um jeito de glorificar a morte. Esse é o caminho com que a gente começa a refletir que vai nos conduzir a proposta da desmilitarização. Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar! Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar! Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar! Não acabou!